Em Editorial, Folha aprofunda defesa do corte de gastos Imagem gerada por IA |
Análise revela como o editorial da Folha tenta legitimar cortes de gastos como se este fosse o caminho necessário, minimizando os impactos sociais e o desastre econômico da política de Milei
O editorial publicado na segunda-feira (9) pela Folha de São Paulo, intitulada "Sacrifícios da Argentina sob Milei não podem ser em vão", apresenta uma análise do primeiro ano de governo do presidente de extrema-direita Javier Milei na Argentina.
Quase que uma torcida que se percebe já pelo título, o texto enfatiza os ajustes econômicos promovidos e minimiza seus impactos. O objetivo do jornal foi construir uma narrativa que tentasse equilibrar a apresentação dos efeitos negativos dos cortes draconianos com a expectativa de possíveis avanços econômicos futuros de modo a defender o discurso neoliberal.
Estrutura narrativa e ênfase
O editorial até aborda os custos sociais imediatos das políticas de Milei mas destaca e potencializa os possíveis “benefícios econômicos” a médio prazo. Neste sentido, termos como "recessão", "aumento da pobreza" e "cortes draconianos", introduzidos no início, são rapidamente seguidos por menções a "queda da inflação" e "retomada da atividade econômica".
O objetivo desta estratégia é modalizar o impacto das medidas, o aumento da miséria no governo de extrema-direita para sugerir que os cortes seriam sacrifícios atuais "necessários e justificáveis" diante das promessas de estabilidade futura.
O texto ainda reforça que os "bons princípios de gestão" devem ser consolidados para que os avanços não sejam efêmeros.
Escolha das fontes e perspectivas
A análise é predominantemente baseada em indicadores macroeconômicos, como inflação, PIB e contas públicas, além de perspectivas de especialistas ligados ao mercado financeiro. Não há espaço para as vozes das populações diretamente afetadas pelos cortes, como aposentados ou trabalhadores públicos demitidos.
A escolha reforça uma narrativa que privilegia a visão técnica neoliberal e elitista, colocando o impacto social como se este fosse um efeito colateral inevitável.
Modalização e alinhamento discursivo
A linguagem utilizada no editorial é cuidadosamente modalizada para criar uma impressão de equilíbrio. A palavra "inevitável" no início do texto sinaliza que os ajustes seriam uma resposta obrigatória à "ruína produzida pelo peronismo", criando uma base de justificativa. Além disso, os cortes são descritos como "draconianos", mas "necessários", estabelecendo um tom de pragmatismo.
O alinhamento com políticas de ajuste fiscal é evidente, assim como a crítica ao governo anterior, descrito como “populismo econômico”. Há um contraste implícito entre o que seria a "irresponsabilidade" do passado e a "seriedade" das medidas atuais, criando um discurso que valida o caminho econômico adotado pelo governo de extrema-direita argentino.
Comparação com "Pacote foi decepcionante..."
Semelhante ao texto sobre o pacote econômico do governo brasileiro, este editorial também utiliza uma narrativa que se esforça para moldar a percepção pública sobre políticas econômicas.
Ambos os textos recorrem à autoridade de indicadores econômicos neoliberais e excluem vozes divergentes que poderiam trazer complexidade à discussão. No entanto, o texto sobre o Brasil reforça um tom predominantemente crítico, uma vez que este não segue completamente os ditames neoliberais exigidos pela Folha. Por outro lado, o editorial sobre Milei adota uma perspectiva mais conciliadora, destacando os ganhos futuros como se este fosse um contrapeso às dificuldades presentes.
O editorial da Folha de São Paulo sobre Javier Milei reflete uma narrativa que privilegia ajustes econômicos como a única solução técnica e necessária, minimizando, desse modo, as consequências sociais mais graves sobre os mais vulneráveis.
A ausência de pluralidade de vozes e o foco quase exclusivo nos indicadores macroeconômicos reforçam a visão de que os "sacrifícios" seriam justificáveis em nome do que seria um futuro mais promissor.
Muito mais preocupada em criar consenso na população sobre a necessidade de ajustes fiscais draconianos, essa abordagem exclui do debate os custos sociais e políticos das políticas de Milei.
Título é quase uma torcida do periódico à política econômica de Milei |
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