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terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

Câmara de Ribeirão teve audiência pública de cunho negacionista nesta segunda

A audiência pública foi requerida 
pelo vereador André Rodini (Novo)

Link da audiência pública na íntegra:  https://www.youtube.com/watch?v=5l_kWIkPSdc

Na noite desta segunda-feira, 31 de janeiro de 2021, sob a presidência do vereador André Rodini (Novo), auxiliado na Mesa pela vereadora Gláucia Berenice (DEM), ocorreu na Câmara Municipal uma audiência púbica com o intuito de debater a questão do chamado passaporte sanitário, ou passaporte vacinal, instituído por Decreto em Ribeirão Preto tanto pelo Prefeito municipal quanto pela Mesa diretora da Câmara Municipal.

André Rodini e Gláucia Berenice têm sido os dois vereadores que mais flertam com a temática negacionista na Câmara Municipal e, não por coincidência, estavam na condução da "audiência" de ontem

Vamos tentar aqui fazer um resumo do que ocorreu e analisar com base nos dados e informações os argumentos apresentados pelos debatedores que por lá passaram nas mais de 3 horas e meia de "audiência". O link da audiência completa está no início deste texto. Colocaremos links sobre cada argumento apresentado, mas é preciso que cada um faça uma procura básica pelas informações verdadeiras, no sentido de se posicionar corretamente diante dessa tragédia sanitária que atravessamos e diante da avalanche de fake news e desinformação disseminada pelo movimento negacionista.

Mãos à obra.


O INÍCIO

Logo no início, Rodini disse que o que motivou o pedido de audiência foram os "pedidos de cidadãos" interessados em debater o tema do passaporte vacinal. E Gláucia, representando a Mesa Diretora, segundo fala de Rodini, disse que o ato da Mesa Diretora da Câmara, que instituiu o passaporte vacinal na Casa em janeiro, "não é corroborado pela maioria dos vereadores" (fala polêmica e que coloca cada vereador na Casa na mira da cobrança pública). Para Gláucia, a atitude do Presidente Alessandro Maraca teria sido um "ato autoritário" e que ela, como parte da Mesa, teria solicitado a retirada de seu nome do documento. Na sequência, manteve o tom da fala: "uma violência (...) fala-se em direito coletivo, uma coisa abstrata, e se ignora o direito individual, algo concreto (...) até quando vamos assistir passivos violações, segregação e violência?", questionou.

No plenário, Rodini anunciou as presenças dos vereadores Brando Veiga, Judeti Zilli, Duda Hidalgo e Renato Zucoloto. Na plateia, cerca de 50 pessoas, na maioria negacionista, aplaudia a cada defesa da agenda antivacina e vaiava os raros momentos onde houve uma opinião contrária. Nos comentários do chat, por onde a audiência foi transmitida, também a presença de uma maioria totalmente negacionista. Alguns dos comentários: "vacina não funciona", "vacina mata", "é experimental", "querem escravizar o povo", "a maioria dos vacinados está sendo internada", "quem injeta o líquido experimental nas pessoas é assassino" e por aí foi.

OPINIÃO: a pauta negacionista é um movimento internacional com fortes reflexos no Brasil. É uma temática profundamente ligada aos movimentos de extrema direita e bolsonarista e têm sido uma constante desde o início da pandemia em 2020. Certamente os cidadãos que solicitaram essa "audiência" ao vereador Rodini são parte desse movimento e estavam representados ali na Câmara. Aliás, eles próprios mencionaram durante a sessão que haveria "umas 300 pessoas do lado de fora da Câmara" por não terem o comprovante de vacina. A "audiência" foi um momento para, mais uma vez, Rodini e Gláucia estreitarem relações com esse movimento, coisa que acontece desde 2020. E, conforme vocês podem constatar ao assistir a audiência, ela teve forte cunho negacionista, incluindo informações bastante problemáticas apresentadas pelos debatedores e pelo público presente.


AS FALAS DOS MÉDICOS

No total, 6 médicos usaram da palavra na audiência. 3 deles com claro discurso contra o passaporte e, também, contra a vacina. Apenas um colocou uma narrativa contra o negacionismo e a favor do passaporte. E dois fizeram um discurso de bagre ensaboado e ficaram em cima do muro.

Vejamos.

O primeiro a falar foi o médico endocrinologista Gustavo Leopoldo Daré, que atua em sua clínica particular. Daré iniciou respondendo uma pergunta que André Rodini diz ter sido enviada a ele por um munícipe: "Qual a explicação para as baixas internações anteriormente e agora a volta do crescimento. É a vacinação?". Daré busca mostrar que há uma polêmica estabelecida na sociedade e, mostrando slides, diz que "Dinamarca, Holanda e Reino Unido estão diminuindo as regras de distanciamento". Pergunta "qual o objetivo do passaporte vacinal: é temporário ou vamos discutir uma remodelação social e de responsabilidade mútua?". E segue: "Nosso corpo é a nossa propriedade individual, o direito de propriedade individual e a escolha sobre ele é nossa. Qual o conhecimento que você usa para tomar uma decisão: a ciência, o bom senso ou o empirismo do cotidiano? A ciência não pode ser referência de autoridade. A ciência é instável. Medicina também não é referência de autoridade, pois medicina não é ciência, é uso de tecnologia". Na sequência, usou o último boletim epidemiológico da Prefeitura para mostrar que "91% da população já tomou a primeira dose, 80% já tomou a segunda dose e 48% já tomou a terceira dose de reforço". Números da população adulta. Na sequência, mostrou gráficos que indicam um aumento de casos na virada do ano. Por fim, afirmou que a eficiência da vacina "diminui após 14 semanas" e que existem riscos de trombose e miocardite. O doutor Daré foi aplaudido pela plateia negacionista presente.

VAMOS LÁ: segundo artigo do Instituto Butanttan (veja AQUI), com base em estudos da Agência de Segurança em Saúde do Reino Unido em conjunto com o Centro de Pesquisas Médicas da Universidade de Cambridge, a variante ômicron, uma variação genética da SarsCov2, tem maior potencial de contágio, mas esse contágio é 6 vezes maior em não vacinados e aqueles com o ciclo vacinal incompleto. Isso explica porque o número de infecções aumentou consequentemente com o número de internações e de mortes. Também segundo o Instituto Butantan (veja AQUI), o número de internações e de mortes no mundo e no Brasil é maior entre os que não têm vacina ou têm o ciclo vacinal incompleto. E o ciclo de vacinação tem evitado um aumento proporcional no número de mortes. Na Europa, onde o índice de vacinação é superior a 80%, o impacto da ômicron é menor do que nos EUA, onde o índice de não vacinados (uma grande parte negacionista) é de 40%. Em Ribeirão Preto, onde 80% tem o ciclo vacinal completo, a taxa de agravamento é 50% menor do que janeiro de 2021, início da segunda onda e onde ninguém estava vacinado. Sobre se a Ciência deve ou não balizar as tomadas e decisões pelos agentes públicos, sugiro este artigo do IPEA (Veja AQUI) sobre o papel fundamental dos órgãos oficiais de saúde, nos organismos de obtenção e análises de dados e dos centros de ciência e pesquisa nas ações governamentais no Brasil durante a pandemia. Ação fundamental para salvar vidas.

O segundo a usar da palavra foi o infectologista da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto Valdes Roberto Bolella. A pergunta "do público" encaminhada por Rodini a ele foi: "Como se dá a infecção viral das variantes da Covid-19?". Segundo o Professor Bolella, "a transmissão é parecida para as variantes, mas as variantes podem encontrar mecanismos para driblar as defesas do organismo". Entrando na narrativa defendida pelos negacionistas de que o direito individual se sobrepõe ao direito coletivo, Bolella disse que "é importante o direito individual mas, em uma situação como esta, precisamos encontrar caminhos para proteger o conjunto das pessoas". E continuou: "claro que cada um pode decidir se receberá ou não a vacina, mas a vacinação mudou o caminho da pandemia. A primeira e a segunda onda foram terríveis, pois não havia vacina nem tratamento. A vacina mudou a história da doença. Os vacinados têm 11 vezes menos chances de morrer do que os não vacinados. Quando se vacina a pessoa se protege, protege a sociedade e o sistema de saúde". Nesse momento, os negacionistas da plateia começam a gritar em protesto à fala do Professor Bolella. "Toma vacina quem quiser, mas a sociedade pode encontrar mecanismos para proteger o coletivo. Tem que fazer testes e cobrar o comprovante vacinal", finalizou. O Professor Bolella foi o único médico na audiência a confrontar a narrativa negacionista.

VAMOS LÁ: o Professor Bolella está certo tanto nas questões das diferentes formas de infecção viral, assunto no qual ele é referência, quanto no aspecto jurídico, pois, segundo entendimento do STF (Veja AQUI) e de renomados juristas em estudo publicado na revista britânica Frontiers in Public Health (Veja AQUI). Em uma pandemia ou situação de gravidade social, o direito coletivo se sobrepõe ao direito individual. Portanto, a fala da vereadora Gláucia no início da audiência afirmando que o direito coletivo é abstrato é repleta de incompreensão da mesma. No caso de uma pandemia, o direito coletivo, difuso, ganha positividade e importância jurídica. E o professor Bolella também tem razão com relação à população vacinada: as variantes da COVID, incluindo a ômicron, que é mais contagiosa, afeta mais os não vacinados, no Brasil e no mundo (Veja AQUI ). E, mais, as vacinas cumprem o papel para o qual foram encaminhadas: tornar os casos menos graves (VEJA AQUI QUE É FAKE NEWS A INFORMAÇÃO DE QUE A OMICRON AFETA MAIS OS VACINADOS).

A terceira médica a falar foi Maria Emília Gadelha. Logo ao ser anunciada, a doutora Maria Emília foi aplaudida pelos negacionistas pois ela e suas opiniões contra a vacinação já são conhecidas nesse meio. Para ela, Rodini direcionou a seguinte questão "do público": "Como as crianças reagem aos diferentes vírus em comparação aos adultos?"Disse a doutora Maria Emília: "Imunidade em crianças é mais eficiente. De repente as crianças passaram a morrer segundo notícias da imprensa". Na sequência, repetindo a narrativa do movimento negacionista, defendeu as liberdades, os direitos individuais e a autonomia médica. Disse que várias manifestações contra o passaporte sanitário estão ocorrendo no mundo. Mostrou uma foto dizendo que a Austrália faz "campos de quarentena". Fez referência ao julgamento de Nuremberg, sobre o nazismo e sobre experimentação humana. A partir daí, direcionou suas armas contra a vacina. "A vacina é experimental (...) uma vacina regular dura 14 anos para aprovação". Um negócio de 200 bilhões por ano e agora querem a 4a e a 5a dose. Através de uma campanha de desinformação e pouco alerta sobre os riscos da vacina", disse. Mostrou "estudo" que diz sobre a eficácia da invermectina (medicamento que faz parte do "tratamento precoce"). Mostrou outro estudo que "indica" que a queda nas mortes não tem nada a ver com a vacinação. "As vacinas estão sendo feitas com a pior parte do vírus: vários casos de trombose, miocardite, AVC", afirmou. Mostrou uma notícia sobre o estado estadunidense de Wisconsin e que ali cadáveres estariam sendo "liquefeitos" pois os EUA já esperam "grande volume de mortes" (por causa da vacina). A doutora maria Emília foi uma das mais aplaudidas pela plateia presente. 

VAMOS LÁ: no início da pandemia as crianças também foram acometidas pela doença, mas em menor escala e com quadros mais leves ou assintomáticos. Um estudo da revista Nature, de 2021, mostra que o sistema imunológico das crianças é capaz de responder de forma mais eficaz contra o vírus, através da obstrução da ação da proteína Spike, usada pelo vírus para infectar as células (Veja AQUI). Esse processo imunológico também agia bem contra a variante Delta. Porém, as mutações da variante ômicron modificam certas características da proteína Spike (Veja AQUI) e as crianças começam a ser afetadas, ainda mais que este público ficou de fora dos ciclos de vacinação. Sobre a Austrália ter "campos de quarentena", é Fake News já desmentida (VEJA AQUI). Aliás, na Austrália a vacinação não é obrigatória, embora haja debates sobre a exigência de comprovação vacinal para a frequência em certos locais, como aqui no Brasil. Chamar as vacinas de "experimentais" faz parte da narrativa negacionista ao redor do mundo desde julho de 2021, quando elas começaram a ser utilizadas. Os órgãos oficiais de saúde utilizam o termo "fase experimental" porque as vacinas aprovadas para uso emergencial, devido à gravidade da pandemia, estão no terceiro estágio em humanos, ou seja, já passaram por todos os estágios anteriores (inclusive pré-clínico e em animais), e são seguras (Veja AQUI). E, por último, vamos deixar em segundo plano a tentativa da doutora maria Emília de insinuar que a Covid e as vacinas fazem parte de um complô internacional do sistema globalista, coisa de malucos da deep web, e vamos focar na afirmação de que as vacinas causam trombose, AVC e miocardite em adultos e crianças. Primeiro, a doutora Maria Emília já foi desmascarada na sua narrativa de tentar criminalizar a vacina a partir de uma palestra que deu na ALESP ano passado (Veja Aqui: MÉDICA DISTORCE ESTUDOS PARA ATACAR VACINAS E É DESMENTIDA PELO AUTOR). Segundo, estudos publicados na Finlância em 2017 e  pelo Centro de Pesquisa de Hong Kong em 2021 são utilizados de maneira propositalmente equivocada pelo movimento negacionista (Veja AQUI). mostram que o índice de miocardite em crianças e adolescentes é de 18 e 32 por cada 100 mil na primeira dose e segunda dose da Pfeizer, e 90% dos casos foram leves. Dados do FDA dos EUA (Veja AQUI) mostram que os riscos de miocardite e da síndrome inflamatória multisistêmica pediátrica são 60 vezes maior adquirindo covid do que tomando uma vacina de RNA, como a Pfeizer (Veja AQUI). Sobre a liquefação de corpos em Wisconsin: o primeiro estado a autorizar uma empresa privada a fazer adubo de cadáveres, com autorização da família ou da pessoa, foi Washigton, em 2019, e não tem nada a ver com a pandemia (Veja AQUI).

Seguindo a fila de médicos defensores da narrativa dos anti-vacina, a médica Gelci Campos, virologista, tomou a palavra. A ela, André Rodini endereçou a seguinte pergunta ("do público"): "Como se comportam as mutações virais em ambiente natural?". A doutora começou até que bem dizendo que o vírus SarsCov2 é um vírus emergente e bastante mutante por ser de RNA, assim como foi o Hantavirus. "Temos 3 fases da pandemia: 1a, 2a e 3a onda. Os vírus de RNA são muito mutantes", disse. Mas, de repente, fez um cavalo-de-pau e passou a defender a narrativa que fez a plateia, até ali desconfiada, soltar os aplausos. "Os efeitos colaterais são reais (...) vacinação em criança é temerária. (...) as crianças que morrem têm muita comorbidade. (...) não dá pra usar vacina pra diminuir a transmissão do vírus, (...) indivíduo tem o direito de escolher. O fabricante afirma que não se responsabiliza pelos efeitos. (...) nunca tanta gente morreu de mal súbito como hoje em dia. (...) dizer que não há tratamento é muito ruim. Essas máscaras são terríveis. Nunca vi vacinar gestante!", emendou de uma vez para delírio da plateia.

VAMOS LÁ: o objetivo principal da vacinação é impedir as formas graves da doença e as mortes, e tem sido muito eficaz nisso (Veja AQUI). Porém, estudos dos órgãos de saúde dos EUA mostram que as vacinas Pfeizer e Moderna tem eficácia de 90% em conter nova infecção da primeira cepa do vírus e da variante Delta (Veja AQUI). Não há dados confiáveis para se afirmar que "nunca sse morreu tanto de mal súbito como hoje", colocando a culpa na vacina. As grávidas são vacinadas pois a Covid-19 traz enormes riscos para as gestantes e puérperas e desde o início do ciclo de vacinações estudos monitoram a segurança das vacinas (Veja AQUI).

Na sequência, o doutor Osvaldo Takayanagui, representante do CRM, e o doutor José Carlos Moura, Secretário de Saúde de Ribeirão Preto, fizeram o discurso vaselina, bagre ensaboado e ficaram em cima do muro diante da plateia negacionista que não soube se aplaudia ou vaiava. Osvaldo Takayanagui. "O CRM é a favor da vacinação obrigatória?", perguntou um Rodini visivelmente empolgado. "As vacinas, na história, fizeram um grande bem para a humanidade. O Código de Ética Médica abrange o direito individual e a preocupação com a coletividade. (...) os benefícios da vacina são superiores aos efeitos colaterais. (...) a ANVISA aprovou após estudos aprofundados. O CRM não tomou posição (sobre o passaporte vacinal) pois há divisão de opiniões dentro do órgão. (...) 85% dos internados são de não vacinados ou com vacinação incompleta" (nesse momento teve um pouco de vaia pro doutor Takayanagui). Já o Secretário Municipal de Saúde RP foi perguntado se "A Prefeitura tem testes suficientes para toda a população a cada 7 dias?".  "Não temos essa quantidade de teste", respondeu. Titubeante, prosseguiu: "Estamos vivendo mais uma onda de variante e as internações aumentaram e as mortes também, impactando mais a população mais idosa com comorbidades. Muitas pessoas não têm levado à sério as indicações das autoridades sanitárias. O passaporte vacinal é polêmico e merece ser discutido", disse o Secretário, tentando fazer amizade com a galera. Em seguida, ele reclama da "polarização política" em torno do tema, elogia o programa de vacinação municipal e diz que a população apoiou a vacina. "Ninguém é obrigado a vacinar, mas a vacina traz benefícios e as internações e mortes caíram. Ainda faltam muitas respostas frente a uma doença nova. Não vivemos uma situação normal. A liberdade das pessoas impacta o coletivo", disse, quase de fininho


A FALA DA ACI

Chegou a vez do Igor (foi dessa forma que ele foi apresentado pelo André Rodini), representante da ACI. Rodini anunciou que a ACI divulgou uma pesquisa que mostra 82% dos associados da entidade contra o passaporte vacinal em ambientes públicos ou privados (foi aplaudido pela plenária). "Representando 5 mil empresários, qual a opinião da ACI sobre o passaporte vacinal em ambientes privados?", perguntou um Rodini empolado. "Não somos contra a vacina. Quem quer se vacinar se vacine, mas sem tolher liberdades individuais. Nós fizemos a pesquisa para tomar posição e nossa posição é essa (contra o passaporte vacinal)", disse Igor, sob aplausos.

VAMOS LÁ: a ACI foi uma instituição que se colocou contra as medidas de isolamento social desde o início da pandemia. A velha e fajuta discussão entre saúde e economia, bem ao gosto de Bolsonaro. O fato é que, por ausência de uma política unificada do governo federal e pela bagunça irresponsável na compra de vacinas em 2021, apostando na loucura da imunidade de rebanho de uma doença absolutamente nova, nem a saúde nem a economia foram prioridade. Enquanto a ACI focou em combater Dória e Nogueira, que merecem todas as críticas, poupou Bolsonaro e quem mais sofreu, de fato, foram os comerciantes. Se é factível ou não cobrar passaporte de vacina em lojas pode ser um motivo, sim, de debate, mas que os comerciantes de Ribeirão Preto também cobrem de sua associação as responsabilidades devidas pela situação terrível que vivem.


A FALA DOS ADVOGADOS

A sequência de advogados que usaram da fala começou com Paulo Cesar Faria. A pergunta "do público" feita por Rodini foi: "A vacinação deve ser obrigatória e qual a sua legalidade?". Faria começou com tudo: "As decisões do STF nas ADI 6586 e 6587 diz que restrições do ir, vir e estar em algum lugar só mediante lei. E Decreto não é lei. Portaria e resolução não são leis. Gestores públicos estão desvirtuando a legalidade. E o MP não age". Em seguida, questionou a eficácia das vacinas "produzidas em seis meses", mostrando dados da Santa Casa de Misericórdia de Passos/MG onde, supostamente, 82% de internados eram vacinados. E mostrou pesquisa da UNIMED de Fortaleza, onde, supostamente, 85% de internados vacinados. "A vacina é um controle social do Estado e a vacina é uma ilusão. Os gestores estão colocando a vida das pessoas em perigo ao induzir a vacinação", terminou, no ápice da empolgação antivacina, sob aplausos.

VAMOS LÁ o STF decidiu que vacinação obrigatória não é vacinação ‘forçada’. Eles entenderam que medidas restritivas são necessárias porque saúde coletiva não pode ser prejudicada por decisão individual (Veja AQUI). O STF decidiu, diante da interpretação da Lei 13979/20, que Prefeitos e Governadores podem determinar medidas restritivas durante a pandemia, e o Governo Federal também (Veja AQUI). O STF vem conferindo jurisprudência a decretos de governadores e prefeitos diante das medidas de interesse sanitário de caráter excepcional (Veja AQUI). O caso dos daods da Santa Casa de Passos: os números mostram que 69% dos pacientes com casos graves são do ciclo vacinal incompleto ou sem dose de reforço e são pacientes idosos com sérias comorbidades (Veja AQUI). Sobre a UNIMED Fortaleza (Pacientes da Unimed Fortaleza internados sem vacina é quase o dobro dos vacinados, afirma médico). Sobre a frase dita "a vacina é uma ilusão" só resta pensar que essa fala seria uma ilusão em um pesadelo, mas ela foi dita de verdade em sessão pública na Câmara de Vereadores de Ribeirão Preto. Fica para a história. Triste história.

Na sequência das falas, o Promotor Sebastião Sergio da Silveira. "Sempre me baseei nas informações e orientações das autoridades sanitárias. Sobre a eficácia e segurança das vacinas eu me fio na ANS. A vacinação tem sido feita em larga escala em todos os países do mundo", disse na tentativa de delimitar terreno diante dos negacionistas. Seguiu dizendo, corretamente, que "a vacinação não é obrigatória. Mas com relação às crianças é um pouco diferente pois o ECA diz que é obrigatório". Citou os dados do Hospital Ronaldo Gasol no RJ, o maior hospital de Covid do país: 90% dos internados são de não vacinados ou ciclo vacinal incompleto. A internação caiu de 9 para 3 dias por conta da vacina. Demonstrou preocupação com as fake news e com a politização da pandemia. "Nos prédios do MP só entra com comprovação de vacina", encerrou sob vaias da galera.

Na sequência, uma polêmica que obrigou a OAB-RP a publicar uma nota nesta terça reafirmando ser a favor da vacina e do passaporte vacinal (a nota da OAB estará no final do artigo). A fala passa para o advogado Marcos Tulio Paranhos, representante da área sanitária da OAB-RP. "Qual a posição da OAB sobre o passaporte vacinal?", Rodini pergunta. Marco inicia dizendo que a OAB e ele mesmo não são contrários à vacina. Que ele pensa, e a OAB também, que os direitos individuais tem de ser respeitados. Que o direito individual tem de valer. O início da fala já apontava o que vinha pela frente. Seguiu o representante da OAB: "O STF julgou a vacinação compulsória e não determinou (a obrigatoriedade)". "O tema do passaporte vacinal é um tema não superado", prosseguiu.  Deu a entender que se não tem lei a respeito, não pode. "Entrem na justiça se se sentirem lesados, façam mandado de segurança". No final, ao tratar de vacina, o ponto mais delicado da fala: ele questiona a eficácia comparando com a vacina da polio. Segundo o advogado, quem toma a vacina da Polio tem imunização total, quem toma a vacina da Covid, não tem. "Por que impor uma limitação individual se não tem nada comprovado se é algo bom?", termina.

VAMOS LÁ: para responder ao advogado, a nota da própria OAB-RP emitida no dia de hoje.



No final, a fala do advogado Ricardo Freire Vasconcelos - "O passaporte vacinal infringe leis?", pergunta Rodini. "Como dizia meu amado professor Olavo de Carvalho...", inicia o doutor Ricardo, já mostrando a que veio. "Não sou contra a vacina. Mas as vacinas contra a covid são experimentais e levam a efeitos colaterais graves. Não são vacinas, são experimentos", disse. O doutor repetiu argumentos que servem à narrativa negacionista e já contra-argumentamos em comentários acima neste artigo. Bom, vamos lá.  "A ADI do STF veda a vacinação forçada, sem o consentimento da pessoa", informa. Na sequência, lê o trecho da ADI: "Diz a ADI: "a implementação da vacinação obrigatória, excluída a imposição da vacinação forçada, afigura-se legítima dentro da Lei". Disse que as vacinas obrigatórias no Brasil (polio, meningite, varíola), para crianças, não são "experimentais". E termina dizendo que o decreto do prefeito é abusivo, inconstitucional. Defende que ao invés do passaporte vacinal, a prefeitura tem de fazer teste em todo mundo. "No futuro todos os que estão induzindo a vacinação devem ser judicializados", encerra.

VAMOS LÁ: "a implementação da vacinação obrigatória, excluída a imposição da vacinação forçada, afigura-se legítima dentro da Lei" (STF). É isso aí. O resto é olavismo.

Após as falas dos convidados, 10 membros da plateia usaram da palavra: 9 negacionistas anti-passaporte e anti-vacina e um defensor que fez um discurso em defesa da ciência, da vacina e do passaporte, o Professor Fábio Sardinha que, de maneira heóica, ficou presencialmente ali as 3 horas e meia.

Cuidado com as fake news, a politização insana do debate sanitário e vacine-se e vacine os seus.

Ricardo Jimenez - Editor do Blog O Calçadão






2 comentários:

Alegre Viver - Kundalini Yoga disse...

Parabéns Ricardo, por esse excelente trabalho que nos proporcionou conhecer quão atrasados estão alguns vereadores e mesmo profissionais da saúde, com relação à vacinação.

Professor Lages disse...

Excelente. Bem completo. Parabéns!

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