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quinta-feira, 25 de novembro de 2021

Pandemia de Covid-19 fez óbitos crescerem 14,3% no Estado de São Paulo

 


Crescimento de óbitos no Estado de São Paulo acompanhou o crescimento de mortes naturais de idosos.
Ilustração: Adobe Stock

Crescimento acompanha o aumento de óbitos de idosos entre 60 e 89 anos

Por Filipe Augusto Peres

O ano de 2020, que marca a chegada da pandemia de Covid-19 no Brasil, teve cerca de 43.676 mil mortes a mais no Estado de São Paulo do que o ano de 2019. A variação é de 14,3 segundo os registros civis em cartórios. 

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

PT E PSOL: SEM O INTERIOR NÃO HAVERÁ VITÓRIA!

Uma análise da votação do PT e PSOL nas eleições 2018 para Deputado Federal e Deputado Estadual no Estado de São Saulo

Por Ailson Vasconcelos da Cunha
Ricardo Rodrigues Jimenez
para o Blog O Calçadão, 23 de novembro de 2021.


1. Introdução

Uma análise política realista e confiável precisa ser feita da extração de informações a partir de uma sólida base de dados. Dessa forma, olhando para o objetivo fundamental de derrotar o projeto tucano em São Paulo, que se repete por longos 27 anos, e substituí-lo por um projeto popular de desenvolvimento com inclusão social que com certeza passa pela formação de uma bancada forte, seja na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo seja na Câmara dos Deputado em Brasília. Assim, preparamos este estudo sobre o mapa eleitoral do PT e do PSOL no Estado nas eleições de 2018, para os cargos de Deputado Federal e Deputado Estadual, no sentido de construir um cenário que aponte caminhos para as eleições de 2022.

Para tanto, buscamos no repositório de dados do TSE e na base de dados da CepespData/FGV, o consolidado de dados da eleição de 2018 no Estado de São Paulo subdividido por mesorregião, uma classificação administrativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE.

De acordo com essa classificação, o Estado de São Paulo possui 15 Mesorregiões:

1.   Mesorregião de Araçatuba

2.   Mesorregião de Araraquara

3.   Mesorregião de Assis

4.   Mesorregião de Bauru

5.   Mesorregião de Campinas

6.   Mesorregião de Itapetininga

7.   Mesorregião do Litoral Sul Paulista

8.   Mesorregião Macro Metropolitana Paulista

9.   Mesorregião de Marília

10.               Mesorregião Metropolitana de São Paulo

11.               Mesorregião de Piracicaba

12.               Mesorregião de Presidente Prudente

13.               Mesorregião de Ribeirão Preto

14.               Mesorregião de São José do Rio Preto

15.               Mesorregião do Vale do Paraíba Paulista

Veja no mapa:

Figura 1: O Estado de São Paulo por Mesorregiões. Fonte https://www.baixarmapas.com.br/mapa-de-mesorregioes-do-estado-de-sao-paulo/

2. DADOS GERAIS

 


Tamanho do colégio eleitoral

O Estado de São Paulo é o maior Colégio Eleitoral do país, com mais de 33 milhões de eleitores aptos a votar em 2018, sendo que a Região Metropolitana de São Paulo corresponde a mais de 51% do colégio eleitoral do estado. Somada com a mesorregião Macro Metropolitana Paulista o tamanho chega a quase 58% do colégio eleitoral. Quando consideramos o tamanho dos colégios eleitorais que compareceram às urnas, a proporção praticamente não se altera.

Comparecimento

Ao analisarmos a taxa de comparecimento às urnas em 2018, observamos uma diferença entre as mesorregiões que variam entre 68% a 81%, sendo que a taxa de comparecimento no Estado de São Paulo foi de 78,5%. Vale observar que o comparecimento às urnas nas regiões metropolitanas foi maior que no interior do Estado.

Abstenção

A taxa de abstenção ficou em 21,5%, ou seja, o número de pessoas que não compareceram às urnas foi mais de 7 milhões de pessoas no Estado de São Paulo.

3. CARGO DE DEPUTADO FEDERAL

Brancos e nulos

Os votos brancos e nulos para o cargo de Deputado Federal somam mais de 4,6 milhões de votos, o que corresponde a quase 18% dos eleitores que compareceram às urnas, variando nas mesorregiões de 12,8% a 21,5%. É importante essa ressalva, pois um eleitor, que compareceu às urnas, pode votar para Presidente ou Governador e votar em branco ou nulo para Deputado Federal.

Válidos

Por fim, os votos válidos, votos nominais e em legenda, para o cargo de Deputado Federal no Estado de São Paulo no 1º turno em 2018 se aproxima de 21,3 milhões. A proporção dos votos válidos por mesorregião praticamente não se altera quando comparada com o comparecimento.

Quando analisamos o número de eleitores aptos a votar (33 mi) com o número de eleitores que efetivamente votaram para o cargo de Deputado Federal (21,3 mi) percebemos que quase 12 milhões de eleitores não votaram para esse cargo (35,5%), o que resultou em 64,5% de votos válidos. 


O PT teve pouco mais de 2 milhões de votos para o cargo de Deputado Federal, em um universo de 21,3 milhões, o que corresponde a 9,76% do total de votos válidos.

Região Metropolitana de São Paulo (1,31): de um total de 10,8 milhões de votos válidos, o PT obteve 1,4 milhão para deputado federal (12,8%). A região deu 67% dos votos para deputado federal do PT. Ou seja, de cada 3 votos dados ao PT, dois vieram da região metropolitana. O desempenho do PT nessa região foi 31% superior ao que ele obteve no Estado (é o que indica o Índice QL =1,31).

Araraquara (0,95) e Campinas (0,92): as únicas duas regiões fora da região metropolitana de São Paulo onde o PT manteve seu desempenho médio.

Marília (0,44), Bauru (045), São José do Rio Preto (0,50), Piracicaba (0,50): as mesorregiões de pior desempenho proporcional do PT para deputado federal em 2018 com desempenho igual ou menor que metade do desempenho no Estado.

Ribeirão Preto (0,57): dos 1,1 milhão de votos válidos, o PT recebeu pouco mais de 64 mil votos (5,6%). Um índice um pouco acima do das piores mesorregiões.


O PSOL teve pouco mais de 900 mil de votos para o cargo de Deputado Federal, em um universo de 21,3 milhões, o que corresponde a 4,30% do total de votos válidos.

Região Metropolitana de São Paulo (1,36): de um total de 10,8 milhões de votos válidos, o PSOL obteve 636mil para deputado federal (5,86%). A região deu 69% dos votos para deputado federal no PSOL. Ou seja, 7 em cada 10 votos dados ao PSOL, vieram da região metropolitana (o PSOL é ainda mais dependente da região metropolitana que o PT). O desempenho do PSOL nessa região foi 36% superior ao que ele obteve no Estado.

Araraquara (1,02): a única região fora da região metropolitana de São Paulo onde o PSOL manteve seu desempenho médio.

Araçatuba (0,29), Presidente Prudente (0,35), Assis (0,36), Litoral Sul (0,38), Marília (0,44), São José do Rio Preto (0,47), Bauru (0,50) e Itapetininga (0,51): as mesorregiões de pior desempenho proporcional do PSOL para deputado federal em 2018. Nessas regiões seu desempenho médio foi metade ou menos do que o partido obteve no Estado.

Ribeirão Preto: dos 1,1 milhão de votos válidos, o PSOL recebeu quase 30 mil votos (2,6%). Um índice um pouco acima do das piores mesorregiões.

4. CARGO DE DEPUTADO ESTADUAL



Brancos e nulos

O número de votos brancos e nulos para o cargo de Deputado Estadual foi de 4,9 milhões de votos, cerca de 300 mil votos a mais que para o cargo de Deputado Federal. Esse é um dado interessante, pois o eleitor que compareceu às urnas escolheu votar para deputado federal, mas se absteve de votar em deputados estaduais.

Válidos

O número de votos válidos para o Cargo de Deputado Estadual foi de 21 milhões (81% do total), quase 300 mil votos a menos que para o cargo de deputado federal. Esse número é 1,4% menor que o número de votos válidos para o cargo de Deputado Federal (21,3 milhões).

O PT teve pouco mais de 2 milhões de votos também para o cargo de Deputado Estadual, em um universo de 21 milhões, o que equivale a 9,6% dos votos válidos, um pouco inferior ao desempenho do partido para o Cargo de Deputado Federal (9,76%), sendo que foram quase 65 mil votos a menos.

Mesorregião Metropolitana de São Paulo: Novamente a mesorregião teve expressiva importância na votação do PT. Foram mais 1,3 milhões de votos, o que representou mais de 68% dos votos do partido para o cargo, muito embora, essa região represente cerca de 51% do colégio eleitoral do Estado. Ou seja, a distribuição de votos para o partido não ocorre de forma igual e proporcional às regiões. Novamente a votação do partido fica mais concentrada na RMSP. Essa expressiva votação pode ser enumerada pelo índice QL de 1,34 que indica que a votação nessa região foi de 34% maior que a média do Estado.

Araraquara (1,05): a única região fora da região metropolitana de São Paulo onde o PT manteve seu desempenho médio.

Marília (0,29), Bauru (0,42) e Piracicaba (0,52): as mesorregiões do Estado com o pior desempenho do PT para o cargo de Deputado Estadual.

O PSOL teve pouco mais de 906 mil de votos também para o cargo de Deputado Estadual, em um universo de 21 milhões, o que equivale a 4,30% dos votos válidos, o mesmo desempenho do partido para o Cargo de Deputado Federal (4,30%), sendo que foram quase 10 mil votos a menos. A proporção se manteve porque o número de votos válidos para Deputado Estadual foi inferior ao cargo de Deputado Federal.

Mesorregião Metropolitana de São Paulo (1,27): Novamente a mesorregião teve expressiva importância na votação do PSOL. Foram mais 582mil de votos, o que representou mais de 64% dos votos do partido para o cargo, muito embora, essa região represente cerca de 51% do colégio eleitoral do Estado. Ou seja, a distribuição de votos para o partido não ocorre de forma igual e proporcional às regiões. Novamente a votação do partido fica mais concentrada na RMSP. Essa expressiva votação pode ser enumerada pelo índice QL de 1,27 que indica que a votação nessa região foi de 27% maior que a média do Estado.

Macro Metropolita Paulista (1,21), Araraquara (1,13): São José do Rio Preto (1,03) foram as mesorregiões fora da região metropolitana de São Paulo onde o PSOL teve bons desempenhos, superiores ao desempenho médio.

Araçatuba (0,31), Assis (0,38), Litoral Sul (0,38), Marília (0,29), Bauru (0,41), Itapetininga (0,41), Presidente Prudente (0,48) e Piracicaba (0,50): as mesorregiões do Estado com o pior desempenho do PSOL para o cargo de Deputado Estadual. 

4. COMPARAÇÃO PT

Comparando o número de votos para o PT para os cargos de Deputado Federal e Deputado Estadual, o partido perde quase 65 mil votos (3%). No entanto, conforme mencionamos acima, o número de votos válidos para Deputado Estadual foi 1,4% abaixo que o número de votos válidos para Deputado Federal. Assim, podemos concluir que o PT perdeu proporcionalmente mais votos que os demais partidos.

Em quase todas as mesorregiões houve perda de votos sendo que os piores resultados foram na Mesorregião de Marília (-34%), Assis (-26%), Araçatuba (-25%).

Em números absolutos, as mesorregiões que perderam mais votos foram: Campinas (-22 mil) e Metropolitana de São Paulo (-18,5 mil).

Por outro lado, houve ganho de votos significativos em São José do Rio Preto (28%, mais de 11 mil votos), Araraquara (8%, quase 3 mil votos) e Piracicaba (2%).

Essas diferenças podem ter relação com chapas de políticos locais. Esses números também podem dar apoio a formação de dobradinhas e indicar ao partido onde fortalecer candidatos a Deputado Estadual. 

Comparando o número de votos para o PSOL para os cargos de Deputado Federal e Deputado Estadual, o partido perde mais de 8 mil votos (1%). No entanto, conforme mencionamos acima, o número de votos válidos para Deputado Estadual foi 1,4% abaixo que o número de votos válidos para Deputado Federal. Assim, podemos concluir que o PSOL perdeu proporcionalmente MENOS votos que os demais partidos.

As mesorregiões com maiores perdas percentuais de votos foram Piracicaba ( -22%), Itapetininga (-18%) e Bauru (-17%).

A Mesorregião Metropolitana de São Paulo foi a mesorregião com maior perda absoluta de votos (- 54mil).

Por outro lado, o PSOL conseguiu, em algumas mesorregiões aumentar muito seus votos para Deputado Estadual: Macro Metropolitana Paulista (mais de 25mil votos, aumento de 53%); São José do Rio Preto (mais de 19mil votos, aumento de 116%) e Presidente Prudente (mais de 2,6mil votos, aumento de 35%). 

5. Considerações

A partir dos dados, observamos que tanto o PT como o PSOL têm maior base eleitoral na Região Metropolitana de São Paulo, sendo que mais de dois terços dos votos de cada um dos partidos, em 2018, veio dessa região (independente do cargo em disputa, deputado federal ou deputado estadual). Além disso, o desempenho de ambos cai muito pelas mesorregiões do interior com algumas mesorregiões muito críticas cujo desempenhos dos partidos é menor que metade da média do Estado.

A única mesorregião do interior em que ambos os partidos se saem bem é a mesorregião de Araraquara e esse resultado merece melhor atenção. Uma possibilidade é a presença forte do prefeito de Araraquara, Edinho Silva (PT) o que indica que o prefeito pode sim ter grande influência nas eleições para deputados estadual e federal.

O PT teve, em 2018, pouco mais que o dobro do número de votos que teve o PSOL no Estado (e em praticamente todas as mesorregiões) em ambos os cargos. Ainda assim, a soma dos votos de PT e PSOL não chegou a 15% dos votos válidos nos cargos em questão. Logo, para a formação de uma bancada forte seja na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo seja na Câmara dos Deputados em Brasília, ambos partidos precisam melhorar esse número. Olhar para cada uma das mesorregiões pode ser um indicativo. Por outro lado, a Mesorregião Metropolitana de São Paulo também merece ser observada com maior atenção uma vez que ela sozinha concentra mais de 50% do eleitorado.

A partir dos cenários eleitorais para deputado federal e estadual do PT e do PSOL em 2018 é possível compreender que a esquerda só vencerá no estado de São Paulo quando conseguir aumentar os votos no interior. Como fazer isso?

Há alguns caminhos a se considerar:

1. Uma adequada política de alianças capaz de dar capilaridade em pequenos e médios municípios;

2. Fortalecimento dos diretórios municipais, com formação de quadros militantes capazes de conduzir o debate político em suas cidades e levar junto o programa partidário;

3. Melhorar o conhecimento sobre o interior e suas regiões. O interior não é homogêneo. Há diferenças importantes entre as mesorregiões: diferenças políticas, econômicas e culturais;

4. Avançar no diálogo com a juventude, com as mulheres e com população negra, setores do eleitorado que se destacam hoje nas pesquisas na rejeição a Bolsonaro, e com as periferias das grandes e médias cidades do interior como Campinas, Ribeirão Preto, Araraquara, São José do Rio Preto e outras que, apesar das diferenças, compartilham problemas sociais comuns.

Ou seja, a esquerda só vencerá em São Paulo se for capaz de olhar para o interior e construir massa crítica militante e de massa nas diversas regiões do estado.

domingo, 21 de novembro de 2021

Após liminar, SME exclui Gláucia Berenice de comissão e continua processo eleitoral do novo Conselho

Liminar foi obtida pelo Sindicato dos Servidores Municipais e suspendeu processo alegando violação da separação entre poderes

por Ailson Cunha
para o Blog O Calçadão, 21 de novembro de 2021.

A Secretaria Municipal de Educação, SME, publicou na sexta-feira, 19, portaria excluindo a vereadora Gláucia Berenice, DEM, da Comissão Eleitoral para escolha de novos membros do Conselho Municipal de Educação, CME. A Portaria 48/2021 foi publicada após uma liminar obtida pelo Sindicato dos Servidores Municipais de Ribeirão Preto que suspendia o processo enquanto a vereadora fizesse parte da comissão. A justificativa do sindicato foi que a participação da vereadora na comissão violava a separação entre poderes. A liminar também tornou sem efeito os atos até então praticados pela Comissão.


No mesmo dia, a SME anulou os atos de divulgação dos candidatos habilitados à eleição e retificou o Edital 03/2021 alterando os prazos. Com isso, a SME deu continuidade ao processo eleitoral. A eleição está marcada para os dias 29 e 30 de novembro.

A eleição a que se refere o Edital 03/2021 é relativa a 6 representantes, 3 dos profissionais do magistério e 3 representantes de pais. Ela ocorre após aprovação do Projeto de Lei do Executivo Municipal em setembro mudando completamente a composição do CME. O projeto foi bastante criticado pelos profissionais da educação, sindicatos, associações e até mesmo por membros do atual Conselho, mas ainda assim foi aprovado pela Câmara dos Vereadores em duas votações por 12 votos favoráveis e 9 votos contrários. Relembre o caso aqui.

sábado, 20 de novembro de 2021

O AMOR NÃO TEM COR, TEM OUTRAS QUESTÕES - Por Isabela Silva


Lembro da primeira vez em que ouvi essas palavras de Claudete Alves* no Programa Espelho, apresentado por Lázaro Ramos. Afinal, a solidão da mulher negra é mais do que um assunto velado na sociedade. Nós, que somos enxergadas como “o outro do outro", nas palavras de Grada Kilomba**, passamos despercebidas em afetos e direitos ao longo de nossa história.

Tal falta de reciprocidade, no entanto, não nos aflige apenas no sentido romântico. Não se trata de solidão, no singular, mas de SOLIDÕES. Nós, mulheres negras, além de não sermos compreendidas como “mulheres para casar” e constituir família, também não nos enxergamos nos espaços de poder, não estamos nas entrevistas de emprego mais cobiçadas, não predominamos no ensino superior e dificilmente diferimos das estatísticas que demonstram que mulheres negras são as mais atingidas pela desigualdade econômica, racial e de gênero.

Ao analisar mais de 1.400 casais inter e intrarraciais, Claudete verificou em sua pesquisa que homens negros que ascenderam econômica, intelectual ou artisticamente, escolheram, em sua maioria, parceiras não negras para constituir família. E que tal fenômeno não ocorreu apenas nos estratos em que o homem negro ascendeu, mas em todas as classes sociais, do centro à periferia de São Paulo.

No Brasil, a historicidade do homem negro o leva a negar sua fenotipicidade, fruto do racismo estrutural e de uma brutal violência contra nossos corpos, nossa ancestralidade e nossa cultura. Ainda sim, são as mulheres negras que, mais uma vez, são renegadas à solidão, aprofundando cicatrizes seculares.

Já as mulheres negras participantes da pesquisa escolheram, em sua maioria, parceiros negros para se relacionarem. Tal escolha não é apenas fruto da persistência dessa mesma historicidade que aflige homens negros – e que é brutal em relação às mulheres negras –, mas também pela resistência e luta pela reprodução de sua identidade étnico-racial.

Façamos o exercício da pergunta:

Você, homem branco e negro, quantas vezes já se relacionou com – não apenas por uma noite, mas escolheu como companheira – uma mulher negra? E você, mulher negra, quantas vezes já se relacionou com – não apenas por uma noite, mas escolheu como companheiro – um homem negro?

Certamente, a maioria dos homens tiveram poucas parceiras negras (embora o número seja maior entre homens negros) e, da mesma maneira, mulheres negras tiveram poucos parceiros – sejam eles brancos ou negros. Não há como avançarmos enquanto sociedade se não partirmos da mesma consciência, sem reconhecer e continuar negando a realidade. Sem uma atuação ativa em busca de conhecimento e novas práticas permaneceremos distantes: não travando as mesmas lutas e também não nos reconhecendo.

Enquanto mulheres brancas estavam lutando pelo direito ao voto e pelo direito de trabalhar, nós, mulheres negras, já trabalhávamos há séculos como escravas e lutávamos pelo direito de sermos livres. Apenas escrachando o racismo, reconhecendo seus privilégios e questionando reproduções sistêmicas em nossa sociedade poderemos avançar em direitos e afetos. Apenas reconhecendo o outro como igual, livrando-se de preconceitos, é que caminharemos na busca efetiva pela igualdade.  Tais atitudes, no entanto, não podem ser apenas discursos para encantar e ser encantado; devem ser atos cotidianos, com a reafirmação de novos valores para a sociedade como um todo.

Quanto a nós, mulheres negras, não esperaremos caladas, invisibilizadas e sozinhas por um futuro que não virá sem o tomarmos por nossas mãos! Nem mesmo as tentativas de apagar e negar as violências que nos acometem serão suficientes para nos silenciar e nos manter em sofrimento. Seremos as primeiras a ocupar ruas, Câmaras e todos os lugares que quisermos em nome de todas as Dandaras, Luanas, Marielles, Claudetes e Marias deste país que sonharam um mundo sem solidões e que nos reconhecesse como gente.


*Claudete Alves é mestre em ciências sociais pela PUC-SP. Foi vereadora de São Paulo por dois mandatos, autora do Projeto de Lei que instituiu o dia da consciência negra na cidade de São Paulo.

**Grada Kilomba é escritora, psicóloga, teórica e artista interdisciplinar portuguesa reconhecida pelo seu trabalho que tem como foco o exame da memória, trauma, gênero, racismo e pós-colonialismo.


Manifestação marca o Dia da Consciência Negra em Ribeirão Preto

Ato começou na Comunidade Nazaré Paulista e percorreu ruas da região exigindo o fim da violência contra a população negra e periférica e pedindo o Fora Bolsonaro.

por Ailson Cunha 
para o Blog O Calçadão, 20 de novembro de 2021.

Fotos: Ailson Cunha para o Blog O Calçadão

Hoje, Dia 20 de Novembro, Dia da Consciência Negra, manifestantes realizaram um protesto na periferia de Ribeirão Preto contra o presidente Jair Bolsonaro, pelo fim da violência contra a população negra e periférica, contra a fome que arrasa as famílias, por moradia digna, por saúde, educação e saneamento básico.

O Ato Nacional foi convocado pela Frente Fora Bolsonaro que reúne partidos políticos, movimentos sociais, movimentos sindicais e população em geral. Em Ribeirão Preto, o ato foi convocado pela Frente Democrática de Esquerda em conjunto com moradores de algumas comunidades da cidade. A concentração ocorreu a partir das 9h na Comunidade Nazaré Paulista.

O grupo saiu, por volta das 10h, em passeata pelas ruas da comunidade, passando por outras comunidades próximas, distribuindo panfletos e dialogando com as moradores e trabalhadores da região.

Diversas lideranças falaram junto ao carro de som para que o poder público olhe para as comunidades e populações periféricas exigindo seus direitos à saúde, educação, transporte público, saneamento básico e que não venham nas periferias somente de quatro em quatro anos pedir votos.

Para Juscilene Sena, líder comunitária e vice-presidenta da Casa da Mulher, é importante conscientizar a população sobre a defesa de moradias dignas, lembrando inclusive a campanha Despejo Zero Já, contra as desapropriações que ocorrem inclusive durante o período de pandemia desrespeitando uma decisão do STF.

Vídeo: Filipe Peres para o Blog O Calçadão

Bruna Silva, da Rede Emancipa, ressaltou a importância do ato na periferia como uma forma de resistência contra o genocídio da população negra e periférica.

Vídeo: Filipe Peres para o Blog O Calçadão

Neusa Paviato, da direção estadual do MST, lembrou que este ato é importante para denunciar as questões que envolvem as comunidades, em especial, o direito à terra e à moradia.

Vídeo: Filipe Peres para o Blog O Calçadão

O vereador Ramon Faustino, do coletivo Todas as Vozes, PSOL, lembrou que se trata de um dia de luta que se estende ao longo do mês contra uma série de violências que a população negra sofre diariamente.

Vídeo: Filipe Peres para o Blog O Calçadão

A covereadora Silvia Diogo, do Coletivo Popular Judeti Zilli, PT, lembrou que lutar pelo Fora Bolsonaro é uma luta por direitos da população negra.

Klicia, líder comunitária, lembrou que o ato é em prol das comunidades e pediu por urbanização e saneamento na comunidade. 

Mauro Inácio lembrou que a população negra está periferia e daí  a importância da realização deste ato hoje na Comunidade Nazaré Paulista.

Vídeo: Ricardo Jimenes para o Blog O Calçadão

A manifestação ocorreu de forma pacífica sem nenhum incidente. Em todo o trajeto contou com apoio dos moradores e terminou pouco depois das 11h.

Veja alguns registros do ato:

Fotos: Ailson Cunha para o Blog O Calçadão


















sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Audiência de Conciliação garante volta às aulas presencias com capacidade máxima a escolas que realizaram adequações apontadas por infectologistas

Audiência foi realizada na manhã desta sexta-feira


Escolas municipais que comportam alunos dos berçários, maternais e etapas I e II (4 e 5 anos) continuarão a funcionar com a capacidade reduzida a 50%

Foi realizada nesta sexta-feira (19) a Audiência de conciliação na 4a Vara do Trabalho de Ribeirao Preto entre o Sindicato dos Servidores Municipais de Ribeirão Preto, Guatapará e Pradópolis e a Prefeitura de Ribeirão Preto para discutir a volta presencial dos alunos com 100% da capacidade. 

Parlamento Juvenil realiza evento em Comemoração ao Dia da Consciência Negra

O evento aberto ao público contou com uma mesa redonda e roda de samba ao final

Por Ailson Cunha
para o Blog O Calçadão, 19 de novembro de 2021
Mesa de debates: Marcelo Domingos, Maria Vitoria, Silvany Euclênio e Adria Maria. Fotos: Allan Ribeiro.

   O Parlamento Juvenil realizou nesta quarta, 17, um evento em comemoração ao Dia da Consciência Negra que ocorre neste sábado, dia 20.

  O Parlamento Juvenil é um projeto da Câmara Municipal de Ribeirão Preto destinados a estudantes do Ensino Médio e funciona de modo semelhante ao da Câmara Municipal, com mesa diretora, comissões e sessões ordinárias e extraordinárias onde são votados os projetos de leis, requerimentos, indicações que, quando aprovadas, são enviados como sugestões aos vereadores. O projeto conta com assessoria do mandato Coletivo Popular Judeti Zilli com a assessora Fabiana Barbosa.

    O evento em comemoração ao Dia da Consciência Negra foi proposto pela Comissão Juvenil de Questões Culturais e Matrizes Brasileiras presidida pela parlamentar Maria Vitória Santos Belarmino, estudante do Ensino Médio da Escola Estadual Sebastião Fernandes Palma. Para a parlamentar, a cultura é extremamente importante para o desenvolvimento das pessoas e que é preciso valorizar cultura do país com base em suas origens, indígenas, africanas e europeias.  

    A mesa de debates contou com a participação Silvany Euclenio, Marcelo Domingos, Adria Maria e da parlamentar Maria Vitoria.

    Silvany Euclenio, professora de história e proprietária do canal Pensar Africanamente, falou sobre o racismo enraizado na sociedade brasileira e buscou apontar caminhos para a formação de uma sociedade antirracista.

    Marcelo Domingos, enfermeiro e doutorando em Saúde Pública, falou a representatividade preta nas universidades trazendo à tona o preconceito existente sobre as cotas raciais, uma vez que outros tipos de cotas, por exemplo, as cotas para filhos de fazendeiros em cursos agropecuários nunca causou controvérsia (poderíamos acrescentar nessa lista as cotas para os filhos de militares que inclusive o atual presidente fez uso recentemente em Brasília).

    Adria Maria, professora e covereadora pelo mandato Coletivo Popular Judeti Zilli, falou sobre a representatividade preta na política com destaque para as mulheres ressaltando os casos de violência que essas parlamentares vêm sofrendo no exercício do mandato.

    O evento contou com a participação dos parlamentares juvenis e foi aberto ao público. Também estiveram presentes a vereadora Judeti Zilli, do Coletivo Popular, e a vereadora Duda Hidalgo

E quem diria... teve samba na Câmara

    Para encerrar o evento com chave de ouro e exaltar a cultura do povo preto rolou um samba de mesa com Dudu no cavaco, Rey no pandeiro, Joãozinho no reco-reco, Cris no tantan e Devair no banjo. Os músicos fazem parte de um projeto chamado "Samba de Vela" que acontece toda quarta feira e tem um repertório voltado para o samba raiz. 

    Ao som dos músicos, a casa do povo teve uma roda de samba com os participantes. Se quem samba na beira do mar é sereia quem samba na Câmara é o que?


Instituto Território em Rede critica falta de transparência e diálogo em projeto de lei que pode condenar áreas de APPs

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