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domingo, 18 de dezembro de 2016

A carta de José Dirceu e os próximos 20 anos!

Odiado pelas elites, criticado dentro e fora de seu partido e respeitado e reverenciado por muitos.

José Dirceu é um lutador, um resistente, desde os tempos da ditadura implantada com o golpe de 1964.

José Dirceu é o grande inimigo das elites por ter sido, na democracia pós-64, o cérebro por trás da construção de um projeto que chegou ao poder em 2002 e que mudou a vida de milhões de pessoas.


O governo de coalizão que ajudou a montar enfrentou tentativas de golpe desde 2005, no chamado mensalão.

O uso de um sistema de caixa dois para sustentar a aliança política, baseado na histórica podridão do financiamento empresarial da política brasileira, levou Dirceu a ser taxado de "Chefe de quadrilha" pelo então juiz da moda Joaquim Barbosa.

Nascia a semente de perseguição ao PT e às suas lideranças, que desaguaria na atual Lava Jato e no golpe contra a Presidente Dilma realizado pelo 'aliado' PMDB que, para tentar 'estancar essa porra', se aliou ao PSDB, e a um devastador projeto neoliberal, contra uma Presidente legitima.

Assim, Dirceu foi preso no 'mensalão' e re-preso no 'petrolão'.

José Dirceu é um preso político, sem provas, porque a "literatura permite".

Cansado, abatido, detido em Curitiba pelo atual juiz da moda, Dirceu parecia caminhar para o fim.

Mas eis que esta semana surge uma carta, endereçada a Fernando Morais.

Dirceu conclama a João Pedro Stédile, a Guilherme Boulos e a Vágner Freitas para irem às ruas "exigir justiça para todos, a renúncia de Temer et caterva, eleições gerais, constituinte, antes que façam um acordão, como já vem sendo pensado por Gilmar Mendes, a falada “operação contenção” para salvar o tucanato e o usurpador Temer".

Dirceu está antenado, vivo.

"É hora de ação, de pressão, de ir às ruas, de exigir, liderar e apontar rumos. É agora ou nunca. Sem conciliações e acordos, é hora de um programa de mudanças radicais, na política e na economia".

"Temos ainda 20 longos anos de luta pela frente".

Essa foi a frase que mais me chamou a atenção na carta de José Dirceu a Fernando Morais.

Alguns amigos me disseram que ele se referia ao tempo de vida restante a ele e a Morais.

Pode ser.

Mas pode ser que Dirceu se referisse ao tempo que será necessário para se colocar de pé novamente um projeto nacional e popular no Brasil, que gere desenvolvimento tecnológico, econômico, emprego, renda e inclusão social, ou seja , uma nova experiência exitosa como foram os últimos 13 anos.

Talvez Dirceu tenha razão.

Após a experiência exitosa do Trabalhismo de Vargas e Jango (e do comandante Brizola no Rio de Janeiro), interrompido violentamente em 1954 e 1964 (e pela globo em 1994), levamos 24 anos para termos uma nova constituição e 38 anos para que uma nova força popular chegasse ao poder, com Lula e o PT em 2002.

Talvez Dirceu tenha a exata noção da dimensão do golpe que hora está em marcha no Brasil e do tamanho do retrocesso imposto a toque de caixa pela coalizão PMDB/PSDB/Globo nas estruturas do Estado brasileiro e nas garantias legais do trabalhador.

O ataque frontal à Previdência, na CLT, na Petrobrás e na capacidade de induzir o crescimento através dos orçamentos públicos e dos investimentos.

O golpismo tem transformado rapidamente o Brasil em um país sem dentes, sem garras, voltando a ser um anão econômico e político. Um simples pagador de juros ao capital rentista à custa do trabalho do povo.

Os avanços em distribuição de renda e igualdade social alcançados nesses 13 anos estão se perdendo dia a dia.

E a principal força política de resistência popular, o PT, encontra-se combalida e, junto dela, todo o conjunto da esquerda e das forças progressistas.

PMDB, PSDB e as forças do 'Centrão' dominam hoje o cenário político-eleitoral e ameaçam inclusive restabelecer com toda a força o financiamento empresarial de campanhas, raiz maior da corrupção no Brasil.

Por isso, Dirceu, em sua carta, apela aos movimentos sociais, em última instância, às novas formas de lutas e de resistência popular. À unidade!

Nesse próximo ciclo de lutas que se vislumbra, novas formas de organização são necessárias para trazer aos lutadores populares o entusiasmo. É preciso aglutinar forças dentro de fora dos partidos, dentro e fora dos movimentos sociais.

Hoje, como no passado Trabalhista, Lula e Dilma mostraram, embora com enormes insuficiências e vacilações, que é possível construir um Brasil soberano, grande e inclusivo, que é possível ir além do que manda as forças do tal 'mercado'.

O projeto nacional de desenvolvimento pertence historicamente ao povo brasileiro e a elite odiosa pode, no máximo, adiá-lo, sabotá-lo, nunca eliminá-lo.

Porém, fundamentalmente, é preciso construir novos centros de força política, alianças programáticas que não necessitem dividir nacos de poder com estruturas políticas corruptas e coronelistas e nem buscar financiamento eleitoral em troca de interesses empresariais.

O PT, como a maior força política de esquerda do Brasil, precisa estar antenado a isso. Estar aberto a esses novos núcleos de resistência e militância popular, se reaproximar dos movimentos sociais e da universidade e se unir a essas forças vivas sem hegemonismo, mas com parceria.

Se reorganizar e entusiasmar as centenas de milhares de militantes, íntegros e combativos, e se abrir ao novo e às contribuições externas.

Há um contingente gigantesco de força humana progressista e de esquerda, a grande maioria jovem, fora dos partidos e que precisa perder o receio de se aproximar e dialogar, sem a obrigação de se filiar mas com a necessidade de somar força, militar junto em causas populares e intelectuais.

Principalmente em causas que contestem o modelo único imposto pelas forças do financismo rentista e por uma mídia hegemônica.

Contestar o sistema é a tônica mundial.

O PT e demais partidos de esquerda precisam se abrir à juventude, construir núcleos de organização política em bairros, locais de trabalho, escolas mas também criar novas formas de organização que contemple os novos nichos e conceitos produtivos e a grande diversidade de luta das minorias e populações periféricas.

O PT é um partido exitoso não só por ter construído uma possibilidade de se chegar ao poder central, mas pelo histórico e suas administrações em nível municipal e Estadual e por seu incontestável enraizamento social.

Dos grandes em momentos difíceis se exige compreensão, amplitude, reorganização e generosidade.

Uma nova força capaz de acessar o poder não será construída por um partido, mas pela unidade de amplas forças tendo o projeto nacional e os direitos do povo trabalhador como norte.

Por fim, Dirceu encerra a carta com "Delenda Rede Globo".

Ah, Dirceu, se você pensasse assim em 2002 as coisas podiam ter sido um pouco diferentes...

Ricardo Jimenez

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