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sábado, 9 de julho de 2022

Memento mori

 




Não aceito uma verdade que me convence
e minto com o pensamento.
Não sei. Sei.
O pão queima no forno e só me reconheço 
quando o odor torrado
a carne torrada atinge minhas narinas.

O mar volta 
e me traz algas sobras plástico 
tudo o que não se desfaz no sal
Poluído, não boio.
À deriva, morro afogado.

Impugno uma verdade necessária e minto com a obra.
Minha sobra meus vetos. Votos de estimas.
O brasileiro nada na enchente
contrai lepistopirose, cólera 
diarreias, toxoplasmose, hepatite A.

Estimo melhoras
e se enterrado
quando não encerrado eternamente em caixão de chumbo
talvez um velório.

Vetos após aprovação necessária básica
: as escolas do campo
a obrigação de oferta ao tratamento de câncer em casa
fora da casa 
a oferta de internet grátis em escolas públicas
em mim, a oferta de uma paz laica.

Afirmo a mentira
crio falsas justificativas a meus extermínios
e minto com a palavra.
Meus vetos, meus veros não se confundem
Não acredito piamente em tudo o que minto. 

Os espetáculos estão por toda parte.
Eles plantam, 
plaina sobre madeira
plaina sobre a terra
planejam o medo
sobre a madeira
sobre a terra
um nivelamento de tudo
de todos
justificam violências 
e encurtam-me a perna esquerda
deixam-me manco

mas apesar de mim,
e do Presidente da República,
de nossas ímpias não exceções 
de nossos ímpios excessos
de todo este empalamento público
(invisível aos olhos Bestas)
Goebbels errou.
Uma mentira dita mil vezes não se tornará verdade.

O Estado elabora meu memento mori 
mas todo corpo crivado de balas
todo corpo enterrado em vala coletiva
guarda uma insígnia.

Insignificantes
dos mancos
dos enfermos, dos crivados, dos envalados
dos enfermos crivados e envalados
da fome
meus pelos
embalam
em resistência 
pelos próximos meses
uma existência se necessário 
o fim deste sigilo de 100 anos.

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