terça-feira, 28 de janeiro de 2020
domingo, 26 de janeiro de 2020
“Sociedade que deu origem ao PT não existe mais. Estamos com um retórica envelhecida”, constata Marcio Pochmann
Estamos vivendo uma mudança de época profunda na história brasileira que pode ser comparada aquelas que ocorreram na década de 1880, quando ocorreu a abolição da escravatura, e na década de 1930, quando o país começou o seu processo de industrialização. As mudanças se dão em diversos níveis que vão desde o perfil demográfico do país, passando pela estrutura de classes, pelo funcionamento do trabalho e da economia e chegando à dinâmica das cidades. É preciso ter esse horizonte mais amplo como referência para se pensar os desafios políticos colocados por essa realidade que já implodiu o pacto político instaurado pela Nova República.
O diagnóstico é do economista Marcio Pochmann, presidente da Fundação Perseu Abramo, do Partido dos Trabalhadores (PT), que esteve em Porto Alegre nesta segunda-feira (12) para falar sobre “os desafios de uma gestão de esquerda em meio à crise democrática”, tema proposto pelo PT de Porto Alegre para pensar a atuação do partido nas eleições municipais do ano que vem.
A reportagem é de Marco Weissheimer, publicada por Sul 21, 13-08-2019.
Segundo o presidente do PT de Porto Alegre, Rodrigo Campos Dilelio, o seminário realizado no auditório do Sindicato dos Bancários deu início a um processo de debate programático do partido sobre a cidade, tendo em vista as eleições de 2020. “O PT está fortemente engajado na construção de uma frente de esquerda em Porto Alegre”, anunciou o dirigente municipal do partido. Debate programático, frente de esquerda, política de alianças…tudo isso passa, enfatizou Marcio Pochmann em sua fala, pela compreensão da nova configuração da sociedade brasileira. “Habermas disse que toda vez que perdemos a referência do horizonte, a gente se debruça sobre amenidades. Temos hoje uma narrativa inapropriada que nos leva à acomodação e a saídas individuais”, disse o economista.
Essa narrativa, defendeu Pochmann, diz que estamos vivendo um período de transformações em relação às quais não temos muito o que fazer além de nos adaptar a elas. Ele apontou como exemplos dessa narrativa os discursos da globalização financeira e da revolução tecnológica, dois fenômenos globais sobre os quais não teríamos muita capacidade de influência. A inovação tecnológica, nesta narrativa, seria uma das principais responsáveis pelo desemprego e exigiria que os trabalhadores se preparassem melhor para enfrentar a nova realidade do mercado de trabalho.
Esses discursos estão repletos de equívocos, sustentou Pochmann, que citou o fato de países que lideram o processo de inovação tecnológica, como Alemanha, Estados Unidos e China, não enfrentarem problema de desemprego. Ele também citou o exemplo do setor bancário brasileiro que investiu fortemente em automação nos últimos anos. “Temos hoje cerca de 400 mil bancários no pais, mas também aproximadamente 1,2 milhão de correspondentes bancários no setor financeiro e mais de 110 mil trabalhadores autônomos que prestam serviços de consultoria neste setor. Esse discurso que relaciona inovação tecnológica e desemprego é terrorismo” .
Estamos vivendo a transição de uma sociedade industrial para uma sociedade de serviços, acrescentou o presidente da Fundação Perseu Abramo. No entanto, ressaltou, diferentemente do que ocorreu nas décadas de 1880 e 1930, essas mudanças vêm sendo protagonizadas e capitalizadas pela extrema-direita. “Estamos vivendo um período pré-insurrecional onde a população está extremamente insatisfeita e a extrema-direita tem maior facilidade de conversar com o povo do que a esquerda. Precisamos prestar muita atenção neste momento, pois estamos definindo o país que teremos nos próximos 40 ou 50 anos”, alertou Pochmann.
A perspectiva histórica invocada pelo economista, em relação ao passado e também ao futuro, é acompanhada por um diagnóstico, de certo modo, dramático para a definição do que fazer no presente político do país: “a sociedade do final dos anos 70 e início dos anos 80, que deu origem ao PT, não existe mais. Se seguirmos fazendo as coisas do jeito que fizemos até aqui não teremos melhores resultados do que os que já obtivemos”. Pochmann detalhou essa transmutação social, do ponto de vista da estrutura de classes, que impõe novos desafios programáticos e organizativos:
“Na década de 80, tínhamos uma burguesia industrial no país. Hoje, a indústria brasileira representa menos de 10% do PIB, o que equivale ao que tínhamos em 1910. Hoje, temos o predomínio de uma burguesa comercial, que quer comprar barato e vender caro. Nos anos 80, tínhamos uma classe média assalariada, que praticamente não existe mais. Hoje, temos uma classe média de PJs (pessoas jurídicas) e consultores. Houve um desmoronamento do emprego clássico da classe média. A classe trabalhadora também mudou. Cerca de quatro quintos dos trabalhadores estão concentrados no setor terciário, nas diversas áreas de serviços. Eles não estão mais concentrados em grandes fábricas, mas em shoppings center, complexos hospitalares, prestando serviços para condomínios de ricos. A classe trabalhadora está cada vez mais ligada a um trabalho imaterial e submetida a nova organização temporal e espacial. Essa nova realidade não faz parte do discurso dos sindicatos e dos nossos partidos. Estamos com uma retórica envelhecida”
Outra novidade na paisagem social brasileira é a força gravitacional das igrejas evangélicas e de grupos ligados ao crime organizado. Essa capacidade de atração e aglutinação, defendeu o economista, deriva de sua capacidade de fornecer respostas de curto prazo aos problemas cotidianos das pessoas, à falta de perspectiva de futuro especialmente para a juventude pobre das periferias. “Hoje, cerca de 80 milhões de brasileiros frequentam semanalmente assembleias, as assembleias de Deus. Por volta de 2032, os evangélicos já serão maioria no Brasil. A lógica que rege esse fenômeno está mais ligada à subjetividade das pessoas do que à racionalidade. Essas igrejas são espaços de sociabilidade onde as pessoas podem falar sobre seus desejos e anseios. Lá elas encontram laços de fraternidade e solidariedade. Temos que ter a humildade de reconhecer a nossa defasagem de compreensão dessa realidade”.
No entanto, ressaltou Pochmann, ao mesmo tempo em que estão com a retórica envelhecida, os partidos e sindicatos são mais necessários do que nunca em uma sociedade com cada vez menos diálogo e mais individualismo. Mas terão que se reinventar.
No entanto, ressaltou Pochmann, ao mesmo tempo em que estão com a retórica envelhecida, os partidos e sindicatos são mais necessários do que nunca em uma sociedade com cada vez menos diálogo e mais individualismo. Mas terão que se reinventar.
A expressão político-partidária dessa transformação social não é menos dramática. “O ciclo político da Nova República desapareceu e com ele também desapareceu a possibilidade de termos governos de conciliação. E sem a conciliação o que temos é a polarização”, resumiu Pochmann. Esse ciclo se encerra, acrescentou, com muitas tarefas não feitas. “Não fizemos nenhuma reforma profunda do capitalismo. Não prendemos nenhum ditador, após uma ditadura assassina e corrupta. O orçamento inicial previsto para a construção de Itaipu era de R$ 4 bilhões. No final, a obra custou R$ 21 bilhões. A Argentina prendeu cerca de mil torturadores. Nós não prendemos nenhum”.
O desafio das eleições municipais de 2020
Na parte final de sua fala, Marcio Pochmann apresentou um cenário do impacto dessas transformações sociais no vida social das cidades e de como isso exige um repensar radical de práticas. Um desses impactos é de natureza demográfica. A população brasileira não vai crescer mais nos próximos anos em razão da queda da taxa de natalidade, assinalou. Caminhamos, nas próximas décadas, para sermos um país de 240 milhões de habitantes e mais envelhecido.
Uma das conseqüências práticas disso, no plano das políticas públicas, é a diminuição da pressão sobre as escolas. A população de faixa etária entre zero e 14 anos vem caindo desde 1980. Nas eleições de 2018, a parcela de eleitores com mais de 65 anos já foi maior que a dos jovens em torno de 18 anos.
Outro fenômeno para o qual o economista chamou a atenção é o processo de desindustrialização do país, principalmente na região Sul e Sudeste e, mais especificamente, em São Paulo, que até bem pouco tempo era chamado de “locomotiva do país”. Na vida dos municípios, isso teve como conseqüência imediata o aumento das ocupações no setor de serviços. Associado à desindustrialização, está em curso um processo de desmetropolização, com a diminuição do crescimento das regiões metropolitanas e aumento do crescimento de cidades menores, especialmente cidades médias. Isso não significa que a população das regiões metropolitanas esteja diminuindo, mas sim que estão recebendo menos migrantes e crescendo em uma velocidade demográfica menor.
Esse conjunto de fenômenos exigirá, para a definição de propostas a serem apresentadas à população nas próximas eleições, um grande esforço de aprendizado, enfatizou Pochmann. Será totalmente ineficaz acionar o piloto automático e repetir as práticas tradicionais de campanhas eleitorais realizadas na última década. Dois ex-prefeitos de Porto Alegre, Olívio Dutra e Raul Pont, fizeram intervenções comentando a conferência de Marcio Pochmann. Ambos concordaram sobre a necessidade de dar conta das implicações de todas essas transformações sociais e defenderam que as experiências positivas das administrações populares em Porto Alegre e no Rio Grande do Sul devem estar também na memória desse aprendizado.
“Não foi por promover a participação e procurar radicalizar a democracia que nós erramos”, disse Raul Pont, lembrando a experiência que tornou o Orçamento Participativo de Porto Alegre uma referência internacional.
Na mesma linha, Olívio Dutra chamou atenção para o que faltou fazer ou foi feito de modo insuficiente do ponto de vista da ampliação da democracia e da justiça social.
Nós tivemos o Ministério das Cidades, mas, por razões que são conhecidas de todos aqui, não conseguimos levar adiante o projeto que tínhamos e ele acabou se tornando um balcão de negócios. Os dois ex-prefeitos apostam que o aprendizado a ser feito pode ser facilitado pela experiência dos erros e dos acertos. “Não será fácil, mas podemos fazer. Teremos que assobiar e chupar cana ao mesmo tempo”, resumiu Olívio.
Nós tivemos o Ministério das Cidades, mas, por razões que são conhecidas de todos aqui, não conseguimos levar adiante o projeto que tínhamos e ele acabou se tornando um balcão de negócios. Os dois ex-prefeitos apostam que o aprendizado a ser feito pode ser facilitado pela experiência dos erros e dos acertos. “Não será fácil, mas podemos fazer. Teremos que assobiar e chupar cana ao mesmo tempo”, resumiu Olívio.
Cresce aprovação a Bolsonaro: a esquerda à sombra das maiorias silenciosas
Era uma vez uma Oposição que achava que bastaria deixar Bolsonaro governar, tarefa para a qual é evidentemente desqualificado... e deixar sangrar até se demitir. Um ano depois, as coisas não estão bem assim: os números da pesquisa de opinião CNT-MDA deste mês revelaram um crescimento na aprovação a Bolsonaro. E que mais da metade dos entrevistados confia nas três grandes redes televisivas: Globo, Record e SBT. Bolsonaro continua um desqualificado (o início do apagão do serviço público começou com crises no INSS e Enem), mas a vitória, até aqui, na guerra da comunicação dá a vantagem da prestidigitação: a sua “guerra cultural”, na qual ganha de 7 X 1 de uma esquerda que caiu no alçapão deixado pela extrema-direita – a mídia progressista se esfalfa em denunciar que Bolsonaro é misógino, sexista, miliciano, pró-ditadura... e daí? Para a maioria silenciosa, sobrevivendo no cotidiano, tudo isso é abstrato, “politicagem”. A grande mídia cria o chamariz com a pauta da guerra cultural (identidade, gênero, raça, etnia, meio ambiente etc.), aprisionando a esquerda em seu tautismo (tautologia + autismo midiático) – abandona a comunicação direta com a maioria silenciosa e se desconecta do deserto do real: a economia.
Bolsonaro é machista, misógino, fascista, miliciano, intolerante, xenófobo, ofende mulheres, índios, é sexista, racista, pró-ditadura militar, negacionista das mudanças climáticas e indiferente às questões ambientais. Não só a esquerda, mas também a grande imprensa nacional e internacional, acusa o ex-capitão da reserva de tudo isso... e daí?
O que isso significa para o povão, imerso nos problemas do dia-a-dia entre o desemprego e o trabalho uberizado? Nada!
Pelo menos é o que sugere a Pesquisa CNT de Opinião, realizada em parceria com o Instituto MDA, de 15 a 18 de janeiro de 2020, mostrando os índices de popularidade do governo e pessoal do presidente Jair Bolsonaro.
Segundo a pesquisa encomendada pela Confederação Nacional do Transporte, a aprovação do desempenho pessoal do presidente Jair Bolsonaro registrou um salto significativo, de 41% para 48%; sua rejeição, por sua vez, caiu de 54% para 47%.
E isso num período que ocorreu o fato político mais significativo: a soltura do ex-presidente Lula, no início de novembro.
Também houve uma melhora expressiva na avaliação do governo: O percentual dos que acham o governo ótimo, passou de 8,0% para 9,5%; e os que acham o governo péssimo caíram de 27% para 21%. Somando as notas ótimo e bom, o governo registrou aprovação positiva de 34,5%, contra aprovação negativa (ruim e péssimo) de 31%. Na pesquisa anterior, de agosto, a aprovação positiva somava 29%, contra 39% de negativa.
Mais importante do que isso é a percepção e a confiança da população em relação à grande mídia. Mais da metade confia nos três grandes canais de mídia: Globo, SBT, Record.
A opinião pública não existe
Os resultados dessa pesquisa foram recebidos pelos blogs e sites progressistas, em sua maioria, entre o lacônico e a indiferença – entre a notícia sem análise ou simplesmente virando as costas e não falando nada sobre o assunto.
Uma dessas exceções foi “O Cafezinho”, do jornalista Miguel do Rosário, que não só deu a notícia como também analisou os números que, segundo ele, representam um desafio para as estratégias de comunicação da esquerda – clique aqui.
É claro que este Cinegnose partilha da tese do sociólogo Pierre Bourdieu: a opinião pública não existe! – nas pesquisas sempre a chamada “opinião” se confunde com “percepção” ou “sensação”. Ainda mais no contexto atual da pós-verdade: um grande arco que vai do menosprezo por fatos objetivos até a ignorância racional e o efeito “Dunnig-Kruger” – indivíduos acreditam saber mais do que especialistas por estarem abastecidos por clichês, sofismas e frases prontas transmitidas pela grande mídia e redes sociais.
Portanto, toda “pesquisa de opinião” deve ser recebida com um pé bem atrás. Porém, se ficarmos no campo das percepções e sensações os números da pesquisa MDA são importantes, principalmente porque a chamada Guerra Híbrida busca exatamente esse resultado – não se trata mais de propaganda política no sentido clássico (como inculcação político-ideológica ou doutrinária), mas de gerar atmosferas, sensações e dissuasão não mais numa opinião pública. Mas agora, num contínuo midiático atmosférico.
A dupla agenda
Nesse momento o contínuo midiático está ocupado por uma dupla agenda: de um lado, a guerra cultural que a grande mídia trava contra Bolsonaro (de ilações sobre as conexões do presidente com milícias e o assassinato de Marielle às pautas identitárias, étnicas, gênero e meio ambiente que ocupam o jornalismo corporativo); e do outro o clima de “agora vai” do crescimento econômico – das histórias motivacionais de desempregados numa enorme fila que acham emprego à maquiagem do desemprego através de contos igualmente motivacionais sobre empreendedores, que na verdade não passam de autônomos ou precarizados.
Essa é a agenda tautista (Tautologia + autismo midiático) que cria um fechamento operacional que isola o sistema midiático da realidade. O problema é que a esquerda é apenas reativa a esse contínuo midiático: vive, respira e reage à pauta definida pelas polêmicas criadas pela grande mídia e repercutida nas redes sociais.
A esquerda tautista é capturada por essa guerra já perdida por antecipação: a chamada “guerra cultural”, locus privilegiado da extrema-direita porque tira o foco da missão para qual ela chegou ao poder – cumprir à risca a agenda econômica neoliberal.
Bolsonaro apoia o feminicida goleiro Bruno? Roberto Alvim fez um vídeo nazi-fascista? Bolsonaro humilha Moro? Bolsonaro quer devastar a Amazônia? Um ministro tem sobre a sua mesa um livro enaltecendo o torturador Brilhante Ustra? A ministra quer abstinência sexual no Carnaval? A esquerda vive esse debate em looping, tautológico, reagindo com o fígado. O Ministro da Educação xinga Paulo Freire?
Vive por procuração o mesmo tautismo midiático.
Guerra híbrida, guerra criptografada
O significa tudo isso para a maioria silenciosa? O que significa essa pauta para o brasileiro comum que corre, pedala ou dirige contra o tempo com uma mochila do Uber Eats nas costas? O que representam as denúncias de feminicídio, misoginia, racismo, intolerância para uma desempregada que vive na informalidade vendendo brigadeiros e café numa térmica num ponto de ônibus? Ou então para aquele estudante universitário que luta para pagar a mensalidade vendendo doces veganos para os colegas nos intervalos?
A resposta a essas perguntas está expressa nos números da pesquisa CNT-MDA.
A chamada “guerra ciptografada” é uma mutação da guerra híbrida após o impeachment de 2016. A linha de passes combinada entre Governo e jornalismo corporativo cria dissonâncias, ataques, provocações propositais, sempre no âmbito das batalhas “culturais” – finge conflitos e produz conflitos artificiais.
Por exemplo: Bolsonaro cortou verba publicitária da Globo? Ora, a Globo já há algum tempo é rentista – basta ver seu intervalo publicitário ocupado por bancos, empresas de crédito pessoal e corretoras de investimentos, valores e títulos.
Denunciar Bolsonaro e sua trupe familiar e de ministros de fascistas e ditadores nada quer dizer para as massas. Para o cidadão comum imerso nos problemas cotidianos não passa de “politicagem”, um bate-boca particular entre a esquerda e seu malvado favorito.
O problema mais profundo é que essa guerra criptografada é confortável para a esquerda porque realiza seu pressuposto: o kantismo (relativa ao filósofo Emmanuel Kant) – a crença na boa vontade e no senso de obrigação moral em relação aos direitos universais.
O “nazista” Roberto Alvim: inside job?
A esquerda cai no alçapão da guerra cultural porque as provocações calam fundo e escandalizam – atingem os valores kantianos universais da dignidade, cidadania e liberdade.
Um vídeo tão canastrão quanto o de Roberto Alvim (emulando Goebbles através da roupa, corte de cabelo, fisionomia e gestual, disposição cenográfica – bandeira, foto e a cruz – e ainda com trilha musical de Wagner ao fundo... bem, Alvim foi diretor de teatro) arranca indignação da esquerda e linhas de postagens e minutos com vídeos de denúncias indignadas.
Tão canastrão, overacting e estereotipado que até parece planejado – um esquete tão hilário quanto aqueles do programa de TV “Monty Python Flying Circus” da trupe inglesa de humor. Teria sido um “inside job” para manter a esquerda ocupada nesse loop interminável?
Para a maioria silenciosa, tudo não passa de politicagem e por isso se apega “no pensamento positivo, a alguma esperança de que as coisas vão melhorar”, como aponta o jornalista Miguel do Rosário. E acrescenta:
Ironia mais cruel é testemunhar o governo de extrema direita de Jair Bolsonaro inaugurar uma estratégia de comunicação que, com todos os seus imensos defeitos (autoritarismo, falta de educação, etc.), ao menos se esforça para manter uma comunicação direta com o público. Se a então presidenta Dilma tivesse se disposto a fazer 10% do que Bolsonaro faz em termos de comunicação, talvez não tivesse visto seu capital político ruir tão dramaticamente, e poderia ter evitado o impeachment.
O que fazer?
A esquerda ainda não percebeu os sintomas de uma espécie de “refeudalização da esfera pública”, muito próximo daquilo que Habermas (“Mudança Estrutural da Esfera Pública”) e Umberto Eco (“A Nova Idade Média”) antecipavam como movimento histórico regressivo: absorvidas pelos seus problemas cotidianos e amedrontadas, as pessoas escondem-se nas suas vidas privadas, alheias ao que se passa lá fora – na Idade Média, o poder político da Igreja e as Cruzadas. Hoje, escondem-se alheias às ameaças aos direitos e a vida cada vez mais difícil.
O que fazer? Sair dessa bolha tautista da guerra cultural com um discurso propositivo. O incipiente apagão do serviço público (represamento dos benefícios do INSS e os graves problemas dos gabaritos do Enem) que promete se agravar ao longo do ano é o desgaste anunciado do governo junto às questões cotidianas dos brasileiros.
É um tema que a esquerda até aqui não explorou, enquanto está hipnotizada por coisas como a canastrice do ministro da cultura demitido.
As pitonisas e oráculos midiáticos da pauta econômica falam diariamente que a economia “pegou tração” e que a recuperação é “lenta”, mas “constante” e que até o final de 2020 tudo melhorará.
Então é o caso de cobrar, propositivamente, as melhorias – mostrar para os brasileiros se alguma coisa está mudando no seu cotidiano.
Mais do que falar em “frentes amplas” contra o fascismo e a escalada do autoritarismo (“fascistas não passarão!”), coisa abstratamente incompreensível para a maioria silenciosa imersa nos problemas do dia-a-dia, é necessário mergulhar na economia cotidiana – de forma didática, pedagógica.
Como abordamos em postagem anterior, na verdade há, por assim dizer, uma “sabedoria” nessas maiorias silenciosas – clique aqui.
Por exemplo, desde que Lula foi condenado e preso, acreditava-se em lutas monumentais, resistências em trincheiras. Esperava-se um país paralisado e mobilizado, tornando a nação ingovernável para os usurpadores. Mas tudo o que viu foi silêncio das ruas, das favelas e periferias.
E que sabedoria há nesse silêncio? Até aqui, absorvida pelas guerras culturais impulsionadas pelas bravatas, provocações e escatologias de Bolsonaro e seus indefectíveis ministros, a esquerda não teve até aqui a menor intenção de conquistar corações e mentes dessa maioria silenciosa.
Em nenhum momento teve a iniciativa de explicar didática e pedagogicamente para o brasileiro comum das ruas no que as reformas e privatizações prejudicam e prejudicarão ainda mais o seu dia-a-dia no presente e no futuro.
Seja através de formas físicas como folders, cartilhas ou a construção de sites, newsletters ou quaisquer formas de mídias alternativas à superficialidade das redes sociais. Aproveitar a estrutura partidária ou a máquina sindical para produzir veículos de comunicação que não falem somente para os convertidos.
A sabedoria dessa apatia das maiorias silenciosas reflete a própria desistência da esquerda pela conquista dos corações e mentes das massas – a busca de formas didáticas e pedagógicas que ajude a explicar nexos e relações de causa e efeito para o brasileiro que afunda a cara no aplicativo achando que um dia sua força de trabalho magicamente vai se transformar em capital.
Wilson Ferreira é Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som). Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Linguagem Audiovisual. Pesquisador e escritor, co-autor do "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, organizado pelo Prof. Dr. Ciro Marcondes Filho e autor dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose – a recorrência de elementos gnósticos na produção cinematográfica" pela Editora Livrus.
Wilson Ferreira é Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som). Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Linguagem Audiovisual. Pesquisador e escritor, co-autor do "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, organizado pelo Prof. Dr. Ciro Marcondes Filho e autor dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose – a recorrência de elementos gnósticos na produção cinematográfica" pela Editora Livrus.
Um pouco do que vi nas ruas de Santiago, por Carol Proner
Amigos, fui a Santiago num evento que debateu as crises democráticas no Brasil, no Chile, na AL etc. e, ao final, nos convidaram para ir às manifestações que acontecem todas as sextas-feiras desde o histórico 28 de outubro de 2019.
Foi uma experiência impressionante, bela e triste ao mesmo tempo. Já são mais de 23 mortos, 9 mil presos com registros arbitrários de desacato e atos incendiários e mais de 200 pessoas que perderam a visão por disparo de “perdigones” balas feitas de aço (e não de borracha) disparadas pela polícia.
Os carros lanza-agua, que se parecem com tanques, lançam jatos com uma composição química que, dizem, leva soda cáustica. O gás lacrimogênio é mais forte que o de outros lugares, mais apimentado e sufocante, como infelizmente pude comprovar. A avenida principal parece uma galeria enfeitada de memoriais em homenagem aos mortos e desaparecidos dos últimos três meses.
Na semana passada, morreu mais um garoto afogado pelos jatos d’água e sufocado pelo gás. Algumas das fotos registram os objetos usados para reprimir e o lugar em que Mauricio Fredes foi encurralado.
Eu soube de coisas surpreendentes na logística dos protestos, como o papel fundamental dos jovens “de la primera línea”, que fazem um cordão de isolamento para impedir o avanço da polícia e permitir que as manifestações possam acontecer. E também os pica-piedras, que, com picaretas, quebram parte das calçadas de petit-pavê para poder munir a linha de frente no contra-ataque, ou os “lazer led” que são vendidos nas calçadas, junto às máscaras, os óculos de proteção e os estilingues para bolas de gude. Os lazeres são usados para distrair a mira do policial e evitar que acertem os olhos dos resistentes.
Já se sabe que os carabineiros têm preferência pelo olho esquerdo. Claro, os que vão na frente são os mais preparados, os da periferia, acostumados à truculência diária.
Graças a esse sacrifício anônimo é que pode existir a belíssima manifestação do Marco Zero, uma festa linda e com ar triunfal na Praça Itália, rebatizada “Plaza de la Dignidad”.
Não há como não sorrir estando aí. Lembrei de um amigo que falou do orgulho de nossas derrotas, nossos fracassos, como dizia Darcy Ribeiro, e é bonito estar do lado certo, mesmo quando acuados e atacados.
Mas é também triste e irônico que, com uma aprovação minúscula, de apenas 6%, o Presidente Piñera segue aprovando seus duros planos e a polícia segue reprimindo cruelmente. Inclusive parte da reprovação é porque consideram que reprime pouco.
A juventude promete que não sairá das ruas “hasta que cambie el sistema” e gritam, usando o símbolo do “negro mata-paco”- o cachorro que teria incorporado o espírito de um estudante - que o Chile não estava inerte durante esses anos, “que no era paz, era silencio”.
Enquanto isso, no Parlamento, tentam negociar uma nova Constituição no embate entre poder constituinte originário ou uma composição mista parlamentar para definir o novo pacto de futuro que, como poderíamos imaginar, inclui formas de anistia e esquecimento para os atuais excessos das “forças da ordem”.
Esse é um pouco do que vi e ouvi nas ruas de Santiago nesses dois intensos dias, e o que debatemos no excelente evento que tivemos no ex Senado, com gente de toda a América Latina.
Enquanto estávamos debatendo dentro do prédio histórico, havia militantes assumidamente pinochetistas aos berros nos portões, protestando contra o progresismo, contra as abuelas de la Plaza de Mayo e os defensores de direitos humanos “de corruptos”, nos diziam, contra Baltasar Garzón e contra o Grupo de Puebla, contra Evo, Lula, contra as esquerdas.
É triste ver o fascismo mostrando a cara com tanta sinceridade no Chile e no Brasil, mas, e ao menos nas rua de Santiago, o que se sente é que a reação está à flor da pele e que o povo não vai mais ficar calado até que ocorra uma transformação efetivamente profunda.
Por aqui, por enquanto..., bom, talvez esse seja o nosso tempo do silêncio.
(Carol Proner - Doutora em Direito, professora da UFRJ, diretora do Instituo Joaquín Herrera Flores – IJHF 25/01/20).
sábado, 25 de janeiro de 2020
Memórias da Resistência de Vanderley Caixe - por Fernando Oliveira
A partir das 8 horas da manhã deste domingo (26/01), assista o primeiro vídeo de uma série de histórias de resistência. Serão videos com produção do Blog O Calçadão, de amigos, institutos e pesquisadores da luta por democracia em nossa região de Ribeirão Preto-SP.
Vanderley nasceu em 6 de outubro de 1944, na cidade de Ribeirão Preto, São Paulo.
Sua história deverá sempre ser lembrada como um homem que dedicou toda sua vida para combater as injustiças existentes em nosso país.
Teve uma infância simples e, logo cedo, com 16 anos de idade, vivenciando um grande ascenso das lutas populares, já envolvido com o movimento estudantil, decide ingressar na Juventude Comunista. Após o golpe militar rompe com o PCB e, junto com Nanci Marietto e Aurea Moretti, fundam o jornal “O Berro”, que foi amplamente distribuído nas bancas, mas logo teve seu registro cassado pelos militares.
(Este vídeo foi produzido pelo projeto “Memórias da Resistência” é vinculado ao Instituto Práxis de Educação e Cultura (IPRA) da cidade de Franca – SP Edital de Pontos de Mídias Livres.)
Diante da situação política, motivado pela necessidade de derrubar a Ditadura Militar, aos 22 anos, participa da fundação das Forças Armadas de Libertação Nacional (FALN), organização guerrilheira que visava o combate ao regime e a construção do socialismo. Durante três anos, dedica-se a esse trabalho, porém, a repressão logo identifica a ação da organização e desencadeia uma série de prisões.
Vanderley ficou preso durante cinco anos, sendo transferido diversas vezes de presídio. Esteve no Presídio Tiradentes, Presídio Wenceslau (onde, em 1972, liderou uma greve de fome dos presos políticos), Presídio Hipódromo, de onde foi solto em 1974. Nesse mesmo ano, retoma o curso de Direito para se dedicar à libertação de outros presos políticos. No cárcere, Caixe escreveu seus primeiros poemas, publicados somente 30 anos depois por iniciativa dos seus companheiros da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) – Seccional de Ribeirão Preto.
Trabalhou no escritório de advocacia do professor Sobral Pinto e atuou como redator nos jornais Tribuna da Imprensa e Opinião. Em 1976, mudou-se para João Pessoa-PB, onde, juntamente com o arcebispo dom. José Maria Pires – Arcebispo da Paraíba – criou o primeiro Centro de Defesa dos Direitos Humanos do Brasil (ainda na época da Ditadura Militar). Mais tarde, foi secretário-geral da Associação Nacional de Advogados de Trabalhadores Rurais, advogado de presos políticos em vários países na América Latina, atuou junto à Corte Interamericana e à Comissão de Direitos Humanos da ONU.) Foi membro-fundador do PT e primeiro candidato a prefeito pelo partido na Capital paraibana, em 1986.
Voltou a Ribeirão Preto em 1994, onde instalou o Centro de Defesa dos Direitos Humanos, Assessoria e Educação Popular, mantendo a luta ao lado dos camponeses. Torna-se assessor jurídico do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), e participa da Rede Nacional dos Advogados Populares (Renap). Era fundador e membro do Fórum dos Ex-presos e Perseguidos Políticos do Estado de São Paulo.
Vanderley morreu vítima de erro médico. Sofreu uma queda e fraturou o fêmur, por isso, foi submetido à cirurgia para colocar oito pinos, porém um dos pinos perfurou o intestino, e ele foi acometido por uma septicemia (infecção generalizada). Lutou durante 21 dias na UTI, mas não foi possível conter a infecção.
A morte de Vandeley Caixe deixa muita saudade nos companheiros e companheiras que conviveram com ele. Muitos depoimentos emocionados foram ouvidos em seu velório, que aconteceu na Câmara de Municipal de Ribeirão Preto, depoimentos que o qualificam como um incansável lutador, com uma sensibilidade gigantesca, um amigo, um revolucionário.
Aos que não o conheceram pessoalmente, principalmente à juventude, fica o exemplo de um grande lutador, que não se curvou diante do golpe militar, diante da prisão e das torturas.
Fernando Oliveira, São Paulo
sexta-feira, 24 de janeiro de 2020
Reunião no MPT define urnas e chapa 2 poderá participar da eleição nos Servidores
Na tarde desta quinta-feira, uma reunião de conciliação entre as três chapas inscritas para a eleição no Sindicato dos Servidores de Ribeirão Preto, Guatapará e Pradópolis aconteceu no Ministério Público do Trabalho. A Promotoria ouviu a argumentação das partes e definiu pontos importantes para a eleição que ocorrerá nos próximos dias 4 e 5 de fevereiro.
- As urnas fixas deverão ser a regra do processo eleitoral e as chamadas urnas itinerantes, uma exceção. Serão 14 urnas fixas e 5 itinerantes;
- A Chapa 2, que estava com a sua homologação suspensa pela assessoria jurídica do Sindicato, foi regularizada, mediante um prazo até o dia 27 para acerto de detalhes técnicos, e poderá participar da eleição.
O Blog O Calçadão já entrevistou representantes das Chapas 1 e 3 (as gravações vão ao ar neste sábado no nosso canal do Youtube) e entrevistaremos os representantes da Chapa 2 na próxima semana.
Blog O calçadão
Quem será o anti-Nogueira que irá disputar o segundo turno com o atual Prefeito?
Palácio Rio Branco - Ribeirão Preto |
A chegada de 2020 intensifica as movimentações para as eleições municipais desse ano. Pré-candidatos a vereador já buscam aparecer nas mídias sociais e a organizar a pré-campanha, de acordo com as regras eleitorais.
O mesmo acontece com os possíveis candidatos a Prefeito.
O Prefeito Nogueira, candidato à reeleição e representante da direita neoliberal (privatista e de redução do Estado), busca consolidar sua força neutralizando possíveis outras candidaturas do campo da direita e da extrema direita. Semana passada anunciou o apoio dos partidos Novo e Avante. Nogueira tem no programa de mobilidade urbana e no velho, e ainda eficaz, discurso do "foi culpa da Dárcy" dois de seus maiores trunfos.
A extrema direita vai ficando refém do PSL, que até agora não apresentou um nome de peso mas permanece uma incógnita, baseando-se no ainda forte discurso antissistema.
O centro tem se movimentado bastante e é, na opinião desse Blog, hoje, o campo político com mais potencial a ir a um segundo turno com Nogueira. Pois haverá segundo turno.
O centro tenta construir um programa que busque ao mesmo tempo confrontar o projeto atual do Prefeito sem perder os vínculos com um eleitorado conservador e pragmático de Ribeirão Preto.
Três figuras políticas surgem para encampar o anti-Nogueira, aquele que vai polarizar com o Prefeito e avançar ao segundo turno: Ricardo Silva (PSB), João Gandini (PSD) e Carlos Cezar Barbosa (vice-Prefeito e no Cidadania).
Ricardo Silva é o nome mais forte dos três até o momento e procura se fortalecer ainda mais através do apoio do PSB estadual, liderado por Márcio França, e da construção de uma aliança provável com o PDT de Lincoln Fernandes e na tentativa de atrair para o projeto o ex-Juiz Gandini (PSD), que também busca se movimentar com um diálogo mais próximo com o vice-Prefeito, que rompeu com o Prefeito desde 2018.
O fiel da balança entre o projeto de reeleição de Nogueira e o projeto do centro será o MDB.
“Eu acho que há uma combinação quase atmosférica entre uma obra cinematográfica e o que acontece na sociedade”, afirma um dos diretores do filme vencedor do Prêmio de Júri, em Cannes, Kléber Mendonça Filho
Cineastas reforçaram o papel histórico que o filme vem desempenhando ao redor do mundo.
Fotos e texto: Filipe Augusto Peres
|
Durante debate realizado pelos
SESC e o Cine Clube Cauim no último dia 22, em Ribeirão Preto, os diretores do
premiado e prestigiado filme Bacurau (2019) falaram com o público e abordaram
as questões políticas, sociais e históricas que envolveram a construção do
roteiro e a sua respectiva ressonância ao redor do mundo.
Em uma parceria Cine Clube Cauim
e SESC, entre os dias 21 e 22 de janeiro, o Cine Clube Cauim exibiu, com casa
lotada nos dois dias, passando de 800 pessoas no maior cinema de Ribeirão
Preto, o prestigiado e premiado filme, Prêmio do Juri, no Festival de Cannes,
em 2019, “Bacurau”, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, sendo que no
dia 21 ocorreu a exibição com a presença dos diretores seguida de um bate-papo
com eles no dia seguinte.
quinta-feira, 23 de janeiro de 2020
Discurso histórico do Vereador Beto Cangussu em 2013: atual e necessário
Em janeiro de 2013, Beto Cangussu tomava posse para o seu terceiro mandato como vereador em Ribeirão Preto. Seu discurso, histórico e proferido em nome de todos os outros vereadores, é atual e necessário e certamente trará lucidez aos lutadores populares e democratas que hoje disputam as eleições no sindicato dos Servidores - Paulo Honório
Hoje é um momento de grande júbilo, esperança, agradecimentos e honra.
Júbilo por termos chegado até aqui, superando os obstáculos, cada um de nós com os seus, com grande determinação; esperança por querermos legar aos munícipes de Ribeirão Preto, ao final desta legislatura, uma cidade socialmente justa, ambientalmente equilibrada e economicamente forte e sustentável; agradecimentos, primeiramente a deus por ter nos dado vida e saúde para chegarmos até aqui; segundo às nossas famílias, nosso porto seguro nos momentos de solidão e angústias; aos eleitores de Ribeirão Preto por serem os responsáveis por estarmos aqui, e também, por que não, a todos os demais candidatos que disputaram as eleições, pois, sem o brilho de suas participações, a grandeza dessa festa democrática seria menor; honra, pois, não há reconhecimento maior para qualquer ribeirãopretano do que ser eleito representante por seus concidadãos.
Essa honra será maior ainda se entendermos, e tenho convicção de que entendemos, o verdadeiro sentido da palavra “representantes do povo”.
Notem que estamos falando de representação e não substituição, pois, nada substitui o protagonismo popular nos destinos de nossa querida cidade.
A nossa constituição cidadã de 1988, inovou ao introduzir no parágrafo único do artigo 1º que: “todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”.
Por este mandamento constitucional, temos a obrigação ética de submetermos nossos mandatos aos verdadeiros detentores do poder que nos foi outorgados: o povo ribeirãopretano.
Este novo modelo de democracia participativa instituída por nossa carta magna, não tira o brilho nem a importância de nosso papel de representantes do povo, apenas nos coloca a necessidade de buscarmos na participação popular a inspiração necessária aos nossos trabalhos.
de todos os poderes constituídos, considerando-se todas as instâncias de nossa federação, não há campo mais fértil e apropriado à participação popular do que o poder legislativo: no nosso caso a Câmara Municipal.
Afinal, a quem a população de nossa cidade recorre em primeiro lugar na busca das soluções aos problemas e no encaminhamento de suas reivindicações?
Porque não aproveitarmos essa proximidade com a população para ampliarmos a consciência política e o protagonismo cidadão na busca das verdadeiras soluções aos graves problemas de nossa sociedade, abdicando das velhas práticas políticas que levam ao personalismo, que transmite uma falsa ideia de que a solução está nas mãos de “iluminados”, sendo que na verdade, a solução está na coletividade?
A atualidade nos faz um convite/desafio para que todos nós estejamos engajados na construção de um mundo melhor.
Da parte da Câmara Municipal, tenho certeza de que estamos prontos a responder positivamente a esse convite/desafio, de que maneira:
1º) abrindo as portas do poder legislativo à todas as reivindicações e manifestações de nossa população, transformando-as em medidas legislativas, a serem encaminhadas à chefe do poder executivo;
2º) fiscalizando a aplicação de cada centavo arrecadado do contribuinte municipal, zelando para que o orçamento municipal seja suficiente e responsável pelo atendimento das necessidades de nossa população por meio de obras, programas. Serviços públicos, a serem realizados, num contexto de políticas públicas, concensuadas com a sociedade civil ribeirãopretana.
Essas são, pois, nossas funções e a nossa missão!
Por fim, em ocasiões como essa, é comum ao orador fazer um apelo à unidade na busca do bem comum. Entretanto, peço licença , aos que pensam diferente: quero fazer um apelo à diversidade, pois, essa é a essência do parlamento: a pluralidade de opiniões, atitudes e interesses.
Vivemos em uma sociedade plural, e não é ruim que seja assim. A história já demonstrou que a busca por uma sociedade pura, de pensamento e comportamento único leva à tragédias humanitárias.
Termos interesses e opiniões divergentes não são ruins por si mesmo. É da essência da democracia. O que torna as divergências ruins é quando tentamos impor nosso ponto de vista a todo custo, sem respeitar regras éticas do processo democrático.
Devemos estar preparados tanto para persuadirmos como para sermos persuadidos por aqueles que pensam diferente, na busca incessante de uma síntese que considere aquilo que de positivo cada uma das posições divergentes contém.
Portanto, espero que aqui, na câmara municipal, seja o espaço das divergências, onde caberão todas as filosofias de vida, todas as opções religiosas, todas as ideologias partidárias, todas as diferenças étnicas, todas as opções sexuais, todas as manifestações populares.
Aqui conviverão o velho e o novo, o branco e o negro, o rico e o pobre, o homem e a mulher, enfim, todos aqueles que forem amantes da democracia.
Sejam bem-vindos à casa do povo!
VEREADOR BETO CANGUSSU.
Número de moradores de rua pode ser o dobro do que é divulgado
Foto Paulo Honório |
Especialistas e entidades especializadas afirmam que os números oficiais sobre moradores de rua no Brasil estão abaixo da realidade.
Os números oficiais divulgados pelo IBGE e ministérios ligados à área social informam que cerca de 0,5% da população brasileira (1 milhão de brasileiros) hoje mora na rua, sem nenhuma proteção do ponto de vista social, alimentar e de saúde.
Em Ribeirão Preto, a Secretaria Municipal da Assistência Social calcula em 3 mil o número de moradores de rua na cidade. Mas esses números podem ser duas vezes maior. Ou seja, podemos ter de 5 a 6 mil pessoas morando nas ruas de Ribeirão Preto.
É visível para qualquer um que saia às ruas o aumento dessa população nos últimos anos onde o Brasil passa por grave crise econômica.
Essa realidade levanta debates sobre o que se fazer. Algumas propostas flertam com o discurso reacionário em alta na sociedade: internação compulsória, transferência para regiões menos visíveis da cidade, repressão, prisão, expulsão ou transferência para outras cidades etc. Há, também, propostas mais voltadas para a questão social integrada, como políticas de atendimento multidisciplinar, programas de transferência de renda ou tentativa de localização das famílias.
O fato é que essas pessoas merecem um tratamento respeitoso com os direitos humanos assim como qualquer outra pessoa. Eles são vítimas de um processo e não culpados. E é o Poder Público que deve tomar a frente na iniciativa de equacionar o problema.
segunda-feira, 20 de janeiro de 2020
Eleição no Sindicato dos Servidores esquenta o início do ano
No início de fevereiro vai acontecer a eleição para a nova diretoria que comandará o Sindicato dos Servidores Municipais de Ribeirão Preto, Guatapará e Pradópolis. Três chapas foram inscritas no processo eleitoral que movimenta mais de 10 mil servidores públicos.
As chapas 1 e 3 já foram homologadas enquanto a chapa 2 aguarda resultado de ação judicial.
A eleição acontece em um momento bastante delicado para o movimento sindical. A política ultra-neoliberal adotada no Brasil a partir de 2016, e conduzida localmente pelo governo Nogueira, tem no desmantelamento do sindicalismo um de seus pilares, principalmente do sindicalismo ligado aos servidores públicos, o mais forte braço do sindicalismo brasileiro na atualidade. Aliás, os servidores e o serviço público são os próximos alvos dos ataques do governo Bolsonaro/Guedes em nível nacional, mas Nogueira já conduz essa política aqui em Ribeirão Preto desde que tomou posse em janeiro de 2017.
A luta contra o sistema neoliberal e contra a destruição dos direitos trabalhistas, e do serviço público, dependerá muito de como o sindicalismo vai reagir a esse avanço do capital sobre o trabalho. Esse é o debate de fundo que permeia as eleições no Sindicato dos Servidores nesse momento. Qual chapa poderá ter a possibilidade de adotar a política correta diante da atual conjuntura?
Assinar:
Postagens (Atom)
Instituto Território em Rede critica falta de transparência e diálogo em projeto de lei que pode condenar áreas de APPs
Instituto pede que o PLC seja debatido Instituto argumenta que o PLC 31/2024 não teve discussão suficiente e nem envolvimento adequado da ...
-
1 A criança abusada desde os seis de idade troca de identidade de cidade e tenta ser esquecida.Tenta seguir contra seu sen...