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quinta-feira, 19 de março de 2015

Brasil: seus caminhos e seus golpes!


O neto de Tancredo Neves não admite ter perdido a eleição de outubro de 2014 e apela para o golpismo.

Isso fica bem claro desde que o resultado das eleições foi divulgado no início da noite do dia da eleição. Sabe-se que deu o telefonema de praxe para a vitoriosa Dilma Roussef, no último gesto democrático desde então.

Mas o neto de Tancredo não age sozinho. Ao pedir recontagem de votos, ao requerer ser diplomado no lugar da vencedora e ao organizar a manifestação de domingo último, agiu em conluio com a mídia. A aliança mídia-tucanato age claramente não só pelo 3o turno eleitoral, age pelo golpe. Pela derrubada de um governo eleito legitimamente a partir da sua fragilização, coação e isolamento.

No domingo das manifestações, que eu chamo de micareta da Globo, o neto de Tancredo publicou a foto acima, onde a data claramente faz referência ao ato da manifestação e à relação entre Tancredo e seu neto, a eminência nem tão parda por detraz de tudo.

Tancredo sempre foi um democrata, um legalista, uma figura equilibrada e sempre lembrada nos momentos de crise. Foi o pilar político onde se montou a estrutura do processo de redemocratização do país. Tancredo jamais usaria a data de 15 de março para emoldurar um conluio golpista contra um governo legítimo. Tancredo jamais se vestiria de verde e amarelo na janela de um apê de luxo, e ao telefone, feito um capo "canarinho" a monitorar uma infâmia.



Quando Tancredo Neves foi eleito pelo Colégio Eleitoral para encerrar um ciclo ditatorial, ele restabelecia o rito democrático a um país após um golpe desferido contra um presidente legítimo e constitucional, João Goulart. Mais do que Jango, o golpe de 64 feriu um projeto, um projeto nacionalista de desenvolvimento que previa as reformas de base e a democratização do país através da ampliação do acesso das massas populares ao debate político.

Esse caminho democrático e popular nunca foi aceito pelas elites e muito menos pelos interesses estrangeiros. A aliança golpista de 64, que reuniu políticos, empresários e militares, destruiu boa parte da aliança nacionalista de Jango. A esquerda mais combativa foi dizimada nos porões da ditadura. O que ressurgiu em 1985 com Tancredo Neves foi um arremedo do progressismo vivo do governo Jango (excetuando o grande Leonel Brizola, que corajosamente governou o Rio de janeiro contra a vontade da Globo). E ainda por cima houve a morte trágica do pilar da arrumação democrática. Tancredo morreu antes de tomar posse.

A mídia, junto com seus políticos adesistas, montou a sua estrutura monopolista no governo Sarney, a partir do Ministro das Comunicações Antônio Carlos Magalhães. Com esse poder nas mãos, a mídia elegeu e apeou Collor do poder, construiu a figura de FHC como fundador do Real, quando se sabe que seu fundador foi Itamar Franco.

Foi no governo FHC que a aliança mídia-tucanato foi montada. Foi lá que se abriu o monopólio do petróleo, foi lá que se abriu a possibilidade de corrupção na Petrobrás quando FHC mudou a forma de licitação na empresa, foi lá que privatizaram a Vale do Rio Doce, foi lá que entregaram todo o sistema elétrico nacional financiando empresas estrangeira com dinheiro do BNDES, foi lá que se fizeram um PROER para salvar um banco pertencente a uma figura sinistra da República (leia a Privataria Tucana e o Príncipe da Privataria).

Foi no governo FHC que a aliança mídia-tucanato se sentiu à vontade para instalar no país um modelo neoliberal de governo, de entrega do patrimônio nacional e de profunda corrupção na relação entre governo e o poder privado nos processos de privatizações. Um modelo que gerou as maiores taxas de desemprego da história e que levou a indústria nacional à beira da eliminação total.

Foi esse projeto que foi derrotado em 2002 com Lula. Apesar da Carta ao Povo Brasileiro, um afago na estrutura de poder neoliberal que fora derrotada, Lula representou outro projeto. Pela primeira vez após a derrubada de Jango, e a eliminação de toda a esquerda progressista pré-ditadura, um projeto de poder retomava, mesmo que timidamente, os instrumentos do Trabalhismo criado por Vargas (e que FHC com sua arrogância medíocre disse que iria acabar).

Muito mais do que a corrupção, que sempre existiu na natureza patrimonialista nacional, muito mais do que a decepção que parte do PT provocou (em quem infantilmente acreditava na pureza absoluta de alguns seres humanos), é a disputa pelo projeto nacional que está em jogo.

É isso que leva o neto de Tancredo a organizar um movimento golpista, sustentado em uma investigação seletiva feita em Curitiba, com "vazamentos" pela mídia, e por uma CPI que se recusa a investigar a Petrobrás desde 97, ano em que o um dos ladrões confessos iniciou a roubar a empresa.

Acima da corrupção (que rouba 88 bilhões por ano) e da sonegação (que rouba 502 bilhões ao ano, e cuja a CPI do HSBC o PSDB não assinou), está o projeto nacional. Acima do jogo de poder travado nas cúpulas partidárias, e regado com verbas empresariais, está o destino do Brasil e do seu povo.

Constitucionalmente, o projeto de país foi julgado eleitoralmente em outubro último, e venceu, pela quarta vez seguida, o projeto proto-Trabalhista em vigência desde 2003.

Cabe agora ao processo político e popular, fora da esfera golpista da turma do neto de Tancredo, buscar debater as reformas necessárias ao país.

Eis uma agenda que o Calçadão defende: reforma política com proibição de doações empresariais, regulação econômica da mídia, investigação na Petrobrás desde 97, investigação no BNDES desde 98 (inclusive os empréstimos feitos a grandes veículos de mídia), CPI do HSBC, introdução de um imposto sobre grandes fortunas que fortaleça os orçamentos municipais e regulamentação dos conselhos populares que busquem, principalmente na esfera municipal, propor e fiscalizar a implementação orçamentária da administração pública.

Que se investigue tudo e todos, mas que se respeite a soberania popular nas suas escolhas mais profundas.

Ricardo Jimenez



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