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domingo, 27 de outubro de 2019

Uma frente popular e anti-neoliberal é possível em Ribeirão Preto - Ricardo Jimenez


Neste sábado, 26 de outubro, mais de 100 representantes de mais de 30 entidades de Ribeirão Preto e uma da região, estiveram reunidos no Sindicato dos Químicos para mais um encontro do Fórum de Movimentos Populares.

Estive lá representando o Blog O Calçadão.



O Fórum é um instrumento de diálogo e atuação conjunta das mais diversas entidades e movimentos que atuam em defesa dos direitos e da democracia na cidade. É um instrumento de urgência e de ação política baseado na horizontalidade e que sempre se reorganiza quando os direitos e a democracia exigem.

O primeiro Fórum a ser organizado foi em 1979, onde as forças políticas construíram o debate sobre a Lei de anistia, no processo de abertura política no final da ditadura militar. 

Depois, no final dos anos 1980, os movimentos voltaram a se organizar num Fórum pela cidadania, responsável por debater e encaminhar dezenas de propostas populares para o processo de elaboração da Lei Orgânica do município, na esteira da consolidação da redemocratização pós Constituição de 1988. Muitas lutas e muitas conquistas concretas foram organizadas e feitas na primeira metade dos anos 1990 pelas entidades e lideranças participantes daquela jornada.

Mais tarde, no ano 2000, já refletindo a luta contra o modelo neoliberal que tomava a América latina de assalto, dezenas de movimentos sociais, ativistas e partidos políticos de Ribeirão Preto voltaram a se reunir no Comitê Contra a ALCA, em uma luta que envolveu todo o país e que saiu vitoriosa.

A crise brutal do capitalismo, cuja explosão se deu em 2008, jogou o mundo em profundas incertezas e fez com que as forças do capital se unissem em mais uma ofensiva contra os direitos de quem vive do trabalho e contra a soberania dos Estados nacionais. O que resta de políticas de bem-estar social, construídas pela mobilização popular ao longo do século 20, está sendo varrido mundo afora na onda neoliberal formada.

Os lucros do capital a partir da exploração do trabalho e da subordinação dos Estados nacionais foram sendo canalizados para o capitalismo financeiro, a atual e mais brutal fase exploratória do capitalismo.

Nos últimos 10 anos o mundo está sendo sacudido. Manifestações populares pipocaram e pipocam mundo afora, inclusive no Brasil em 2013 e, atualmente, na América do Sul, dentro desse cenário de incertezas e de angústias. As forças populares, de esquerda, centro-esquerda, social democratas e trabalhistas estão sendo acossadas pelo avanço do neoliberalismo cada vez mais em aliança com forças de direita e extrema direita. 

Os espaços democráticos estão sendo restringidos e a exclusão social, a pobreza, a concentração de renda, a xenofobia e a violência de classe, de gênero, de raça e de orientação sexual prosperam no Brasil e no mundo, com o apoio de movimentos de direita criados e financiados pelas forças reacionárias do grande capital.

No Brasil, a legítima e necessária vontade popular de combater a corrupção em prol da melhoria dos serviços públicos e da ética na política foi manipulada por um sistema político seletivo que serviu ao processo de golpe na democracia que derrubou uma Presidente honesta em nome de um projeto de poder elitista e neoliberal.

Dentro dessa conjuntura, o atual Fórum de Movimentos Populares foi reorganizado em 2016, no bojo do processo do golpe contra a democracia perpetrado por forças do atraso e adeptas da reintrodução de um projeto neoliberal ainda mais violento do que aquele introduzido nos anos 1990, que não foi rompido mas mitigado pelas políticas sociais, de distribuição de renda e de garantia de direitos dos governos de Lula e Dilma (2003-2016).

Naquela época, as dezenas de entidades participantes já apontavam a necessidade de se combater o neoliberalismo, representado pelo projeto 'Ponte para o Futuro' construído pelo governo oriundo do golpe de Temer (MDB) e do PSDB, e de se pensar e defender um projeto inclusivo, democrático e transformador para Ribeirão Preto.

De lá para cá o cenário piorou muito. A extrema direita chegou ao poder com um projeto de cunho autoritário e ultraliberal. O desemprego, a retirada de direitos trabalhistas e sociais, o desmonte do Estado, a concentração de renda, a pobreza, a violência de classe/gênero/etnia/sexual e a restrição dos espaços democráticos se agravaram. As próprias organizações populares e suas lutas estão sob ameaça de criminalização.

Em Ribeirão Preto há 45 mil pessoas morando em favelas, 3 mil morando nas ruas, a saúde e a educação públicas estão sofrendo um desmonte, o serviço público está sendo enfraquecido, a desigualdade social cresce e as demandas dos bairros são esquecidas. Ribeirão Preto vê intensificado seu caráter concentrador de renda, excludente, desumano e violento contra os mais pobres e os que vivem do trabalho.

Diante disso, mais uma vez o Fórum de Movimentos Populares se reúne. Em todas as falas nas mais de três horas de reunião o apontamento da necessidade de se construir uma alternativa popular que garanta democracia e direitos para todos. Não há outra saída diante do avanço neoliberal e sua política falida. A presença maciça de militantes do PT e do PSOL, incluindo seus Presidentes municipais, indica um início de um importante debate político: a possível formação de uma Frente de Esquerda em Ribeirão Preto, apontando para além do cenário eleitoral, apontando para a organização política real que busque plantar uma semente de reconstrução de pontes com o povo e a cidade de Ribeirão Preto.

Torço para que esta sinalização avance e se concretize em um programa correto, moderno, antenado com o que acontece no mundo, com lastro na luta real e que frutifique, pois a luta anti-neoliberal é a única saída. Não há mais espaço para a acomodação pragmática ou para a mesmice política.

Ricardo Jimenez - Blog O Calçadão

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