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segunda-feira, 15 de julho de 2019

Magnatas financiam candidaturas para 2020, inclusive em partidos de esquerda

"Quem paga a banda, escolhe a música" - ditado popular

A política brasileira tem sofrido grandes abalos desde o tsunami de 2013. É um reflexo com caraterísticas locais de um fenômeno mundial advindo da crise econômica a partir de 2008.

A incapacidade dos países, e da política, em darem respostas à crise neoliberal que solapou o Estado de Bem-Estar Social mundo afora, alavancou os movimentos de negação da política e o discurso de extrema direita, como a xenofobia diante da crise migratória na Europa, por exemplo, ou a retomada de um nacionalismo imperialista e xenófobo com Trump nos EUA.

Aqui no Brasil, 2013 representou o início do fim da chamada "Nova República", que foi a concertação política costurada na transição democrática que culminou na Constituição de 1988. O pragmatismo e o fisiologismo político da "Nova República", aliado à introdução do modelo econômico neoliberal nos anos 1990, impediram o estabelecimento completo do Estado de Bem-Estar Social brasileiro e a completa democratização da prática política.

Com exceção do período dos governos do PT (2003-2014), onde houve uma conciliação entre os interesses do mercado e um investimento grande na geração de emprego, em políticas de distribuição de renda e na consolidação dos direitos sociais como saúde, educação e previdência.


Mas a conciliação se desgastou entre 2008 e 2013, quando foi rompida porque a manutenção de um projeto de desenvolvimento nacional com inclusão social dependeria de uma reforma tributária que incidiria inapelavelmente sobre o setor rentista.

Assim a "Nova República" ruiu dando espaço também aqui no Brasil para a negação da política e para o surgimento de uma nova aliança política entre os interesses do setor neoliberal, do fisiologismo político e da nova onda de extrema direita representada pelo bolsonarismo lavajatista.

Enquanto o sistema autoritário montado destituía uma Presidente honesta e aprisionava o maior líder popular do país, o rolo compressor neoliberal avançava sobre os direitos trabalhistas e sobre os direitos sociais do povo brasileiro, com apoio de grande parte desse mesmo povo, através de reformas  neoliberais aprovadas pelo campo fisiológico no Congresso Nacional (trabalhista e previdenciária).

É o avanço avassalador da narrativa neoliberal, alicerçada no discurso moralista "anti-corrupção", no fundamentalismo evangélico neo-pentecostal e na desilusão de grande parte do povo brasileiro com a política que fez com que flertassem com o discurso autoritário de uma extrema direita.

A "Nova República" foi dizimada e levou junto a Constituição de 1988, os direitos garantidos nela e o projeto nacional de desenvolvimento.

Mas a coisa não para por aí.

A reforma eleitoral conduzida por Eduardo Cunha em 2016 e o desgaste das formas tradicionais da política, tanto de partidos quanto de movimentos sociais e sindicatos, abriu brecha para algo muito mais perigoso: o domínio do capital privado sobre a política através de movimentos financiados por magnatas.

Acredito, Renova BR e similares recebem doações legais de magnatas como Jorge Paulo Lemann (Fundação Lemann), Guilherme Leal (Natura) e outros para "treinar jovens talentos para atuar na política". Não só treinar, mas financiar suas campanhas.

O atual Congresso Nacional tem 30 parlamentares eleitos assim, incluindo o exemplo mais famoso, de Tábata Amaral, eleita pelo PDT de Ciro Gomes e que recentemente votou em favor da reforma da previdência neoliberal do governo Bolsonaro.

Para 2020 esses movimentos já arregimentaram mais de 40 mil pessoas em todo o Brasil para tentar elegê-los Prefeitos e vereadores por todos os partidos, incluindo os de esquerda, como o PT.

E o que defenderão? Uma tal de "nova política" que é, nem mais nem menos, o modelo neoliberal vendido como novidade e como modernidade. O "empreendedorismo dos PJs" no lugar dos direitos trabalhistas, o "investimento no mercado financeiro" no lugar da previdência social, o individualismo no lugar do cooperativismo e do Estado de Bem-Estar Social.

O rentismo no lugar do projeto de desenvolvimento tecnológico e industrial.

Os partidos de esquerda e democráticos, os movimentos sociais, os sindicatos e os mais diversos movimentos ativistas de caráter popular precisam reencontrar o caminho da reconstrução democrática, que passe por uma narrativa anti-neoliberal e de valorização dos espaços políticos como centros de debates e encontro de soluções, principalmente para a juventude.

Nas eleições de 2020 é preciso que os partidos de esquerda e populares construam campanhas onde o coletivo se sobressaia sobre o individual, inclusive no financiamento das candidaturas. Pois qualquer gasto individual no campo da esquerda não será páreo para o rio de dinheiro que vai financiar o outro lado. 

É preciso que o debate programático também se sobressaia ao discurso individual e que o diálogo seja levado ao povo trabalhador em reuniões nos bairros, praças, igrejas, clubes onde houver trabalhadores que possam ouvir e compreender o porquê dessa realidade adversa em que vivem e que possam voltar a valorizar a política como campo de atuação e luta e a democracia como valor imprescindível.

E essa reconstrução precisa estar conectada em movimentos semelhantes que estão pipocando mundo afora, apontando para um novo marco da esquerda, do Trabalhismo e da social democracia e de um novo programa econômico e social anti-neoliberal.

2020 será uma dura batalha e uma tarefa fundamental a ser cumprida pelos partidos de esquerda, movimentos sociais e sindicatos comprometidos com o futuro do Brasil.

Blog O Calçadão


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