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segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Missa de Exéquias Dom Pedro Casaldáliga

A Missa de Exéquias ocooreu em Batatais/SP
Fotos: Filipe Augusto Peres

Em todas as falas, Dom Pedro Casaldáliga foi lembrado por sua luta incessante em defesa dos excluídos.


O Buriti é uma árvore que dá apenas um grande cacho na vida, depois morre. Como Pedro. Um caixão de madeira, um cajado de madeira e um chapéu de palha no lugar da mitra, insígnia pontificial utilizada pelos prelados da Igreja Católica. Estas foram as vestes de Dom Pedro Casaldáliga em vida e morte.
A ornamentação lembrava a coerência de vida e luta de Dom Pedro Casaldáliga. Árvores queimadas, sobrepostas por arame farpado traziam a morte da floresta causada pelo latifúndio do agronegócio. Por outro lado, a orquídea e a cruz simbolizavam a ressurreição da natureza e de Cristo sobre a morte.
Uma bandeira do MST junto aos artesanatos dos indígenas e a uma camiseta da CPT, organizações que Casaldáliga ajudou a construir, trouxe a luta que direcionou toda a vida de Dom Pedro Casaldáliga. O seu compromisso com o Evangelho de Cristo, com os camponeses, a luta pela terra, pela reforma agrária; pela defesa dos povos indígenas, a preservação da natureza.

Conduzida pelo Arcebispo de Ribeirão Preto, Dom Moacir Silva, com a presença de bispos, padres, fiéis e integrantes da CPT, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e outros movimentos sociais, velado na capela do Claretiano Centro Universitário e, depois, levado para o ginásio de esportes do mesmo Centro, onde se realizou a Missa de Exéquias, neste domingo (6), no município de Batatais, o bispo Dom Pedro Casaldáliga se despediu de todos que o admiravam e tentavam seguir o seu exemplo de luta e defesa das populações oprimidas.

Fala dos Religiosos


Arcebispo de Ribeirão Preto, Dom Moacir Silva (ao fundo, com o cajado) conduziu a Missa de Exéquias.

Pe. Ronaldo Mazula lembrou que as características de Dom Pedro como lutador das causas de Direitos Humanos se ligava à sua vida religiosa.
"O exemplo de vida de Dom Pedro permanece em vida, em toda a Igreja. [...]O homem que pregou a solidariedade aos mais pobres, indígenas, mulheres, ribeirinhos, campesinos, camponeses, todos aqueles que, infelizmente, são exclúidos. Mas Dom Pedro não é só um homem de Defesa dos Direitos Humanos, é um homem de oração, um místico. Aquele que entrou no mistério de Deus e [...] viveu e o levou a todos os recantos.

Em sua fala, Dom Moacir Silva destacou a mensagem enviada pela Conferência Nacional dos Bispos, a CNBB:
"Dom Pedro marcou sua vida pela solidariedade em relação aos mais pobres, sofridos, fazendo de seu ministério, sua poesia e sua vida um canto à solidariedade. Preocupado em nada possuir, nada carregar, nada pedir, nada calar e nada matar.

O Arcebispo de Ribeirão Preto ainda destacou na mensagem da CNBB a prolongação da vida de Casaldáliga por meio da ressurreição:
"Contempla agora o Deus da Vida a quem buscou servir em cada pobre, em cada sofredor""

Frei Luis Antônio, Provincial da Ordem de Santo Agostinha, trouxe a importância de Pedro para toda a América Latina:
"[...] Não só para a Prelazia de São Felix mas para toda essa Pátria Grande, sonho de terra sem males".

Em sua fala, Frei Luis ainda lembrou que a mensagem de Dom Pedro transcende e continuará a transcender fronteiras.


Pe. Ronaldo Mazula


Pe. Marcos Aurélio Loro leu uma mensagem do Superior Geral dos Missionários Claretianos, Mathew Vattamatam. Nesta ressaltou-se a inspiração que Pedro é para uma nova ordem mundial, contra a ganância do capitalismo, citando-o, suas palavras, literalmente:
"Querem ser e fazer filhos e irmãos sobre a terra mãe compartilhada, sem lucro, sem dívidas na mão, soltos os rios cheios de vida"

O Presidente da CNBB, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, em mensagem gravada, declarou a coragem em defesa dos mais pobres como característica de vida de Casaldáliga:
"A coragem que marcou a sua vida e o fez sempre estar, incodicionalmente, ao lado dos pobres é própria de quem cultiva um coração, uma fé sólida, inabalável. Neste dia que nos despedimos de Dom Pedro Casaldáliga, tecem orações que o seu exemplo possa inspirar cada vez mais atitude corajosas contra injustiças, sobretudo nesse grave momento da nossa história, quando os povos tradicionais estão especialmente ameaçados. Além dos já conhecidos  interesses econômicos, sofrem já com a pandemia"

Dom Walmor  finalizou a sua fala chamando a atenção que Dom Pedro deixa àqueles que verdadeiramente professam a fé cristã, diferenciando-o, assim, daqueles que ludibriam o povo para ter recompensas financeiras e/ou políticas:
"Dom Pedro Casaldáliga está junto de Deus, escrito na história do Brasil, na história de nossa Igreja e no coração de quem, verdadeiramente, professa a fé em Cristo Jesus".

Espanha se pronuncia em reverência a Dom Pedro


O caixão de Dom Pedro foi carregado pelo povo

Fernando Garcia Casas, embaixador da Espanha no Brasil, gravou uma mensagem em que lembra Dom Pedro como uma referência de espiritualidade de humanidade:
"[...] uma referência religiosa, social e humanitária. Uma referência brasileira, latinoamericana, catalã e espanhola. Foi o Bispo dos esquecidos. TInha sua casa sempre aberta. [...] Ficou perto dos homens, perto da natureza, perto do Rio Araguaia, perto da Justiça, perto de Deus"

Fernando Garcia ainda afirmou a luta de Dom Pedro diante da indiferença, da ignorância, da miséria e do rancor:
"Ele encontrou a paz na força da oração, do engajamento religioso e social e compartilhou o sofrimento pelo amor."

Emocionado, o embaixador da Espanha no Brasil cantou uma canção catalã de defesa da Catalunha contra o fascismo de Francisco Franco entoado pelo povo, pelos camponeses, pelos republicanos socialistas durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939).

Em carta enviada à Missa de Exéquias desde a Espanha, a família de Dom Pedro ressaltou a tristeza pela perda do familiar mas, também, a certeza de vida sobre a morte, segundo as próprias palavras do Bispo da Prelazia de São Felix. Como San Juan de La Cruz, também poeta e místico, que escreveu em seu poema "Coplas del alma que pena por ver a Dios", na certeza de continuidade da vida após a morte (me muero porque no muero):
[...] "vivo ou ressucitado"

MST se despede de Dom Pedro Casaldáliga


Neusa Paviato e Kelli Mafort, da Direção Estadual e Nacional, respectivamente, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, acompanharam todo o processo de Dom Pedro, desde que chegou a Batatais

Citando poema de Dom Pedro, Kelli Mafort, da Coordenação Nacional do MST, afirmou que a luta de Dom Pedro Casaldáliga deixa um legado:
[...] “um caminho aberto para que nós, do Movimento Sem Terra, continuemos seguindo os seus passos. E é isso que nós faremos. Nós do MST, nós povos do campo, das águas e das florestas.”

O corpo de Dom Pedro Casaldáliga foi transladado no início da noite para Ribeirão Cascalheiras/MT, ao o Santuário dos Mártires, onde está o corpo do Pde. João Bosco Burnier, morto durante a Ditadura Militar, em 1976. De lá, seguirá para São Felix do Araguaia e será enterrado no Cemitério dos Índios. Missionários Claretianos, presentes no velório e na missa, externaram o desejo de que, por sua vida, sua conduta em defesa dos pobres e oprimidos, Dom Pedro seja considerado Santo Súbito.



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