À Vera Lúcia Rodela Abriata
Não existe inteligência artifical, tem sempre um humano por trás programando os eixos sintagmático e paradigmático. É preciso contra-atacar
Por Filipe Augusto Peres
Veículos comerciais de mídia jornalística têm
utilizado a IA para realizarem Análise do Discurso e, deste modo, modalizar a
opinião pública para as pautas que defendem. Para estes, o que já está ruim, precisa piorar.
Não sou especialista em Análise do Discurso, mas tenho como primeira formação o Curso de Letras. Esta matéria vai além do conteúdo. Além de mostrar que não existe discurso neutro na IA, tem sempre alguém dando o comando, o texto também tem o objetivo de desmistificar o uso da IA na batalha das ideias trazendo possibilidades à mídia alternativa de cintra-ataque.
A matéria destacou táticas de “marketing politico”.
Entre eles, citada na matéria literalmente expressões como “a criação de um
inimigo comum”.
Em suma, a mídia burguesa já utiliza a IA
para vigiar e, se possível, punir, aqueles que possam (mesmo que não o estejam fazendo) se contrapor ao seu
discurso hegemônico.
Inserido dentro da batalha das ideias, partindo
do mesmo modelo, o Blog O Calçadão alimentou o chat GPT com a estrutura da
matéria realizada pela Folha de São Paulo “vigiando” a fala de Haddad e foi
além.
Também utilizou o recente texto (este não analisado por IA) de Eliara
Santana, a qual o Blog é leitor assíduo, publicado no Viomundo, em sua coluna “Desnudando a mídia” publicada na
quarta-feira (4) com o título “PIB do Brasil cresce, JN registra, mas…” para
analisar a matéria publicada pela Folha de São Paulo, em seu editorial de
economia intitulada “Pacote foi decepcionante e anúncio, desastroso, diz banqueiro”.
O objetivo é debater junto à mídia
progressista possibilidades contra-discursivas utilizando as mesmas ferramentas.
As questões éticas e de honestidade intellectual condiciona este blogue e
qualquer veículo de comunicação a avisar o leitor quando a matéria for
elaborada por IA, como feito pela própria Folha de São Paulo. Mas O Calçadão quer ir além.
O blogue compartilha o método para que, a
partir dele, outras organizações possam fazer o mesmo. O intuito é informar,
formar e organizar.
A partir daqui, escrevo na primeira pessoa, uma vez que assino a matéria.
O início da pesquisa
Comecei minha análise inserindo três materiais na máquina: a matéria "Pacote foi decepcionante e anúncio, desastroso, diz banqueiro", publicada pela Folha de São Paulo, o texto "PIB do Brasil cresce, JN
registra, mas...", de Eliara Santana, publicado no Viomundo e a matéria,
também da FSP, “Pronunciamento de Haddad focou sucesso e competência, analisa
IA”.
O texto “ponte” foi o último. A partir
dele, levantei a análise e criei um prompt para realizar o mesmo tipo de
análise utilizando IA. Com o prompt pronto, inseri o texto crítico de Eliara e
a matéria publicada nesta quinta-feira (4), “Pacote foi decepcionante, diz
banqueiro”, para avaliar o viés presente na matéria da Folha.
Vale destacar que este processo ocorreu
porque, em uma primeira leitura, percebi que a matéria da FSP apresentou uma narrativa predominantemente negativa sobre o pacote econômico do governo federal, apoiada
exclusivamente em opiniões de banqueiros e gestores financeiros como forma de
convencer a opinião pública sobre a necessidade de se aprofundar o corte de
gastos e não ir na direção contrária.
A análise comparativa
Ao ler e comparar os textos, identifiquei alguns pontos. A matéria
da Folha apresenta uma narrativa predominantemente negativa sobre o pacote
econômico do governo federal, apoiada exclusivamente nas opiniões de banqueiros
e gestores financeiros.
Disfarçada de imparcial, a matéria
direciona toda a sua análise para a visão do Mercado e ignora os impactos
sociais que tais medidas terão sobre a população mais vulnerável. A Folha ignora completamente a pluralidade de fontes.
Em meu questionamento à máquina, direcionei-a para que percebesse de que modo o veículo de comunicação modaliza
a percepção pública por meio de termos como “desastroso” e “decepcionante” com
o claro intuito de criar um cenário de crise, de um país á beira do precipício.
A redação da matéria
Com base nessa análise, não sendo parcial, pedi a IA que escrevesse uma matéria
jornalística para criticar o viés da Folha de São Paulo., e pedi que esta fosse
dividida em:
- Introdução ao tema;
- Comparação da escolha de fontes e construção da narrativa;
- Crítica ao foco no mercado financeiro em detrimento do social;
- Conclusão ressaltando a responsabilidade da mídia em oferecer um debate
público mais plural.
A criação de ilustrações
Para complementar o texto, pedi que a IA criasse imagens que ilustrassem
visualmente o viés identificado. Desenvolvi quatro ilustrações:
1. Uma balança desproporcional, destacando o peso do mercado financeiro em
relação às questões sociais.
2. A mesma ideia, mas com o texto em português: "O Viés da Mídia na
Economia".
3. Uma representação visual do favorecimento ao mercado financeiro, com uma
torre corporativa contrastando com a vulnerabilidade social ao redor.
4. Uma nova imagem, ainda mais dramática, com o texto: "O Mercado no Topo,
o Povo na Base", está escolhida para ilustrar a matéria.
Sim, a IA tem viés. Ela não é neutra. Eu também não. Não existe inteligência artifical, tem sempre um humano por trás definindo os eixos sintagmáticos e paradigmáticos.
Segue a matéria escrita pela IA abaixo:
Uma análise do discurso utilizando IA sobre o viés da Folha
de São Paulo relacionado ao pacote de ajuste fiscal do governo federal
Nesta quinta-feira (28), em seu editorial de Economia, a Folha de São Paulo
publicou a matéria intitulada "Pacote foi decepcionante, diz
banqueiro", apresentando uma análise crítica às medidas econômicas
recém-anunciadas pelo governo federal.
A reportagem, centrada nas percepções de
banqueiros e gestores financeiros, evidencia um viés que privilegia a visão do
mercado em detrimento de uma análise mais ampla, incluindo o impacto social e
as nuances das decisões governamentais.
A escolha das fontes e a construção da
narrativa
A matéria baseia-se majoritariamente em opiniões de executivos financeiros,
como Ricardo Lacerda, do BR Partners, que descreve o pacote como "decepcionante" e o anúncio
como "desastroso".
Além dele, outros quatro banqueiros, todos
anônimos, reforçam a perspectiva de insatisfação. Essa escolha reflete um
recorte específico, limitando-se a atores do mercado financeiro que, em sua
maioria, criticam a insuficiência do ajuste fiscal e alertam para riscos de
inflação e aumento da taxa de juros.
Essa abordagem ignora outras vozes relevantes na discussão econômica. Não há
menção a especialistas independentes, economistas de universidades ou
representantes da sociedade civil que poderiam trazer pontos de vista
complementares, sobre o tema. A ausência de perspectivas variadas contribui
para consolidar uma narrativa alarmista, que projeta o fracasso das medidas sem
explorar possibilidades de sucesso ou alternativas viáveis.
O foco no mercado e a exclusão do debate
social
Enquanto o jornal ressalta potenciais riscos econômicos, como a projeção de
inflação entre 8% e 10% e a possível elevação da Selic acima de 14%, o impacto
social das medidas é tratado de forma tangencial.
A ampliação da faixa de isenção do Imposto
de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, por exemplo, é apresentada como um "erro populista", mas a
matéria não avalia os benefícios dessa medida para a classe média e baixa, que
poderia ser diretamente impactada de forma positiva.
Esse recorte reflete um viés que prioriza as demandas do mercado financeiro,
enfatizando a preocupação com o endividamento público e a pressão sobre os
juros, enquanto minimiza os potenciais efeitos sociais das políticas
anunciadas. O discurso, assim, reforça a narrativa de que o governo deveria
adotar medidas mais austeras, mesmo que isso comprometa setores vulneráveis da
população.
Modalização da crise para convencer a
opinião pública sobre a necessidade de cortes que prejudicarão os mais
vulneráveis
A reportagem, embora focada em dados econômicos, utiliza uma construção
narrativa que modaliza a percepção pública. Palavras como "desastroso", "decepcionante"
e "fracasso" são reiteradas
ao longo do texto, criando uma sensação de inevitabilidade quanto aos
prognósticos negativos, ajustando o seu discurso, como toda a mídia tradicional,
commercial, “professional”, aos ditames do mercado, negligenciando contextos
mais amplos e contraditórios.
O viés alarmista da Folha também é evidente na escolha de projeções futuras.
Apesar de um dos banqueiros afirmar que a Selic poderia se estabilizar em
13,25%, essa previsão é suprimida pela ênfase nas estimativas mais altas,
criando um cenário de incerteza ampliada.
A responsabilidade da mídia na
pluralidade do debate público
Ao abordar um tema tão complexo quanto o ajuste fiscal, a mídia deveria ter a
responsabilidade de oferecer uma cobertura equilibrada, que vá além das
demandas específicas de setores econômicos.
Embora a visão do mercado financeiro seja
relevante, ela não pode ser a única guia para interpretar políticas públicas
que afetam milhões de brasileiros.
A matéria da Folha, ao se restringir a um ponto de vista quase homogêneo, falha
em capturar a complexidade da questão. A inclusão de análises que considerassem
os impactos sociais e a perspectiva de economistas independentes poderia
enriquecer o debate público, permitindo que os leitores formassem uma opinião
mais fundamentada.
Conclusão
A reportagem "Pacote foi
decepcionante, diz banqueiro" é mais um exemplo de como o viés da
mídia pode influenciar a percepção pública, priorizando interesses de grupos
específicos e deixando de lado a pluralidade de vozes.
Para
um jornal com a tradição da Folha de São Paulo, o compromisso com uma cobertura
mais equilibrada e inclusiva é essencial, sobretudo em um momento em que a
economia e a sociedade exigem respostas amplas e integradoras.
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