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O relatório reforça que os atos foram parte de uma política direcionada a “destruir, no todo ou em parte, o povo palestino em Gaza enquanto grupo nacional” |
Documento
da Comissão Internacional Independente de Inquérito aponta assassinatos em
massa, fome deliberada, destruição de hospitais e violência sexual como parte
de uma política destinada a destruir o povo palestino em Gaza. Estados que
apoiaram Israel também podem ser responsabilizados.
Logo na
abertura, a Comissão afirma que
“as forças de segurança israelenses cometeram
crimes contra a humanidade e crimes de guerra em Gaza, incluindo extermínio,
tortura, estupro e uso da fome como método de guerra”.
O relatório reforça que
os atos não foram incidentais, mas parte de uma política direcionada a
“destruir, no todo ou em parte, o povo palestino em Gaza enquanto grupo
nacional”.
Marco jurídico
A análise
é sustentada pelo direito internacional. O genocídio, lembra o documento, é
proibido por norma jus cogens, da qual não se admite derrogação. A
Convenção do Genocídio estabelece cinco atos que podem configurar o crime, e a
Comissão verificou evidências de quatro deles em Gaza:matar membros do grupo; causar graves danos físicos
ou mentais; infligir condições de vida
insustentáveis; impor medidas para impedir
nascimentos.
“O povo
palestino foi reconhecido pela Corte Internacional de Justiça como grupo
protegido pela Convenção do Genocídio”, destaca o texto.
Atos subjacentes de genocídio
Segundo a
Comissão, 60.199 palestinos foram mortos até julho de 2025, sendo 18.430
crianças e 9.735 mulheres.
“Famílias inteiras foram exterminadas em várias
gerações”, aponta o relatório.
O uso de bombas não guiadas em áreas densamente
povoadas resultou em carnificinas:
“Israel lançou em uma semana quantidade de
bombas equivalente ao que os EUA lançavam no Afeganistão em um ano”.
A ONU
verificou que, em diversos ataques, todas as vítimas eram mulheres e
crianças, como em março de 2025, quando
“36 ataques a prédios residenciais
e tendas de deslocados não deixaram sobreviventes adultos do sexo masculino”.
Danos físicos e mentais graves
Além das
mortes, mais de 146 mil pessoas ficaram feridas, muitas delas mutiladas.
“Gaza abriga a maior população de crianças amputadas da história moderna”,
declarou um representante da ONU.
Os
impactos psicológicos são devastadores: crianças desenvolveram mutismo seletivo
após testemunhar assassinatos de familiares, e médicos relatam epidemia de
transtorno de estresse pós-traumático. A Comissão também documentou tortura,
maus-tratos em detenção e violência sexual sistemática, incluindo contra
homens palestinos.
Condições de vida insustentáveis
A
Comissão concluiu que Israel impôs
“condições de vida calculadas para provocar
a destruição física” dos palestinos.
Entre elas:
destruição de bairros
inteiros, escolas e hospitais;
criação de uma zona
tampão que devastou terras agrícolas;
bloqueio de alimentos, água
e medicamentos;
fome deliberada, que levou
mais de 1.300 pessoas à morte em pontos de distribuição de ajuda;
colapso do sistema de saúde,
com 498 ataques a hospitais.
“Transformaram
a comida em arma, humilhando e degradando pessoas desesperadas”, denunciou a
UNRWA.
Relatos
confirmam aumento de natimortos, abortos espontâneos e mortes maternas devido à
falta de cuidados médicos. A Comissão destaca que “a capacidade reprodutiva das
mulheres palestinas foi destruída em parte”, configurando o quarto ato de
genocídio.
Intenção específica (dolus specialis)
O
relatório enfatiza que o genocídio exige a intenção deliberada de destruir o
grupo. Essa intenção foi comprovada tanto pelas práticas sistemáticas quanto
por declarações de autoridades israelenses:
Palestinos descritos como
“animais humanos”;Chamados públicos para
“apagar Gaza do mapa”;Declarações de que “não há
civis inocentes em Gaza”.“A
destruição do grupo palestino em Gaza é a consequência lógica das políticas
adotadas”, conclui a Comissão.
Incitação pública
A
Comissão afirma que houve “incitação direta e pública ao genocídio”, um crime
punível mesmo sem consumação. Discursos oficiais transmitidos em televisão e
redes sociais normalizaram a violência genocida.
Consequências jurídicas
O
relatório estabelece que Israel é internacionalmente responsável por
genocídio, violando a Convenção. Mas vai além: adverte que terceiros
Estados podem ser cúmplices caso tenham fornecido armas, apoio militar ou
cobertura política.
“Todos os
Estados têm obrigação erga omnes de prevenir o genocídio”,
recorda o
texto, exigindo suspensão imediata da venda de armamentos a Israel e apoio a
processos na CIJ e no Tribunal Penal Internacional.
Conclusões e Recomendações
A
Comissão recomenda que Israel cesse imediatamente os atos genocidas, permita
entrada de ajuda humanitária, investigue e puna os responsáveis e compense as
vítimas. Aos demais Estados, exige medidas concretas: suspender fornecimento de
armas, proteger refugiados palestinos e apoiar investigações internacionais.
“Falhar
em agir diante de um genocídio em curso mina os fundamentos da ordem
internacional e ameaça a paz e a segurança globais”, alerta a conclusão.
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