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domingo, 2 de maio de 2021

Bolsonaro joga na defensiva e assusta parte da esquerda

 

Bolsonarismo colocou tudo o que tem na rua ontem para sinalizar aos militares e à direita mas assustou parte da esquerda

Ou nós entendemos o jogo ou ficaremos a reboque das coisas. Ontem o bolsonarismo organizou uma manifestação para sinalizar para dentro mas assustou uma parte da militância de esquerda que parece acreditar que o bolsonarismo vai desaparecer como um milagre.

O bolsonarismo é fruto dos nossos tempos, externa e internamente. Grupos fanáticos de extrema direita cresceram no mundo todo nos últimos dez anos como resultado da crise do capitalismo. Por aqui, esse fenômeno se somou ao processo de criminalização da política promovido pelo golpe de 2016 cujo herdeiro foi Bolsonaro.

O bolsonarismo tem base social, isso é um fato. E uma base fanática capaz de se expôr a um vírus mortal obedecendo ao comando do líder.

Uma base que está se reduzindo, é menor a cada ano, mas ainda tem número suficiente para dar um recado para dentro, ou seja, mostrar aos militares insatisfeitos, que já sonham com Mourão, e aos aliados do centrão, que se movimentam na CPI, que um impeachment não será aceito pacificamente.

Mas o recado interno também atingiu setores da esquerda, que se surpreenderam com a capacidade do bolsonarismo colocar gente na rua na pandemia. Alguns, inclusive, se lamentaram da esquerda não ter feito o mesmo.

A falta de diálogo amplo no campo popular e de esquerda, resultado da derrota de 2016, gera uma confusão de posicionamentos e de narrativas. Muitos parecem acreditar na superação do bolsonarismo e da derrota de 2016 por caminhos naturais. Basta Lula e tudo se ajeitar.

Não será assim. Os acontecimentos de 2016 foram alicerçados em um acordo das elites para aprofundar o projeto neoliberal e acabar com os direitos sociais em nome do rentismo. Isso foi construído fomentando um movimento de extrema direita e a criminalização da política que, em 2018, fluiu para Bolsonaro.

Esse casamento costurado por cima, envolvendo a maioria dos generais, apesar das contradições internas, não abrirá mão do seu arranjo. 

Se a pandemia sob Bolsonaro é uma tragédia que assusta parte do golpismo a ponto de permitir uma justa reabilitação de Lula, um retorno a um projeto de base popular é impensável.

Sabedor disto e da ausência de nomes na direita de sapatênis, Bolsonaro dá seu recado interno: eu estou aqui e tenho gente para fazer barulho.

Qual o caminho do campo popular e de esquerda? Ficar com medo ou desanimado é que não é. Há hoje muito mais espaço de luta e aglutinação de forças do que há dois anos e isso não é pouco. O fator Lula é fundamental mas ainda é preciso uma construção mais sólida, enraizada, ampla dentro de um projeto de transformação.

O jogo está sendo jogado e o ano de 2021 será decisivo. Sem desânimo e sem cantar vitória, apenas o otimismo realista.

Em frente.

Blog O Calçadão


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