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terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Avenida Dom Pedro: obras paradas e indesejadas

 

Avenida Dom Pedro I, no Ipiranga

Essa semana estive na Avenida Dom Pedro gravando vídeo para o projeto "Cantinhos de Ribeirão" do Blog O Calçadão. A Avenida Dom Pedro é, de fato, o coração comercial e financeiro do Ipiranga e o principal corredor de ligação das grandes e populosas zonas oeste e norte de Ribeirão Preto.

Tive a oportunidade de conversar com muitos comerciantes do local. As obras paradas são um dos grandes problemas enfrentados ali. Não o único. E o próprio mérito das obras de mobilidade é contestado pelos comerciantes. Ao que parece, o sentimento é de imposição por parte da Prefeitura e não de diálogo.

A notícia da licitação para as obras de corredores de ônibus na Avenida Dom Pedro foi anunciada em junho de 2019, por 30 milhões de reais, e prometida para ser entregue em fevereiro de 2020!

Já na época houve por parte dos comerciantes a contestação ao projeto por conta da desconfiança de que a retirada das vagas de estacionamento iria prejudicar o comércio e que a manutenção das duas mãos na Avenida não resolveria o problema de mobilidade entre o centro e os bairros das zonas oeste e norte.

A ACI se posicionou na época a favor das obras e seu Presidente dizia que estava negociando com a Prefeitura a realização das obras por trechos de 200 metros, "para não prejudicar muito o comércio com as obras". O fato foi que as obras foram iniciadas a contragosto dos comerciantes, o asfalto lateral foi rasgado por duas vezes, as obras foram paralisadas sem um cronograma de retomada definido e o asfalto e as calçadas da Avenida estão em uma condição lastimável. Sem falar nos pontos de ônibus, todos sem cobertura e às vezes sem nenhuma sinalização.


OBRAS DE MOBILIDASDE: SER CONTRA OU A FAVOR

Claro que as obras de mobilidade urbana que foram trazidas para Ribeirão Preto através de um projeto do PAC do governo federal em 2013, e só iniciadas em 2019, trazem algumas melhorias para o trânsito caótico da cidade, aumentando em determinadas regiões a velocidade dos ônibus e melhorando os gargalos de tráfico de veículos.

Mas as obras não resolvem tudo e estão longe de garantirem para a cidade um projeto completo de mobilidade urbana.

E esse é o caso da Avenida Dom Pedro. A manutenção das duas mãos na Avenida, sem o necessário equacionamento de outras vias complementares de ligação bairros-centro e centro-bairros, torna as obras insuficientes para as necessidades da região e do próprio papel a ser cumprido pela Dom Pedro.

É preciso fazer a abertura da Avenida Rio Pardo na confluência com a Avenida Dom Pedro, abrindo um amplo corredor de ligação entre os bairros das zonas oeste e norte e a Via Norte, criando um corredor alternativo de acesso centro-bairros. Ainda é preciso fazer adequações viárias nas ruas André Rebouças e Maranhão, ruas paralelas à Avenida Dom Pedro, e assim permitir que a Dom Pedro seja uma avenida de mão única, possibilitando não só a instalação de um corredor de ônibus mas também ciclovias, alargamento de calçadas e uma faixa de via rápida.

Todas essas propostas foram encaminhadas para a Prefeitura pelos comerciantes, mas como essas soluções exigem investimento maior do que os 30 milhões inicialmente previstos para as obras de corredor de ônibus (que estão paralisadas e, certamente, ficarão mais caras), a Prefeitura sugeriu propostas alternativas, como a interrupção dos corredores de ônibus exclusivos fora dos horários de pico.

A questão fundamental ali na Avenida Dom Pedro e, com absoluta certeza, em toda a cidade, é a falta de diálogo do Poder Público com a sociedade. Ali na Dom Pedro isso ainda é mais dramático pois como as obras de mobilidade são, em tese, necessárias, fica uma sensação de que as reivindicações dos comerciantes não têm a importância devida ou que são apenas reclamações de quem acredita que vai perder fregueses. Assim, não apenas a Prefeitura fica ausente do diálogo mas a Câmara de Vereadores também.

Boa parte das reivindicações dos comerciantes são importantes no processo de discussão do futuro da região. Do jeito que está, as obras de mobilidade vão melhorar o fluxo de ônibus pela Avenida, facilitando a locomoção de trabalhadores e trabalhadoras dos bairros da zona oeste e norte para o centro e zona sul, melhorando o acesso ao emprego lá naquelas regiões. Mas e os empregos na Avenida Dom Pedro, como ficam?

Pensar em uma obra completa para a região é pensar também em garantir não só o fluxo de ônibus mas também a melhoria das condições da Avenida e bairros da região para que os empregos sejam criados ali mesmo. E essa obra completa também exige pensar no pedestre, na arborização (da qual a Avenida Dom Pedro carece muito), na ampliação da oferta de serviços (principalmente os serviços noturnos que a Avenida Dom Pedro hoje não oferece) e a segurança.

Em maio do ano passado, a Câmara de Vereadores aprovou um pedido da Prefeitura de dotação orçamentária, no valor de 150 mil reais, para a contratação de uma empresa para a realização de estudos e elaboração de um projeto viário para a Avenida Rio Pardo, na zona norte da cidade, e que faz confluência com a Avenida Dom Pedro I, no Alto do Ipiranga. Importante que os vereadores façam requerimentos à Prefeitura buscando informações sobre o encaminhamento desses estudos, já que os 150 mil reais foram aprovados para isso.

Andar pela Avenida Dom Pedro e conversar com os comerciantes foi muito importante para me dar a noção exata de que Ribeirão Preto é uma cidade que não conversa e, portanto, não resolve seus problemas ou, quando projetos são aplicados, não têm o respaldo do diálogo com quem mais interessa: a população.

O orçamento de 2022, aprovado pela maioria governista na Câmara, privilegia as obras na cidade em detrimento da área social. Pelo visto, mesmo as obras carecem de um olhar social que a Prefeitura não tem e não terá enquanto o projeto tocado for este que venceu as eleições de 2016 e foi reeleito em 2020.

Ricardo Jimenez - Editor de O Calçadão



3 comentários:

elson disse...

Sou morador do Planalto Verde I, primeira etapa do loteamento do Planalto Verde, bairro localizado na faixa em frente à fábrica da Coca-Cola, entre a avenida Rio Pardo e a avenida Senador Teotonio Vilela. Estamos organizados no Planalto Verde I, em Grupos de Vizinhança Solidaria e estou à frente de algumas ações na busca de melhorias para o nosso bairro. Umas destas ações é um processo que corre na Prefeitura, onde solicitamos a ligação das conexões das ruas que vem do Alto do Ipiranga, e que deveriam dar acesso à ruas do nosso bairro, são elas, a rua Maranhão, Mato Grosso, Rio Grande do Norte e Paraná. Acompanho desde 2019 essa questão, quando solicitamos pela primeira vez a abertura destes trechos, que se ocorrer, melhorarão em muito a qualidade de vida no nosso bairro, assim como beneficiarão toda a região. Importante lembrar que esse estudo para a duplicação da avenida Rio Pardo que foi aprovado recentemente, se refere ao trecho da avenida, entre a Dom Pedro e a USP, onde se encontra a Comunidade dos Trilhos, e cujo estudo prevê a retirada da comunidade, para a duplicação desta via. Existe decreto assinado pelo prefeito Nogueira, desde setembro de 2020 determinando a Regularização da Comunidade dos Trilhos, que era defendida pelo antigo secretário do planejamento, sr. Edsom Ortega, porém, na transição de um mandato para o outro, com a troca dos secretários, o atual Daniel Gobbi demonstrou dar preferência para "retirar a favela" e duplicar a avenida, e a questão da Regularização Fundiária foi deixada de lado. Independente disso, aconteça uma coisa ou outra, nós moradores do Planalto Verde I esperamos desta administração, conforme requeremos no nosso processo, desde 2019, a abertura destas conexões citadas acima. Elson jan/2022

O Calçadão disse...

Elson, obrigado pelas informações. Tomara que a ligação da av rio pardo com a dom Pedro mais a ligação das ruas paralelas saiam e que a questão das comunidades seja resolvida com a dignidade que as pessoas merecem. Abraço

elson disse...


A abertura destas conexões, das ruas vindas do Alto do Ipiranga (Maranhão, Mato Grosso, Rio Grande do Norte e Paraná) ligando-as ao Planalto Verde I, permitirão que um fluxo maior de veículos de toda a região oeste, que hoje está estrangulado, e somente a avenida Dom Pedro não suporta, e não suportará mesmo que estas obras atuais sejam concluídas.

Com a inauguração de novos bairros nesta região, nos últimos 10 anos, e ainda, com o lançamento de todo o complexo Cristo Redentor (Pacaembú), o trânsito no local ficou caótico.

Sem contar que além da avenida Dom Pedro, temos poucas vias de acesso para o centro e outros bairros, ida e volta.

O problema é muito mais complexo do que se imagina. No nosso caso, moradores do Planalto Verde I, sofremos com essa situação há anos, e nos colocamos na situação de comunidade também, que sente no dia-a-dia as dificuldades surgidas por questões que já deveriam estar resolvidas há anos. Administração após administração só prorrogam a sua solução.

No nosso bairro hoje, muitos moradores já são a favor da Regularização Fundiária da Comunidade dos Trilhos, visto que entendemos que a sua remoção parece ser impossível, e se acontecer, injusta também. Porém, se for o caminho, que seja uma Regularização Fundiária com um projeto de urbanização e saneamento decente, e não o que vimos em outros locais, como o Jd.Progresso e a Favela do SBT, e que se ofereça condições dignas de vida aos seus moradores, e AO MESMO TEMPO, traga a solução para Ns problemas que surgiram após essa ocupação descontrolada, e que nos afetam (moradores do Planalto Verde I) de forma crônica.

Abraço.

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