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sábado, 19 de março de 2022

Canção do Exílio

 

#ProrrogaSTF

  

Minha terra tem estado violento
onde canta o sarrafo sobre os mais pobres.
As aves agourentas,

que por aqui gorjeiam desde 1500,
só noticiam as violências que vem de lá

e escondem as que ocorrem por cá.

 

Nossa polícia, nosso exército

nossa milícia

tem mais estrelas e expertise

para matar

Minha terra tem valas abertas

e pessoas a enterrar

 

Nossas várzeas, nossas valas

sequer têm flores sepulcrais
Nossos corpos que jazem sem vida,
nunca tiveram mais amores

sequer empatia.

 

Em  pensar, sozinho, à noite,

(a poesia não serve para porra nenhuma

não me consola

sequer consigo compartilhá-la)
preocupo-me com camaradas

me encho de Pondera

e insone constato:
Minha vala tem mais corpos amontoados
onde jazem os mortos empilhados.

 

Minha terra tem a primazia do capital,
que tal encontro aonde quer que eu vá.
Em cismar –sozinho, à noite–
preocupo-me com camaradas:
Minha terra tem valas,
onde já não cantam os enterrados.

 

Não permita Deus ou Estado que mais morram.

Refugiados em própria terra

despejados

meus camaradas emigram em direção à própria sorte

como quem segue a própria morte.


Em minha terra crescem as valas,
onde já não cantam os silenciados. 


Um comentário:

Cláudia disse...

Triste, mas verdadeira. Parece que os brasileiros não saem nunca do exílio 😥

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