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segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Seimour Souza relata como foi a Ocupação do Otoniel Mota!

O estudante Seimour Souza relata como foram as primeiras horas e os 14 dias de ocupação da Escola Estadual Otoniel Mota em Ribeirão Preto. Os estudantes do Otoniel tomaram uma decisão política e cidadã ao decidirem ocupar a escola. O Otoniel não estava na 'lista de reorganização', mas os rumos da escola pública e o futuro de milhares de alunos estavam em risco, por isso decidiram entrar na luta solidária.



Foram 14 dias de ocupação!
Depois de 3 tentativas falhas por conta de vazamentos de informações e pessoas infiltradas, na 4ª, enfim, ocupamos o Otoniel Mota. 
Terça-feira, 1 de dezembro de 2015, 5h40 da manhã, todos em frente à escola: alunos e apoiadores.
Era a hora. Com apenas 7 alunos, entramos na escola e anunciamos para as 4 funcionárias que lá estavam que estávamos ocupando a escola, e elas, sem entenderem muito bem, saíram voluntariamente.
Menos de 15 minutos depois, a polícia já estava na porta, porém, os advogados também estavam. 

30 minutos depois, todos os docentes, discentes e a gestão estavam na porta da escola. Também 4 carros de polícia em frente ao portão de entrada. 

Logo em seguida veio também a mídia. 

Estávamos todos muito apreensivos lá dentro, não sabíamos o que se sucederia dali para frente. 
11h20- fizemos a primeira assembleia e decidimos os rumos que iríamos tomar. Como, por exemplo, quem cuidaria da limpeza, da segurança, da comida e da comunicação. 

Aos poucos as coisas iam se estabelecendo durante todo dia.
17h40- Recebemos a notícia que o juiz concedeu a reintegração de posse. Todos ficaram atônitos, sem acreditar na rapidez da justiça quando o assunto é de interesse deles. Um grupo de graduandos em direito nos acalmaram e nos deram algumas dicas do que aconteceria em uma provável reintegração. 
22h30- Primeira assembleia ampliada para as dezenas de pessoas do lado de fora da escola, algumas estavam lá desde as 05:40 da manhã.
Já era tarde, todos ainda muito perdidos, dividimos os quartos, começamos a fazer o jantar (com as doações que havíamos recebido durante todo o dia). Alguns tomaram banho com um balde de água fria, pois não havia chuveiro na escola. 
03h50- Todos acordados ainda, com a adrenalina a mil, ninguém conseguiu dormir, apreensivos de como seria o dia seguinte. 
06h30- Início da entrada dos alunos que estavam jogando o interclasse. Todos tínhamos que estar atentos para ter certeza de que não haveria qualquer tentativa de depredamento do patrimônio da escola, já que a administração da escola estava nas nossas mãos.
A partir daí as coisas começaram a se encaixar, fomos criando uma rotina, trocávamos turno durante a noite. Alguns ficaram responsáveis por fazer a agenda cultural, outros por fazer a comida, outros para a segurança e todos pela limpeza. E essa rotina se manteve sem muitas alterações até quinta-feira, quando havia sido marcada uma reunião ampliada com a Policia Militar, para explicarem como seria feita a reintegração. Nenhum de nós foi nessa reunião.
Estávamos fazendo uma assembleia, quando nos interromperam para nos trazer informações sobre a reunião e nos explicar o que foi passado lá, quando novamente fomos interrompidos com a informação de que o desembargador de São Paulo havia negado a reintegração de posse. 

Nos abraçamos, alguns visivelmente mais emocionados, outros mais felizes, mas todos com a certeza que a luta estava apenas começando.
Na sexta-feira, dia 4, fomos surpreendidos novamente com a notícia que o governador havia suspendido o decreto sobre a reorganização. E novamente nos abraçamos e nos emocionamos. 
Após o decreto sair no diário oficial, no sábado, começamos a pensar sobre desocupação e decidimos que ainda não era a hora, e que agora para além das nossas reivindicações estaduais, também tínhamos as nossas pautas locais, sobre problemas internos da escola. 
Na segunda feira, dia 7, começamos a escrever a carta e fomos na Diretoria Regional de Ensino tentar marcar um dia para que a Dirigente nos recebesse para entregarmos a carta de reivindicações. 

Marcamos para quinta-feira, para a entrega.
Na quarta-feira à tarde, fizemos uma reunião com pais, alunos e professores para terminarmos em conjunto a elaboração da carta de reivindicações.
Na quinta-feira, após 2 horas de reunião com a Dirigente, com a diretora e com a vice-diretora, saímos com a certeza de que se não lutarmos para conquistarmos o nosso direito, ninguém fará isso por nós.
No sábado, após uma assembleia pela manhã, decidimos que era a hora de desocuparmos, e por mais que isso doesse em cada um nós, que já havíamos criado mais do que amigos lá, devíamos ser racionais e coerentes e pensarmos em quais formas de luta travaríamos dali para frente. 
A desocupação foi marcada para segunda-feira, dia 14 de dezembro.

Passamos o domingo limpando a escola, devolvendo algumas coisas que fora emprestado para nós, como colchões, fogão, panelas e talhares. À organização da escola foi madrugada a dentro, até por volta das 04h30 da manhã.
Às 06h30, dois advogados chegaram para fazer a vistoria, junto conosco, de todo o prédio da escola. Às 07h10, um grupo da gestão entrou na escola para fazer junto conosco a vistoria e a assim entregamos a chave da escola para eles. 
La fora, nos abraçamos novamente, choramos bastante e nos despedimos.
Essas duas semanas nos fizeram pensar e sentir novas formas de viver e de ser, dignificando cada momento como único. 
Foram duas semanas que nos ensinaram muitas coisas. A ser mais solidários, a lidar com as diferenças, a ser unidos nas adversidades, ser altruístas, ser mais racionais e sentimentais. 
À desocupação não significa o fim da luta, mas o início de uma luta muito maior, que vai unir pais, professores, alunos e toda uma comunidade em busca de uma educação de qualidade e de uma escola que não seja mera sessão de repetição de conhecimentos rasos, mas escolas que formem cidadãos, sirvam de espaço de convívio, incentivem a criança e o adolescente a seguir nos estudos.

Seimour Souza, estudante.



O Calçadão mais uma vez felicita a luta intensa de alunos, professores e pais em defesa da escolapública democrática e de qualidade! A ocupação do Otoniel Mota e a consciência política de seus alunos são exemplos para todos.

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