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O agro não é sustentável Imagem gerada por IA a partir da matéria |
Confederação se opõe a projetos de lei que reforçam o controle ambiental no uso da água, do solo e do fogo, revelando baixa disposição do setor em alinhar crescimento econômico à preservação dos recursos naturais
A Confederação da
Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) reforçou, nesta quarta-feira (26), sua
posição contrária a diversas propostas ambientais em tramitação no Congresso
Nacional. A manifestação consta na Agenda Legislativa do Agro 2025, entregue
durante sessão solene realizada no plenário da Câmara dos Deputados, em
cerimônia que reuniu parlamentares da Frente Parlamentar da Agropecuária e
representantes do setor ruralista.
O documento anual — que explicita os projetos de lei apoiados e rejeitados pela
CNA — revela resistência a propostas que têm como objetivo aperfeiçoar a
regulação ambiental no Brasil, especialmente nos temas de irrigação, mudanças
climáticas, gestão hídrica e proteção do bioma Cerrado. Apesar do discurso
público em defesa de uma agropecuária sustentável, a entidade se posiciona
contra quatro propostas de destaque: os PLs 4203/2019, 5085/2020, 4546/2021 e
3961/2020.
Licenciamento ambiental para irrigação
Ligada a entidades como a Abrapa (produtores de algodão), Abam
(mandioca), e empresas como Bayer, Syngenta e BASF, a CNA defende interesses de
grupos fortemente dependentes da irrigação intensiva.
O PL 5085/2020, do deputado Nilto Tatto (PT-SP), propõe a obrigatoriedade do
licenciamento ambiental em empreendimentos de irrigação, corrigindo a lacuna
legal deixada pela revogação da Resolução Conama nº 284/2001. O projeto
prioriza sistemas eficientes e simplifica o licenciamento para pequenos
produtores, mas a CNA alega que ele criaria “burocracia” e poderia
“inviabilizar a produção”.
No entanto, a irrigação responde por mais de 70% da captação de água doce no
país. De acordo com o autor do PL, a ausência de normas específicas favorece
práticas insustentáveis, com impactos sobre aquíferos, rios e comunidades
rurais.
Emergência climática não existe para o
agronegócio
Ligada a federações e sindicatos com forte atuação no Cerrado e regiões
de expansão agrícola, a CNA também representa setores que veem a regulação
climática como um entrave à abertura de novas fronteiras produtivas, as
fronteiras agrícolas.
O PL 3961/2020, de autoria do deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), institui o
Estado de Emergência Climática, fortalecendo políticas de adaptação e mitigação
no enfrentamento das mudanças do clima. A CNA rejeita o projeto, alegando que
ele impõe “responsabilidade injusta” ao setor produtivo e compromete o
desenvolvimento econômico.
O projeto, entretanto, não atribui culpa, mas reconhece os riscos e propõe
estratégias que poderiam beneficiar inclusive o próprio agronegócio, altamente
vulnerável à escassez hídrica, ao aumento de temperaturas e à instabilidade de
safras.
Ordenamento dos recursos hídricos
Ligada a corporações do setor sucroenergético e da indústria de celulose
(via ABTCP), a CNA também contesta propostas que reformam a gestão da água.
O PL 4546/2021, enviado pelo Executivo, propõe a atualização da Lei nº
9.433/1997, reorganizando a governança hídrica e redefinindo o papel dos
Comitês de Bacia. Técnicos consideram o projeto um avanço na integração entre
agricultura, energia e abastecimento, mas a CNA se opõe por temer perda de
controle dos produtores sobre o uso local da água.
Moratória do desmatamento no Cerrado
Ligada às federações agropecuárias de Mato Grosso, Goiás, Tocantins e
Bahia, regiões com forte presença no Cerrado, a CNA defende a continuidade da
expansão sobre o bioma.
O PL 4203/2019, do senador Jorge Kajuru (PSB-GO), propõe suspender por 10 anos
as autorizações de supressão de vegetação nativa no Cerrado, com exceções
pontuais. A CNA alega que isso gera “insegurança jurídica” e conflita com o
Código Florestal.
O Cerrado, no entanto, já perdeu mais de 50% da sua vegetação original e é
essencial para o equilíbrio hídrico de grandes bacias agrícolas. A proposta
busca tempo para o avanço do zoneamento ecológico-econômico e políticas de
produção com menor impacto ambiental.
Discurso sustentável para inglês ver
Em nota sobre o PL da irrigação, a
entidade afirma que a atividade é “apenas uma tecnologia aplicada”, e que
regulá-la seria “equívoco jurídico”. A rejeição sistemática da CNA a propostas que fortalecem o controle e a responsabilidade ambiental, na prática, mostra resistência a qualquer limitação normativa, mesmo
quando essas propostas trazem benefícios ao próprio setor no longo prazo — como
segurança jurídica, acesso a mercados mais exigentes e previsibilidade
climática.
Os projetos seguem em tramitação no Congresso e enfrentam forte oposição da bancada ruralista.
Fontes
Projeto de Lei 5085/2020 – Câmara dos Deputados:https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2264953
Projeto de Lei 3961/2020 – Senado Federal: https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/144072
Projeto de Lei 4546/2021 – Câmara dos Deputados: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2297818
Projeto de Lei 4203/2019 – Senado Federal: https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/138057
Agenda Legislativa do Agro 2025 – CNA: https://cnabrasil.org.br/storage/arquivos/pdf/AgendaLegislativa2025pdf.pdf
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