![]() |
Audiência pública para debater o tema foi cancelada |
Proposta que busca fortalecer a soberania nacional diante da corrida global por recursos críticos levanta preocupações de ambientalistas e movimentos sociais com possíveis impactos socioambientais e conflitos territoriais
“Alguns
desses minerais são críticos para o Brasil, não apenas em termos de segurança
energética, mas também para a segurança alimentar”, disse o autor da proposta,
deputado Zé Silva (Solidariedade-MG).
Os
projetos com urgência podem ser votados diretamente no Plenário, sem passar
antes pelas comissões da Câmara.
Marcada
para a última terça-feira (23), foi cancelada a audiência pública “Empresa
pública dedicada a minerais estratégicos e terras raras”, a qual seria realizada
na Comissão de Finanças e Tributação. Representantes da Agência Nacional de
Mineração, da Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais - Codemig
e da Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais – Codemge já haviam
confirmado que não compareceriam.
Entenda o
projeto
O Projeto de Lei 2780/2024, apresentado pelo deputado Zé Silva (Solidariedade-MG), institui a Política Nacional de Minerais Críticos e Estratégicos (PNMCE) e cria o Comitê de Minerais Críticos e Estratégicos (CMCE), com o objetivo de consolidar um planejamento estatal capaz de garantir a exploração, transformação e fornecimento de insumos fundamentais como lítio, nióbio, grafite, cobre e terras raras. Diante do aumento da demanda internacional e da vulnerabilidade do país em setores estratégicos como energia e agricultura, o projeto se apresenta como uma aposta na soberania nacional, buscando reduzir a dependência externa e fortalecer a presença brasileira no mercado global.
O
texto, porém, não se limita ao discurso da independência econômica e prevê
mecanismos concretos de estímulo ao setor, como linhas de crédito
diferenciadas, isenções fiscais e incentivos à inovação tecnológica. Grandes
empresas de mineração ficariam obrigadas a investir 0,4% de sua receita bruta
em pesquisa e desenvolvimento, mas poderiam contar com regimes especiais de
importação e exportação de bens ligados ao setor. Essas medidas são
justificadas no texto como necessidade de o país transformar seu potencial
mineral em vantagem competitiva, associando a abundância de reservas à geração
de empregos, desenvolvimento industrial e fortalecimento geopolítico.
Apesar da ambição da proposta, críticas emergem de diferentes campos. Ambientalistas e movimentos sociais alertam para o risco de o projeto fragilizar os mecanismos de proteção socioambiental ao prever a priorização no licenciamento de projetos considerados estratégicos, o que poderia acelerar empreendimentos em áreas sensíveis, com impactos diretos sobre comunidades tradicionais e povos indígenas.
Outra preocupação reside na
concentração de poder decisório no Executivo, por meio de um comitê formado
majoritariamente por ministros de Estado, deixando a participação da sociedade
civil e dos estados em posição secundária. Especialistas ainda observam que, ao
privilegiar a atração de investimentos externos e a desoneração de cadeias
produtivas, o Brasil pode cair em um novo ciclo de dependência tecnológica,
exportando commodities minerais sem desenvolver plenamente suas capacidades de
transformação e agregação de valor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário