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terça-feira, 10 de dezembro de 2024

IA analisa discurso de Editorial da Folha e descortina como se molda a defesa do ajuste fiscal para criar consenso

 

Em Editorial, Folha aprofunda defesa do corte de gastos
Imagem gerada por IA

Análise revela como o editorial da Folha tenta legitimar cortes de gastos como se este fosse o caminho necessário, minimizando os impactos sociais e o desastre econômico da política de Milei

O editorial publicado na segunda-feira (9) pela Folha de São Paulo, intitulada "Sacrifícios da Argentina sob Milei não podem ser em vão", apresenta uma análise do primeiro ano de governo do presidente de extrema-direita Javier Milei na Argentina.

Quase que uma torcida que se percebe já pelo título, o texto enfatiza os ajustes econômicos promovidos e minimiza seus impactos. O objetivo do jornal foi  construir uma narrativa que tentasse equilibrar a apresentação dos efeitos negativos dos cortes draconianos com a expectativa de possíveis avanços econômicos futuros de modo a defender o discurso neoliberal.

Estrutura narrativa e ênfase

O editorial até aborda os custos sociais imediatos das políticas de Milei mas destaca e potencializa os possíveis “benefícios econômicos” a médio prazo. Neste sentido, termos como "recessão", "aumento da pobreza" e "cortes draconianos", introduzidos no início, são rapidamente seguidos por menções a "queda da inflação" e "retomada da atividade econômica". 

O objetivo desta estratégia é modalizar o impacto das medidas, o aumento da miséria no governo de extrema-direita para sugerir que os cortes seriam sacrifícios atuais "necessários e justificáveis" diante das promessas de estabilidade futura.

O texto ainda reforça que os "bons princípios de gestão" devem ser consolidados para que os avanços não sejam efêmeros.

Escolha das fontes e perspectivas

A análise é predominantemente baseada em indicadores macroeconômicos, como inflação, PIB e contas públicas, além de perspectivas de especialistas ligados ao mercado financeiro. Não há espaço para as vozes das populações diretamente afetadas pelos cortes, como aposentados ou trabalhadores públicos demitidos

A escolha reforça uma narrativa que privilegia a visão técnica neoliberal e elitista, colocando o impacto social como se este fosse um efeito colateral inevitável.

Modalização e alinhamento discursivo

A linguagem utilizada no editorial é cuidadosamente modalizada para criar uma impressão de equilíbrio. A palavra "inevitável" no início do texto sinaliza que os ajustes seriam uma resposta obrigatória à "ruína produzida pelo peronismo", criando uma base de justificativa. Além disso, os cortes são descritos como "draconianos", mas "necessários", estabelecendo um tom de pragmatismo.

O alinhamento com políticas de ajuste fiscal é evidente, assim como a crítica ao governo anterior, descrito como “populismo econômico”. Há um contraste implícito entre o que seria a "irresponsabilidade" do passado e a "seriedade" das medidas atuais, criando um discurso que valida o caminho econômico adotado pelo governo de extrema-direita argentino.

Comparação com "Pacote foi decepcionante..."

Semelhante ao texto sobre o pacote econômico do governo brasileiro, este editorial também utiliza uma narrativa que se esforça para moldar a percepção pública sobre políticas econômicas.

Ambos os textos recorrem à autoridade de indicadores econômicos neoliberais e excluem vozes divergentes que poderiam trazer complexidade à discussão. No entanto, o texto sobre o Brasil reforça um tom predominantemente crítico, uma vez que este não segue completamente os ditames neoliberais exigidos pela Folha. Por outro lado, o editorial sobre Milei adota uma perspectiva mais conciliadora, destacando os ganhos futuros como se este fosse um contrapeso às dificuldades presentes.

O editorial da Folha de São Paulo sobre Javier Milei reflete uma narrativa que privilegia ajustes econômicos como a única solução técnica e necessária, minimizando, desse modo, as consequências sociais mais graves sobre os mais vulneráveis.

A ausência de pluralidade de vozes e o foco quase exclusivo nos indicadores macroeconômicos reforçam a visão de que os "sacrifícios" seriam justificáveis em nome do que seria um futuro mais promissor. 

Muito mais preocupada em criar consenso na população sobre a necessidade de ajustes fiscais draconianos, essa abordagem  exclui do debate os custos sociais e políticos das políticas de Milei.

Título é quase uma torcida do periódico à política econômica de Milei



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