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Fotos:@filipeaugustoeres |
Por Adelino Francisco de Oliveira
Da página Diário do Engenho
Ocupar o latifúndio do saber! Articulando recursos do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera) o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP), em parceria com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) está ministrando o curso de Pós-graduação em Trabalho Associado e Educação para Além do Capital no Brasil e na América Latina, na Escola Popular Rosa Luxemburgo, em Agudos-SP. Com docentes do IFSP, da Unesp e também do próprio MST o curso conta com cerca de 60 estudantes, todos, de alguma maneira, com vínculos com a questão agrária, oriundos de diversas regiões do Brasil.
Educação em Movimento! Com a pedagogia da alternância, equacionando o tempo escola e o tempo comunidade, a educação no campo tem se tornado uma realidade para muitos trabalhadores rurais. Na Escola Popular Rosa Luxemburgo o tempo escola, para além de aulas teóricas, tem se caracterizado como um momento singular de qualificada convivência e compartilhamento de muitos saberes. O ambiente de troca fraterna e solidária, marcado por uma intensa convivência cotidiana, inclusive entre monitores, discentes e docentes, imprime uma perspectiva nova, profundamente interativa e democrática, ao processo de ensino-aprendizagem e à construção coletiva do conhecimento.
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Todo momento de aula tem início com a mística |
Sensibilidade e mística! Todo momento de aula na pós-graduação em Trabalho Associado e Educação para Além do Capital no Brasil e na América Latina tem início com a mística, que cumpre também um papel formativo, apresentando e reforçando as concepções éticas que pautam o MST. A musicalidade, a contundência das letras cantadas, as palavras de ordem, a força dos símbolos, tudo convergindo para que o momento de mística se constitua como uma estratégia de formação ético-política, tocando e sensibilizando os participantes em uma dinâmica de metáforas vivas. Em uma história de longa duração, a mística não deixa de ser memória ressignificada das experiências históricas da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e das Comunidades Eclesiais de Base (CEB’s), fontes para a construção da Teologia da Libertação e hoje importantes referências para o MST.
O conhecimento é um bem coletivo! A concepção de que o aprendizado é uma tarefa sempre coletiva, bem como a própria construção do conhecimento, permeia toda a dinâmica do curso. Sob inspiração de Paulo Freire, quando ensina que “Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”, tal concepção pedagógica alcança um sentido histórico no decurso dos encontros na Escola Rosa Luxemburgo. A dimensão da dialogia, ousando romper com perspectivas hierarquizadas, fragmentadas e reducionistas do conhecimento, acaba por definir o contexto das abordagens, análises e debates no tempo escola. Essa visão pedagógica possibilita uma interessante e profícua interação entre todos os sujeitos participantes no curso.
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A educação é coletiva |
Conjuntura e realidade! Integra também a formação dos pós-graduandos uma abordagem de campo, na interação in loco com alguns trabalhadores rurais do Assentamento Rosa Luxemburgo. O diálogo direto com os assentados permite um mergulho na realidade local, subsidiando para uma compreensão coerente sobre os múltiplos desafios no campo. A percepção dos assentados sobre o processo da reforma agrária e também a identificação das urgentes demandas de políticas públicas, dando condições para que os trabalhadores possam permanecer na terra de maneira produtiva e sustentável, compõem-se como um momento forte na metodologia do curso.
Democratizar o acesso ao conhecimento! O Brasil, historicamente, se constituiu como um país profundamente injusto, com forte concentração das riquezas socialmente produzidas nas mãos de uma pequena elite econômica. Esta perversa realidade se reproduziu também no campo do conhecimento, que nunca foi socializado. Contrapondo-se a esta lógica histórica de exclusão, a pós-graduação Trabalho Associado e Educação para Além do Capital no Brasil e na América Latina contempla a perspectiva fundamental de garantir o acesso à educação no contexto rural. A educação no campo é um direito. O acesso ao conhecimento, que é um bem coletivo, desvela-se também como um importante instrumento de transformação social.
Adelino Francisco de Oliveira é professor no Instituto Federal de São Paulo, campus Piracicaba
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