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segunda-feira, 2 de março de 2020

"Fora Bolsonaro" virá e vai atropelar


Em 1999 o Brasil vivia um momento decisivo. FHC acabava de ser reeleito em primeiro turno em 1998 e, logo de cara, a economia quebrou, escancarando a farsa econômica do neoliberalismo dos anos 1990.

Crise econômica, desemprego, ataque aos direitos dos servidores públicos, ameaça de privatizações de estatais do porte de um Banco do Brasil e da Petrobrás, que aliás ganhou a proposta de um novo nome, "Petrobrax".

Naquele momento, diante da fraude eleitoral de 1998, a imagem até então poderosa (capaz de aprovar tudo em um Congresso também neoliberal) e intocada de FHC começava a ruir e as vozes das ruas já se anunciavam.


Surgiam, então, dentro das forças populares, as convocações para manifestações. A "Marcha dos 100 mil" em Brasília se desenhava no horizonte. Qual a palavra de ordem? Uma parte das forças já carimbou o "Fora FHC" enquanto uma outra parte relativizou no "Basta de FHC", pois acreditava que pedir fora para FHC era flertar com um golpismo, pois não haveria motivos para um impeachment.

Vale dizer que essa tese de que o "Fora FHC" foi golpista é um argumento até hoje utilizado pelo PSDB e demais forças aliadas, como a grande mídia, por exemplo, para tentar constranger uma certa ala da esquerda.

O fato é que o "Fora FHC" atropelou tudo e se impôs. Ninguém mais se lembra do "Basta de FHC". O pragmatismo foi varrido pelo movimento das ruas. E as ruas, em 1999, ajudaram a forjar a oposição a FHC até as eleições de 2002, quando o PSDB chegou caindo pelas tabelas e perdeu a eleição para Lula.

Essa retrospectiva serve de exemplo para o nosso momento atual, onde um Presidente até então poderoso e intocável começa a ser fustigado junto com o seu projeto econômico fracassado e anti-popular. Todos os sinais mostram que as ruas começarão a rugir em breve.

E aí, o que farão as forças populares, de partidos a movimentos sociais: pedir ou não pedir "Fora Bolsonaro"?

Já há quem defenda, e já há algum tempo, diga-se, que pedir fora para Bolsonaro é flertar com a banalização do impeachment. Outros, também já há algum tempo, defendem que pedir fora para Bolsonaro é jogar água no moinho do Mourão, que seria um presidente "mais preparado" que Bolsonaro e, portanto, mais capaz de passar a agenda neoliberal em um Congresso também neoliberal e seria, também, a tomada de fato do poder pelos "militares". Outros dizem que o fora para Bolsonaro é abrir caminho para a direita tradicional, o grupo do Rodrigo Maia.

Todos esses debates são importantes, claro, mais nenhum conseguirá se impôr ao movimento das ruas, que está chegando e vai atropelar, pois não haverá presidente "preparado" ou "militares" que impedirão o agravamento da crise econômica que já está instalada.

Defender "Fora Bolsonaro' não é a mesma coisa que defender impeachment. Pode até ser, a depender da conjuntura, mas não necessariamente. Assim como o "Fora FHC", o "Fora Bolsonaro" é antes de tudo uma pauta de luta capaz de ser compreendida por quem está puto da vida com Bolsonaro. E junto vem tudo: o neoliberalismo, o desemprego, a crise, as bizarrices dele e de seu núcleo olavete etc.

Vai beneficiar o Mourão? Não, vai apenas fustigar Bolsonaro, o Presidente de fato, que está com a caneta "biki" ferrando o trabalhador e o país. O neoliberalismo não precisa do Mourão, ou de qualquer outro para passar a sua pauta, pois o neoliberalismo já está passando com Bolsonaro e é isso que precisa ser fustigado e confrontado.

E os militares? Os militares já estão ocupando esse governo, nomeados com a caneta "biki" de Bolsonaro. Não é algo futuro, é algo atual, já ocorre.

Mas essa pauta não unifica a direita "democrática"? Não, porque  ela já está unificada no projeto neoliberal tocado por Bolsonaro. Mas e a Globo, Estadão e Folha? E o Rodrigo Maia? Apenas fingem fustigar para manter espaço no barco bolsonarista e lavajatista que é o esteio do projeto neoliberal. 

Portanto, "Fora Bolsonaro" é a pauta que, hoje, dialoga com todos que já sabem que estamos sob um governo farsesco, anti-popular, anti-nacional e que só governa para determinados grupos, sejam esses grupos próximos do clã presidencial ou o grupo dos magnatas que vivem sugando e parasitando o povo brasileiro. E é a pauta que pode dialogar com cada vez mais gente.

Mas é impeachment? De novo: não necessariamente. É luta, luta real, nas ruas, para construir nas ruas a oposição que este governo merece.

Vamos todos às ruas: #8M, #14M, #18M. 

Ricardo Jimenez

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