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quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Meta anuncia "retorno às raízes" com novas velhas políticas de moderação e checagem

 

Decisão desafia a soberania e autonomia dos povos
Imagem gerada por IA


Zuckerberg se une ao presidente Donald Trump e defende mudanças que enfraquecem a checagem profissional de informações e à moderação de discursos de ódio


A Meta, empresa que controla o Facebook, Instagram e Threads, anunciou nesta terça-feira (7), uma ampla reformulação em suas políticas de moderação de conteúdo. Em discurso divulgado na noite desta terça-feira, o CEO Mark Zuckerberg afirmou que a iniciativa busca resgatar a liberdade de expressão como valor central das plataformas. No entanto, especialistas alertam para os possíveis impactos negativos, como o aumento de desinformação, do discurso de ódio e a polarização do debate público.


Zuckerberg argumentou que deseja reduzir o que considera ser censura 


Em sua fala, Zuckerberg argumentou que os sistemas complexos de moderação implementados nos últimos anos geraram “muitos erros e muita censura”. O CEO defendeu que as plataformas devem simplificar suas políticas para minimizar equívocos e evitar a exclusão de conteúdos legítimos. 


“Chegamos a um ponto em que há muitos erros. Voltaremos às nossas raízes e nos concentraremos em reduzir os erros, simplificar nossas políticas e restaurar a liberdade de expressão”, declarou.


Entre as mudanças anunciadas, a Meta substituirá verificadores de fatos por um sistema de “notas da comunidade”, inspirado no X (antigo Twitter), do super rico de extrema-direita Elon Musk. 


Segundo Zuckerberg, os verificadores eram politicamente tendenciosos e prejudicaram a confiança dos usuários, especialmente nos Estados Unidos. Ele também anunciou uma revisão de filtros de moderação, que agora priorizarão a remoção de conteúdos ilegais e de alta gravidade, enquanto violações menores só serão investigadas mediante denúncia.


Outra mudança significativa anunciada pelo criador do Facebook será a revisão de políticas relacionadas a temas sensíveis, como imigração e gênero, que, segundo Zuckerberg, “foram longe demais” ao excluir opiniões divergentes. 


Sem especificar quais e quem, a Meta também promete reintroduzir conteúdos políticos e cívicos em suas recomendações, atendendo a uma "nova demanda dos usuários".


Especialistas Alertam para os Riscos


Especialistas ouvidos após o discurso consideram que as medidas podem gerar consequências preocupantes. A substituição dos verificadores de fatos por notas da comunidade, por exemplo, pode comprometer a qualidade da informação disponível. 

Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo condena mudanças anunciadas pela META

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) manifestou sua preocupação após a Meta anunciar que deixará de apoiar veículos jornalísticos especializados na checagem de fatos e no combate à desinformação nas suas plataformas. A medida, que afeta agências e profissionais de checagem de informações, foi vista pela Abraji como um retrocesso no combate à desinformação e um risco à qualidade da informação circulante nas redes sociais.

Em nota, a Abraji destacou que o trabalho realizado pelos jornalistas dedicados à verificação de fatos segue critérios rigorosos de transparência e imparcialidade, com base nas diretrizes da International Fact-Checking Network (IFCN). Os profissionais desse setor, segundo a entidade, não têm o objetivo de remover conteúdos das plataformas, mas sim corrigir informações equivocadas que possam prejudicar o direito dos cidadãos à informação verificada.

A associação alertou ainda para os perigos da substituição do trabalho especializado por ações voluntárias de usuários das redes sociais. A Abraji ressaltou que, em um cenário de crescente poluição informativa, agravado pelo uso de ferramentas como a inteligência artificial, a verificação profissional se faz ainda mais necessária para preservar a democracia e garantir a qualidade do debate público.

A Abraji também reiterou que o projeto Comprova, uma coalizão de veículos de comunicação dedicada à verificação de boatos, não recebe financiamento da Meta nem participa do programa de checagem de informações descontinuado pela empresa nos Estados Unidos.

Com a decisão da META, a preocupação da Abraji é que o enfraquecimento das iniciativas de checagem de fatos possa facilitar a disseminação de desinformação, colocando em risco direito dos cidadãos à informação precisa e imparcial.


O relaxamento nos filtros de moderação também é motivo de preocupação. Embora a Meta argumente que a mudança reduzirá a censura injusta, especialistas destacam que a medida pode normalizar a circulação de discursos de ódio e notícias falsas. 


Em artigo publico no ebook DESINFORMAÇÃOO MAL DO SÉCULO VOL 2, O Futuro da Democracia:Inteligência Artificial e Direitos Fundamentais, o Ministro José Antonio Dias Toffoli, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), explorou os impactos da desinformação sobre a democracia e as estratégias do sistema de justiça brasileiro para enfrentar o problema. O artigo, que integra uma coletânea sobre desinformação, abordou desafios enfrentados em um cenário global hiperconectado.

Em seu texto, Toffoli destacou que “as plataformas de redes sociais são o exemplo mais vívido dos novos tempos”, e alertou sobre os riscos que elas trazem. O Ministro destacou que a desinformação pode comprometer a democracia, criando “um ambiente de crescente desconfiança e descrença” e dificultando o diálogo plural essencial para a convivência democrática.

O Ministro ainda lembrou o papel central da Justiça Eleitoral no enfrentamento da desinformação no Brasil, como a criação do Conselho Consultivo sobre Internet e Eleições em 2017 e a implementação do Programa de Combate à Desinformação pelo STF em 2021 e citou medidas como a remoção de conteúdos inverídicos e a regulamentação do uso de inteligência artificial em propagandas eleitorais.

Além disso, Toffoli chamou atenção à importância de uma abordagem multidimensional para combater a desinformação, que inclua “transparência por parte de portais e provedores” e “alfabetização midiática e informacional” para capacitar a sociedade no uso crítico das plataformas digitais.

Dias Toffoli concluiu defendendo a necessidade de equilíbrio entre liberdade de expressão e combate à desinformação, afirmando que 


“não podemos renunciar ao uso ético e transparente das novas tecnologias, sob pena de colocar em risco nossas conquistas civilizatórias”.

Zuckerberg se junta à Trump para pressionar governos a modificarem suas leis de moderação de conteúdo e checagem de fatos


Sem afirmar o porquê as equipes baseadas na Califórnia seriam parciais, outra novidade anunciada por Zuckerberg é a transferência das equipes de confiança e segurança para o Texas. De acordo com o CEO da Meta, a mudança busca "reduzir a percepção de parcialidade associada às equipes baseadas na Califórnia"


Zuckerberg também anunciou parceria com o presidente Donald Trump (Partido Republicano) para atacar soberanias nacionais e pressionar governos estrangeiros a cessar práticas que, segundo ele, violam a liberdade de expressão.


A Meta promete implementar as mudanças gradualmente nos próximos meses, iniciando pelos Estados Unidos. A receptividade do público e os impactos reais das reformas definirão se a estratégia será um avanço ou um retrocesso para o ambiente digital.


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