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terça-feira, 14 de dezembro de 2021

Moro num país imparcial? Por Matheus Arcaro

 



Quando Sérgio Moro aceitou ser ministro da Justiça, Bolsonaro já tinha feito inúmeras declarações fascistas como, por exemplo, em pleno congresso, exaltar um ditador que enfiava ratos vivos nas vaginas das mulheres. Bolsonaro já tinha dito que nada entendia de economia, já tinha sido um deputado medíocre por 28 anos com 2 projetos aprovados. Moro foi um instrumento fundamental na construção da falsa imagem de honestidade de Bolsonaro, mesmo com vários indícios de corrupção dele (enquanto era parlamentar) e dos filhos. Ah, é bom ressaltar que, segundo declaração do vice-presidente Hamilton Mourão, Sérgio Moro negociou o super ministério da Justiça ainda no período eleitoral.

Enquanto juiz, Moro condenou sem provas substanciais (sustentando sua peça jurídica sobretudo em delações) o maior líder da esquerda que, pelas pesquisas, ganharia a eleição em primeiro turno. Condenou pela reforma da cozinha de um apartamento no Guarujá. Tal condenação foi anulada dois anos depois pelo Supremo Tribunal Federal porque Moro foi considerado parcial. Em contrapartida, o então juiz absolveu, por "falta de provas", a esposa de Eduardo Cunha, Claudia Cruz, que possuía contas no exterior alimentadas com dinheiro sujo do marido.

Antes disso, vale lembrar, Sérgio Moro contribui ativamente - leia-se politicamente - para o impeachment de Dilma Rousseff, "vazando" de modo ilegal áudios da Presidente da República, atitude que fere gravemente a Constituição. E, se não bastasse, autorizou a condução coercitiva de um ex-presidente sem qualquer necessidade empírica, já que Lula não se recusara a depor (aliás, meses depois, o STF proibiu a condução coercitiva).

Moro vazou, novamente de modo ilegal, parte da delação de Palocci há uma semana do pleito eleitoral de 2018. Delação, aliás, que já estava em poder do judiciário havia meses e que não trouxe qualquer prova, mas foi amplamente divulgada na mídia, ou seja, juiz fazendo política de novo.  

Sérgio Moro declarou, em 2016, ao Estadão, que jamais entraria para a política e repetiu no início de 2018, ao Globo, que juiz na política daria muita confusão. Palavras vazias, claro. Porque desde o início da Lava-Jato, o juiz fazia política protegido pela toga. Agora, faz às claras, com a anuência da imprensa hegemônica.

A bandeira de combate à corrupção ficou a meio mastro enquanto Moro foi Ministro da Justiça de Bolsonaro. Fez “vista grossa” para as denúncias de corrupção envolvendo o próprio presidente e seus filhos. Outro ponto: em 2017, Moro declarou com veemência que Caixa 2 era pior que corrupção. E, enquanto membro do governo, “passou pano” para Onyx Lorenzoni, que admitiu ter recebido Caixa 2 da JBS.

O Moro candidato parece esquecer que o Moro ministro estava presente na célebre reunião de abril de 2020, que foi “vazada” à imprensa. Foi nesta reunião que o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, avisou que “passaria a boiada” por cima das leis ambientais. O resultado está aí: Amazônia queimando, massacres indígenas, mineração e extração de madeira ilegal correndo à solta... Foi também nessa reunião que Moro ouviu Paulo Guedes menosprezar os funcionários públicos e fazer piada sobre o “vírus chinês”. Aliás, esta era uma reunião cujo intuito era debater as diretrizes de combate à epidemia. Nada disso foi feito, nem ali nem nos meses seguintes. E Moro foi conivente. Não se posicionou sobre as declarações estapafúrdias do seu presidente (por exemplo: “é só uma gripezinha”, “quem tem histórico de atleta, não vai ter sintomas graves”). Ou em relação aos tratamentos ineficientes. Ou em relação ao desestimulo da população à vacinação. Ou em relação às aglomerações promovidas por Bolsonaro. Moro continuou impassível, até que percebeu que o barco estava mesmo afundando. Aí, para tentar salvar sua biografia para as eleições de 2022, saltou fora.

Em resumo, Moro é um dos maiores responsáveis pelo caos em que estamos enfiados. Agora, enquanto candidato, tenta recuperar a imagem de herói nacional. De modo geral, a grande mídia está comprando seu discurso. Porém, creio que o povo não cairá tão facilmente. Pois, como disse acertadamente Rosângela Moro, a "conja", Bolsonaro e Moro são uma coisa só.

3 comentários:

Unknown disse...

Todos estes fatos devem estar presentes diariamente nas cabeças dos democratas, dos anti-fascistas. Parabéns, Matheus, pelos textos teus!

Anônimo disse...

Tudo isso já sabemos, a mídia independente divulgou faz tempo

Matheus Arcaro disse...

Meu intuito não é "fazer revelações", mas organizar os fatos e fazer uma análise.

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