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quinta-feira, 4 de junho de 2020

Somos 70% mas Bolsonaro já venceu?




Domingo passado uma parte da população brasileira começou a ocupar espaços nas ruas em manifestação contra o governo Bolsonaro. São manifestações que se colocam um caráter anti-fascista em decorrência da escalada da simbologia nazi-fascista utilizada por algumas manifestações pró-Bolsonaro que têm ido para as ruas há meses no Brasil, pregando o fechamento do STF, do Congresso e combatendo a política de isolamento social determinada principalmente por governadores e prefeitos no enfrentamento da Covid-19.

Até então as ruas eram só dos seguidores de Bolsonaro que, mesmo imitando a Ku Klux Klan ou levando bandeiras de movimentos neonazistas europeus ou pregando pautas golpistas ou defendendo pautas anti-sanitárias, nunca foram incomodados pelas autoridades públicas.

Isso começou a mudar no domingo último. Mesmo diante do avanço da pandemia, uma parte da população foi às ruas e protestou. Incomodou. Dividiu um espaço até então bolsonarista. Enviou uma mensagem. E indicou uma continuidade neste próximo fim de semana.

Gritaram pela democracia, contra um governo que não respeita as medidas sanitárias, contra um governo cujo presidente faz ameaças à democracia para não se submeter às investigações que todos os brasileiros devem se submeter. A população gritou por impeachment, assim como uma parte da população fez em 2015 e 2016. Gritou contra um projeto neoliberal continuado que já retirou os direitos dos trabalhadores e a aposentadoria.

Bastou. O governo reagiu da forma que sempre reage, ameaçando a democracia. Tachou os manifestantes de terroristas e, juntamente com seus seguidores e apoiadores, como o vice Mourão, fez ameaças diretas ao jogo democrático.

Bom, eis que nessa quinta-feira alguns blogs progressistas amanheceram com artigos dizendo: "não façam manifestações porque Bolsonaro vai usá-las para dar o golpe". Segundo consta, Bolsonaro tem ao seu lado as armas dos militares, do Exército e das polícias, alguns dizem que também das milícias, e daria aqui um golpe estilo boliviano usando as manifestações de domingo como mote.

Lembro da manifestação "Ele Não", ocorrida em 29 de setembro de 2018, no auge de uma campanha dominada pelos canhões de fake news bolsonaristas financiados por milhões não declarados, que levou quase 1 milhão de pessoas às ruas mas que foi velada ou diretamente culpabilizada pelo posterior crescimento de Bolsonaro nas pesquisas, inclusive por candidatos ditos progressistas na ocasião.

O mesmo ocorreu com os movimentos estudantis no início de 2019. Foram classificados por Bolsonaro como um movimento de estudantes baderneiros. E houve quem dissesse, no campo dito progressista, que os movimentos realizados no início de uma gestão davam combustível para Bolsonaro se vitimizar e crescer.

Essa é a narrativa sempre. Hoje os anti-fascistas são "terroristas" e não devem ir às ruas domingo porque a "armadilha bolsonarista" está armada para dar o golpe em resposta.

No campo democrático ligado a partidos e movimentos tradicionais impera o impasse sobre uma frente ampla. A discussão sobre a ferida aberta de 2016 (a virada de mesa para impor um projeto neoliberal que envenenou a política), que não se fechará enquanto um diálogo honesto não for feito por todos nesse sentido, prossegue e as acusações mútuas também. 

Diante disso, pergunto: Bolsonaro já venceu?

Somos 70% mas estamos presos dentro de casa e dentro de nossos impasses. Estamos presos pelo medo do vírus, lutando para fazer o correto (que é o isolamento social), e estamos presos por medo da ditadura, já que Bolsonaro detém as armas militares, policiais e milicianas, segundo alguns analistas.

Só quem pode ocupar as ruas são os admiradores do mito, os 30%, vestidos de KKK, com estandartes neonazistas e pedindo o fechamento das instituições em prol de uma ditadura militar comandada por Bolsonaro.

É isso? Acabou?

Ricardo Jimenez - Editor do Blog O Calçadão


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