Páginas

quinta-feira, 15 de julho de 2021

Nova pesquisa aponta relação entre destruição da biodiversidade, modelo de agricultura e disseminação de doenças

Desmatamento na Amazônia.
Foto: Marizilda Cruppe/Amazon Watch/Amazônia Real


Estudo de pesquisadores do projeto Trajetórias, do Centro de Síntese em Biodiversidade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), intitulado Epidemiology, Biodiversity, and Technological Trajectories in the Brazilian Amazon: From Malaria to COVID-19, publicado nesta terça-feira (13/7) na revista Frontiers in Public Health, aponta que a disseminação doenças na Amazônia está diretamente ligada à trajetória de desenvolvimento agrícola dos municípios e à perda de biodiversidade. O estudo serviu para abrir horizontes para monitorar o potencial avanço de doenças nos municípios amazônicos e inovou ao trazer uma abordagem sistêmica na qual as perspectivas epidemiológicas, econômicas e ambientais são consideradas em conjunto. 

 

O estudo mostra que determinado tipo de doença prevalece de acordo com o modelo de agricultura dos municípios e a perda da biodiversidade, com destaque para a Malária, que prevalece em metade do território amazônico, devido ao perfil agroextrativista dos municípios com cobertura florestal. Em municípios de crescimento urbano recente, a dengue e a chikungunya ocorrem com mais frequência. como no limite sul da Amazônia em transição para o Cerrado. Responsável pelas maiores taxas de desmatamento e perda de biodiversidade, os municípios com grandes rebanhos, a pesquisa mostra que estes municípios sofrem a leishmaniose cutânea. Relacionada com o tráfego de pessoas, a Covid-19 se espalhou com facilidade em todos municípios.

Os pesquisadores procuraram integrar abordagens da economia, epidemiologia e de biodiversidade, e descobriram duas perspectivas principais de se relacionar com a terra e que se subdividem: trajetórias tecnoprodutivas e trajetórias agroextrativista.

 

Trajetórias tecnoprodutivas 

 

Os estudiosos afirmam que estas práticas se enquadram no modelo agropecuário. Promotor de grande perda da cobertura florestal, homogeneizador da paisagem, a investigação, associado à intensa mudança da paisagem, homogeneizador e promotor de grande perda da cobertura florestal. A criação de gado e plantio de grãos tem associação com altas taxas de desmatamento e tem se tornado trajetórias dominantes nos últimos anos.


A criação de gado  tem associação com altas de desmatamento.
Foto: Agência Pará

A investigação constata que esta trajetória é orientada pelo lucro e tem como centro a eficiência do capital

 

Trajetórias agroextativistas

 

O segundo conjunto de trajetórias é relacionado ao modelo agroextrativista que se apoia no acúmulo de conhecimento local e na histórica adaptação ao bioma, descrevendo sua realidade rural a partir de referências históricas e de ocupação da terra. 

 

As trajetórias agroextrativistas são dominantes em metade do território Amazônico e estão concentradas em áreas cobertas por floresta contínua, nas quais a malária é uma doença importante e causa de grande mortalidade.

 

O Covid-19

 

A investigação mostra que a Covid-19 começou nas cidades e se espalhou pelas comunidades rurais, ribeirinhas e que vivem nas florestas devido ao percurso que aconteceu pela cadeia de contatos que envolveu os profissionais de saúde e assistentes sociais que andam entre as regiões. Outro fator de disseminação da doença se deu pelos moradores que saíram das grandes cidades rumo às áreas mais distantes.

A pesquisa também mostra que a pandemia de coronavúrus foi acentuada pela desigualdade de acesso a serviços básicos de saúde e de bens e serviços que assola a região.

 

A pesquisa foi realizada pela equipe do projeto Trajetórias, vinculado ao Centro de Síntese em Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (SinBiose) do CNPq e conta com pesquisadores cientistas sociais, naturais, da computação, da saúde e economia. Neste estudo colaboraram pesquisadores da Fiocruz, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal do Pará (UFPA), Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), Universidade do Acre (Ufac), Serviço Florestal Brasileiro (SFB) e Fundação Getúlio Vargas (FGV).

 

Fonte: Centro de Síntese em Biodiversidade e Serviços/FioCruz

Edição: Filipe Augusto Peres

 

 


Nenhum comentário:

Duda Hidalgo denuncia aumento da violência policial de Tarcísio e é atacada por bolsonaristas em sessão da câmara

  Com a intenção de fazer o debate sobre números e estatísticas, Duda foi à Tribuna na sessão desta terça (16/04) discutir um requerimento q...