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quarta-feira, 6 de março de 2019

O carnaval não é alienante. Ele é carnavalização

Embora seja obvio, alguns não percebem que o carnaval é carnavalização.
Foto: Filipe Peres


O linguista russo Mikhail Bakhtin (1895-1975) desenvolveu o conceito de carnavalização e o identificou com a cultura popular. Para ele, a cultura popular valoriza a dimensão corporal da vida, e ridiculariza, parodia e subverte a seriedade, os rituais fechados o poder instituído. Nao há nenhuma relação de propósito entre o carnaval e a política do pão e circo. O que há é uma clara intenção pela direita que está no poder de criminalizar qualquer manifestação crítica que venha da população. A começar pelo Presidente.


 O carnaval gerou 7,6 bilhões de reais no país inteiro. Gerou enredos críticos, políticos que, por meio do processo de carnavalização, trouxeram à tona os crimes político-jurídico-executivos que estão sendo praticados contra a população. Mais: a festa é considerada um patrimônio cultural protegido pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e  Artístico Nacional).

Do  pequeno bloco que acompanhei na Vila Romana, em São Paulo, com letras politizadas, ao samba da Mangueira, da Tuiuti, e tantas outras, o carnaval mostrou a sua força criadora, critica. Quem tem boca vaia Roma.

Ao contrário da política do pão e circo, o carnaval surge comocomo festa popular, do e pelo povo, diferente daquela imposta, criada pelo Estado Romano como forma de alienar a população. Muito além, o carnaval está conectado com o seu tempo histórico. O carnaval é resistência.

Entretanto, estamos em tempo de internet. Esta é uma ferramenta de acesso rápido a informações nunca antes vista na História. Assim como o carnaval, ela não é vila e nem vilã. Ela engloba tudo com todas as contradições que este tudo carrega. 

Cabe ao usuário instruir-se, pesquisar as fontes para realizar uma afirmação. Se ele procura discursos que confirmem o seu ciclo de imbecilidades na internet, a culpa não é da rede mas dele. E pior do que praticar ato obsceno em público é difundi-lo. Inclusive, a pena para a difusão é maior.

No caso do Presidente, acho que caberia até uma investigação por quebra de decoro parlamentar. Sem falar que uma postagem oficial tem relação com a imagem do país. Ele está boicotando uma festa popular que, em 5 dias, apenas, gerou um lucro de 7,6 bilhões de reais, um patrimônio cultural do pais. E tudo isso porque não aguenta receber críticas.

O carnaval não é vila e nem vilão. O carnaval é carnavalização. Não enxergar esta característica da festa, se valer de falsos moralismos para desviar (ou chamar) atenção é, no mínimo, má fé.

Como diz o nome do pequeno bloco carnavalesco da Vila Romana que cobri: "Quem tem boca vaia Roma".

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