A professora Talita leciona a disciplina eletiva "Sagrado Feminino".
Fotos: Filipe Peres
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Logo de cara, já desconstruímos a ideia de que a perseguição às mulheres se deu na "Idade das Trevas". Ficamos sabendo que a caça às bruxas se intensificou no fim da Idade Média, no início do Iluminismo. Um dos motivos: as revoltas camponesas. As mulheres eram parte atuante nestas revoltas. Perseguindo-as, o Estado, os senhores feudais controlavam as rebeliões com maior facilidade.
Veja o vídeo:
Este extermínio aconteceu com maior intensidade em Portugal, Espanha, França, Suiça e Alemanha. Estes países perseguiram as mulheres que, de alguma forma, se levantaram contra o "status quo". Os crimes: ter conhecimento, seguir uma religião não-cristã, seduzir homens. Tudo era desculpa para queimá-las nas fogueiras, para matá-las. Sedução? O homem não tinha nada a ver com isso, era uma vítima destas bruxas. Mulheres como Joana D'Arc, guerreiras, mesmo ajudando a libertar um país, foram mandadas à morte em praça pública, tudo para que o seu exemplo não fosse seguido. E todo este extermínio teve apoio de pensadores como Bacon, Rousseau, Shakespeare, Pascal, Descartes entre outros.
E as bruxas do século XXI, quem são? Para a sociedade atual, as novas bruxas são aquelas mulheres que lutam por direitos, condições e oportunidades iguais às dos homens. Estas mulheres desejam ter o controle do próprio corpo, decidir a hora apropriada de gerar um filho e não ser mais uma das 22.000 mulheres mortas anualmente pelo país em clínicas clandestinas de aborto. São mulheres que, de alguma forma, se revelam, se rebelam contra a ordem patriarcal, o machismo estabelecido dentro do próprio lar. Para combater esta violência, a lei Maria da Penha ainda é pouco.
Professora Tarsila é uma das professoras na matéria eletiva "Sagrado Feminino" |
Na conversa com os estudantes, Adriana Novais mostrou exemplos que podem ser seguidos, Joanas D'Arcs do século XXI. Coletivos como "Ni Una a Menos" que, em outubro, reuniu 65.000 mulheres na cidade de Córdoba, na Argentina, que possui a sua versão brasileira (Nenhuma a Menos).
Outro exemplo dado pela professora foram as "Mulheres Curdas Contra o Estado Islâmico", exército formado, apenas, por mulheres. Este exército foi formado para combater os sucessivos estupros e rapto de mulheres curdas. A intenção desses raptos é comercializá-las como escravas. Mas o exército de mulheres curdas, além de resistir ao Estado Islâmico, ao Estado turco e ao Estado sírio, foi mais além: criou uma nova concepção de sociedade, um modelo de economia anticapitalista, comunal, cooperativada.
Oriundo do Brasil, Adriana deu o exemplo do MST. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra possui um setor de gênero que discute a dominação de gênero, a sociedade machista, patriarcal. Além disso, este setor luta contra o agronegócio, o minerionegócio e o hidronegócio. Por este motivo, todo 8 de Março, Dia Internacional da Luta das Mulheres, o movimento ocupa grandes multinacionais e chama a atenção do mundo, mostra que a produção deveria estar nas mãos de quem, de fato, produz, e não destas empresas multinacionais.
O último exemplo mostrado pela doutoranda em Sociologia foi das "Mães de Maio", movimento fundado em São Paulo depois do assassinato de 564 pessoas durante 10 dias, em 2006, a maior parte tendo policiais como autores do extermínio. Até hoje, apenas, uma pessoa foi julgada e presa. Hoje, as "Mães de Maio" lutam por justiça para os próprios filhos e combatem os crimes de Estado, denunciando-os com suas marchas fúnebres.
A doutoranda em Sociologia, Adriana Novais, falou com os estudantes sobre perseguição e extermínio de mulheres ao longo da história |
No final, Adriana falou sobre a importância de que mais iniciativas como esta das professoras Tarsila e Talita aconteçam, se espalhem: Estas bruxas de hoje "passam por 1 estupro a cada 11 minutos, 1 feminicídio a cada 30, 5 espancamentos a cada 2 minutos. Isso considerando que nem todos os casos, nem todas as violências são denunciadas para constarem nas estatísticas. [...] Depois do Golpe de 2016 o estupro coletivo aumentou em 24%, ou seja, está legitimada a barbárie. É por isso que a gente tem que se munir, a gente tem que se ver, tem que se olhar e fazer isso que a gente tá fazendo aqui. [...] É uma questão de necessidade e sobrevivência de todas as mulheres; se ver e discutir aquilo que as acomete, que te maltrata, que te faz mal. Nós estamos sendo exterminadas há séculos. Não é um exagero, a história está aí para mostrar".
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