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terça-feira, 15 de junho de 2021

Guerra Híbrida? Cientistas do sono e do sonho alertam Comissão Federal de Comércio dos EUA contra experimentos que visam influenciar sonhos e comportamentos.

 

Imagem do vídeo/experimento de 90 segundos da cerveja Coors exibido a 18 pessoas logo antes de dormir seguindo as intruções da pesquisadora Deirdre Barrett, de Harvard

Empresas como a Microsoft já desenvolvem projetos de incubação de sonhos

De acordo com artigo publicado esta semana na revista Science, marcas de Xbox, a Coors e Burger King se uniram cientistas para testarem, por meio de clipes de áudio e vídeo, anúncios de "Engenheiro" em sonhos de consumidores utilizados. Esta semana, um grupo de 40 pesquisadores dos sonhos recuou em uma carta online pedindo a regulamentação da manipulação de sonhos comerciais.

"A publicidade de incubação de sonhos não é um truque divertido, mas uma ladeira escorregadia com consequências reais", escrevem no site op-ed EOS. "Nossos sonhos não podem se tornar apenas mais um playground para anunciantes corporativos."

O artigo lembra que a busca para moldar as visões noturnas remontam a tempos antigos, que não é de hoje que as pessoas usam imagens, sons ou outras pistas sensoriais para moldar suas visões noturnas. Pessoas de todo o mundo antigo já utilizavam rituais e técnicas para mudar intencionalmente o conteúdo de seus sonhos, mediante oração, pintura, uso de drogas e meditação. Entretanto, com o desenvolvimento da ciência moderna, com a possibilidade de identificação no estágio do sono onde a maior parte do sonho ocorre (REM) monitorando ondas cerebrais, movimentos oculares e até roncos, hoje sabe-se que estímulos externos como sons cheiros, luzes e fala podem alterar o conteúdo dos sonhos.

Em 2021, os pesquisadores se comunicaram diretamente com sonhadores lúcidos — pessoas que estão cientes enquanto sonham — fazendo com que respondam a questões e resolvam problemas matemáticos enquanto dormiam.

"As pessoas são particularmente vulneráveis [à sugestão] quando dormem", diz Adam Haar, cientista cognitivo e doutorando no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, coautor da carta.

Haar inventou uma luva que rastreia padrões de sono e direciona seus usuários a sonhar com assuntos específicos tocando pistas de áudio quando a pessoa chega a uma fase de sono suscetível. Ele afirma que foi contatado por três empresas nos últimos dois anos, inclusive pela Microsoft. As duas outras companhias são aéreas. Elas desejam sua ajuda em projetos de incubação de sonhos. Ele ajudou com um projeto relacionado ao jogo, mas diz que não se sentia confortável em participar de campanhas publicitárias.

A Science lembra o trabalho da pesquisadora de sonhos da Universidade de Harvard, Deirdre Barrett. Recorda que a estudiosa também atraiu a atenção corporativa em um estudo de 1993 quando 66 estudantes de seus estudantes universitários participaram de uma aula sobre sonhos onde selecionaram um problema de relevância pessoal ou acadêmica, escreveram e pensaram sobre ele todas as noites por pelo menos uma semana antes de dormir. No fim do estudo, quase metade afirmou ter sonhos relacionados ao problema. Outro trabalho parecido, publicado em 2000 na própria Science, e lembrado pela revista, remete a neurocientistas de Harvard que pediram às pessoas para jogar várias horas do jogo de computador Tetris por 3 dias. Neste estudo descobriu-se que pouco mais de 60% dos jogadores disseram ter sonhos com o jogo.

O artigo lembra que em 2021, Barrett prestou consultoria a Molson Coors Beverage Company para uma campanha publicitária online que ocorreu durante o Super Bowl. Seguindo suas instruções da pesquisadora, Coors, 18 pessoas (12 delas atores pagos) assistiram a um vídeo de 90 segundos com cachoeiras fluindo, ar fresco da montanha e cerveja Coors logo antes de dormir. De acordo com um vídeo do YouTube documentando o esforço, quando os participantes acordaram do sono REM, cinco relataram sonhar com cerveja Coors ou seltzer. (O resultado permanece inédito.)

Barrett disse à Science que não considera a intervenção uma verdadeira "experiência", e ela reconheceu em um post recente no blog que o anúncio da empresa usou terminologia científica "com tons [de] experimentação de controle da mente", contra seu conselho.

Antonio Zadra, pesquisador dos sonhos da Universidade de Montreal que assinou a declaração alerta para o perigo da incubação de sonhos.

"Podemos ver as ondas formando um tsunami que virá, mas a maioria das pessoas está apenas dormindo em uma praia sem saber", diz ele.

O neurocientista de Harvard Robert Stickgold, que comandou o estudo de Tetris, é ainda mais enfático: "Eles estão vindo para seus sonhos, e a maioria das pessoas nem sabe que pode fazê-lo."

Os escritores de cartas afirma que, como não há regulamentações especificamente para lidar com publicidade em sonhos, as empresas podem um dia usar alto-falantes inteligentes como a Alexa para detectar os estágios de sono das pessoas e reproduzir sons que possam influenciar seus sonhos e comportamentos.

"É fácil imaginar um mundo em que alto-falantes inteligentes — 40 milhões de americanos atualmente os têm em seus quartos — se tornem instrumentos de publicidade passiva e inconsciente da noite para o dia, com ou sem nossa permissão", diz a carta, que os escritores enviaram à senadora americana Elizabeth Warren (D-MA).

Leia a carta na íntegra:



Cena do filme distópico "Inception", de Christopher Nolan, citado pelos pesquisadores na carta.



Saiba mais nestes links:

Are advertisers coming for your dreams?














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