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quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Tentar jogar a culpa do desastre econômico na incompetência de Bolsonaro é errado

Bolsonaro tem ou não tem projeto econômico?


A pergunta deste artigo é simples: a crise econômica brasileira é culpa de um presidente baderneiro, incompetente e que não tem projeto?

Se a resposta for dada pelos agentes de 'mercado' que operam o sistema neoliberal ela será SIM. Pois para esses é simples jogar a culpa numa nulidade e sair gritando que o Brasil precisa de alguém que saiba trabalhar em sintonia com o 'mercado'.

Se a resposta for dada por setores do agronegócio, principalmente os barões da soja, ela será NÂO. Estes estão satisfeitíssimos com o Baderneiro do Planalto. Nunca ganharam tanto dinheiro com o dólar nas alturas. Tanto que apoiam inclusive um golpe do mesmo baderneiro.

E as forças ligadas às lutas populares, como devem responder?

Afirmar simplesmente que Bolsonaro é um incompetente para tentar fazer com que sua imagem se desgaste mais diante da crise econômica e, com isso, o Brasil possa superar o tempo dessa figura grotesca no poder é apenas uma meia vitória e pode ser, ainda, um erro.

Claro que o Baderneiro do Planalto é incompetente, incapaz de pensar no país e um político do baixo clero acostumado a ganhar dinheiro com as benesses da máquina pública, vide os gastos milionários no cartão corporativo. Mas dizer que Bolsonaro não tem projeto econômico é uma mentira que só interessa aos setores neoliberais ansiosos por galgar uma terceira via para 2022 ou fazer com que o programa econômico a ser apresentado pela candidatura das forças populares pegue leve com o neoliberalismo.

É preciso dizer com clareza: Bolsonaro tem projeto econômico e este é o projeto neoliberal adotado a partir de 2016 com o golpe do impeachment. No governo Temer, o vice traíra, esse projeto se chamava "Ponte para o Futuro' e foi o responsável pela reforma trabalhista que dizimou os direitos, e criou a uberização do trabalho, e pela PEC do Teto de Gastos que congelou os investimentos públicos por 20 anos e vem destruindo a educação pública e o SUS.

Com a lógica do golpe continuado, esse projeto caiu no colo de Bolsonaro em 2018, através da presença do banqueiro Paulo Guedes como seu fiador para que os agentes do 'mercado' pulassem na canoa do baderneiro assim que viram a canoa do PSDB afundar.


Dessa forma, apesar da incompetência do baderneiro, o projeto seguiu em frente firme e forte com a reforma da previdência, que destruirá a previdência pública no médio prazo, as privatizações do patrimônio público, incluindo a Petrobrás privatizada aos poucos, e a destruição dos empregos e da renda do trabalhador.

Portanto, a crise econômica, a destruição da indústria, o dólar nas alturas, o retorno da inflação e o avanço do Brasil 'fazendão' que exporta soja e faz 19 milhões passarem fome é culpa do Bolsonaro, sim, mas não por falta de projeto, mas pelo fracasso que é o projeto neoliberal implantado desde 2016.

Derrotar Bolsonaro sem derrotar o neoliberalismo será uma vitória pela metade. O projeto neoliberal é tão mortífero quanto Bolsonaro. Não demorou muito e aquilo que o Blog O Calçadão afirmava começou a se concretizar: o aumento das chantagens sobre a democracia brasileira conforme a liderança de Lula se consolida nas pesquisas. A chantagem tem só um objetivo: obrigar a um acordo que resulte no abrandamento do programa econômico que pode vencer as eleições. Se ainda resta dúvida, leiam o artigo do Delfim Neto: "Risco para a economia é Bolsonaro, não Lula".

O golpe bolsonarista precisa ser evitado pelo bem da democracia. Mas o golpe neoliberal continuado também precisa ser derrotado. Precisamos dar a Cesar o que é de Cesar: o governo Bolsonaro é um desastre econômico porque seu projeto é o projeto neoliberal.

Não há outra saída a não ser um programa econômico que busque uma reforma tributária progressiva, com taxação de grandes fortunas e do setor financeiro, a recomposição dos direitos sociais (principalmente os direitos trabalhistas e a aposentadoria pública), a reconstrução do papel dos bancos públicos e a retomada da indústria e dos setores estratégicos, como o setor do petróleo e da tecnologia.

Para garantir esse programa econômico junto com a vitória de um candidato representante das lutas populares é fundamental intensificar as lutas populares com o rumo certo. Atacar somente Bolsonaro sem atrelar seu governo ao programa neoliberal não nos interessa.

Ricardo Jimenez - Editor do Blog O Calçadão

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