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terça-feira, 9 de dezembro de 2025

Debate no Assentamento Mário Lago reafirma reforma agrária como eixo da justiça social e climática


Da esquerda para a direita: Nivalda Alves, Guilherme Cortez, Marcelo Goulart e Joaquim Lauro Sando

Fotos: @filipeaugustoperes

Com falas que denunciaram o papel do agronegócio na crise climática e defenderam a reforma agrária como eixo da justiça social, lideranças políticas e do MST reforçaram, no Mário Lago, a centralidade da luta pela terra para o futuro do país

No último sábado (6), o Assentamento Mário Lago, em Ribeirão Preto (SP), sediou a mesa sobre a questão agrária e ambiental como parte da programação do Encontro de Amigas e Amigos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Coordenado por Joaquim Lauro Sando, da direção estadual do movimento, o debate reuniu o deputado estadual Guilherme Cortez (PSOL), o promotor de Justiça aposentado Marcelo Goulart e a dirigente estadual do MST Nivalda Alves. Também participaram da abertura a vereadora Perla Müller (PT) e a secretária nacional de Diálogos Sociais da Secretaria-Geral da Presidência da República, Kelli Mafort.

Joaquim Lauro Sando coordenou a mesa

Ao abrir os trabalhos, Joaquim destacou que o encontro acontecia em um dia de celebração, mas também de reflexão profunda. Em sua avaliação, a questão agrária permanece como um problema estrutural do Brasil há mais de 500 anos, enquanto a crise ambiental se impõe como desafio urgente. Ele afirmou que a agroecologia e a reforma agrária oferecem caminhos concretos para a superação desse cenário, mas ressaltou que a responsabilidade não pode recair apenas sobre os trabalhadores do campo.

Em sua fala, Marcelo Goulart fez um resgate histórico contundente da formação social brasileira. Segundo ele, a concentração fundiária instalada desde a colonização estruturou o latifúndio, a monocultura, o genocídio dos povos originários e a escravidão. O promotor foi enfático:

“A reforma agrária não é favor. Ela está na Constituição. É uma política pública obrigatória. Sem ela, não construiremos uma sociedade livre, justa e solidária.”

A reforma agrária está na Constituição, não é favor

Marcelo também denunciou os impactos ambientais do agronegócio e a superexploração do trabalho rural, lembrando sua atuação durante mais de 30 anos no Ministério Público. Goulart relatou as condições degradantes nos canaviais da região, com jornadas exaustivas, precarização do transporte e violações sistemáticas de direitos. Segundo ele, a terra só cumpre sua função social quando produz, respeita o meio ambiente, garante relações dignas de trabalho e assegura o bem-estar coletivo.

Na sequência, o deputado estadual Guilherme Cortez (PSOL/SP) contextualizou o debate na atual conjuntura política e internacional. Para Cortez, o mundo atravessa uma sobreposição de crises econômica, climática, geopolítica e democrática.

“A extrema-direita cresce porque oferece respostas simples, falsas, mas emocionalmente fortes. A nossa tarefa é apresentar esperança real.”

A tarefa da esquerda é apresentar uma esperança real

O deputado avaliou que a esquerda precisa retomar o diálogo com a maioria do povo trabalhador e disputar corações e mentes também nas redes sociais. Segundo Cortez, a luta ambiental no Brasil passa, necessariamente, pela reforma agrária e pela agroecologia. Ele destacou que o principal fator brasileiro de contribuição para a crise climática é o desmatamento associado ao agronegócio e às queimadas.

“Sem reforma agrária, não é possível enfrentar de verdade a crise climática”, disse.

Cortez também apontou os desafios eleitorais de 2026, afirmando que a reeleição de Lula é decisiva para barrar o avanço da extrema-direita, mas alertou para a necessidade de fortalecer a organização popular e construir uma ampla bancada comprometida com os interesses da classe trabalhadora.

A dirigente Nivalda Alves trouxe à mesa o relato da participação do MST na Cúpula dos Povos, realizada paralelamente à COP, em Belém. 

“Não existe justiça climática sem reforma agrária. São os povos do campo, das águas e das florestas que pagam o preço da crise, mas não são ouvidos.”

Sem reforma agrária popular, não haverá justiça climática

Alves criticou o financiamento de grandes empresas e bancos em nome da chamada “transição verde”, enquanto comunidades seguem sem acesso à terra, água, moradia digna e políticas para fortalecer a produção agroecológica.

Durante a abertura, a vereadora Perla Müller (PT/SP) reforçou que a reforma agrária é uma das principais ferramentas de libertação social. Para a vereadora, garantir terra, produção de alimentos saudáveis, educação e condições dignas de vida gera autonomia real para o povo.
 
“Quem concentra poder tem medo de um povo que tem tempo para se organizar.”

A reforma agrária é uma ferramenta de libertação social


Já Kelli Mafort, que também tem trajetória no MST e participou da ocupação da Fazenda da Barra, destacou o caráter histórico da conquista do assentamento dentro do perímetro urbano de Ribeirão Preto. A secretária nacional de Diálogos Sociais da Secretaria-Geral da Presidência da República lembrou que a área foi desapropriada por não cumprir sua função social, o que representou uma vitória emblemática diante da força política do latifúndio. 

“Cada pedaço de terra conquistado é resultado de sangue, luta e mobilização. Não é só justiça social, é proteção ambiental para toda a sociedade.”

Os territórios da reforma agrária são fundamentais para a preservação da biodiversidade e o equilíbrio climático

Kelli também ressaltou que os territórios da reforma agrária, das comunidades indígenas e quilombolas são fundamentais para a preservação da biodiversidade e para o equilíbrio climático. Segundo ela, os governos devem ser permanentemente cobrados, e a crítica dos movimentos sociais é parte essencial da democracia.

Ao encerrar o debate, Joaquim Lauro Sando sintetizou o sentido político da mesa ao relacionar as falas dos convidados. Segundo ele, a história, a análise da conjuntura atual e a experiência concreta da luta revelam que a reforma agrária continua sendo o eixo estruturante para enfrentar a desigualdade social, a crise ambiental e a concentração de poder no Brasil. 

Após as falas da mesa e do ato, aliados e dirigentes do MST, como Pedro Xapuri, realizaram a sua saudação ao Movimento. Após, no final, um poema foi sobre a questão agrária foi lido.



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